Tesla (TSLA) vs. Li Auto (LI): quem ganha a corrida dos carros elétricos?

Na batalha global pela hegemonia dos carros elétricos, veja qual é a melhor empresa para investir.

Henrique Vasconcellos 18/11/2023 08:00 10 min Atualizado em: 04/01/2024 11:35
Tesla (TSLA) vs. Li Auto (LI): quem ganha a corrida dos carros elétricos?

Amigos, pero no mucho

Tivemos, nesta semana, o tão esperado encontro entre Xi Jinping e Joe Biden, os dois líderes das maiores potências econômicas do mundo em São Francisco. Não havia muitas expectativas para o encontro, consequentemente, o saldo acabou sendo positivo. 

O principal ponto discutido entre ambos foi para estreitar as relações com os conflitos militares, especialmente na região de Taiwan, que parece ter tido bons avanços.

Outro ponto fundamental foi que ambos os lados reiteraram a importância da manutenção de suas colaborações econômicas, mesmo sendo competidores. Não há como fugir dessa relação comercial. Ambos dependem um do outro, mesmo que cada vez mais tentem depender menos. 

Nessa busca por menor dependência, existem diversas pequenas batalhas econômicas sendo travadas. A mais famosa delas é a hegemonia na indústria dos semicondutores. 

Onde hoje a tecnologia de ponta e a distribuição são controladas pelos EUA (mesmo que com outros componentes e agentes em diversos países, como Holanda e Taiwan), dificilmente a China terá a capacidade de fazer frente às grandes empresas americanas nos próximos anos (falo mais sobre essa indústria neste artigo: acesse aqui)

No entanto, em uma dessas várias batalhas, a China já pode estar à frente na batalha pela hegemonia dos veículos elétricos (EVs). 

 Ilustração veículo elétrico.
 Fonte: Adobe

Apesar da popularidade recente, os carros elétricos não são nenhuma novidade. No começo do século XX, os carros elétricos eram bem comuns e chegaram a representar 30% da frota de carros nos EUA. No entanto, com a chegada do Ford Model T e uma produção industrial eficiente para os modelos a combustão, os carros elétricos acabaram perdendo sua popularidade. 

Contudo, com a ascensão meteórica da Tesla e de alguns outros modelos elétricos ou híbridos, essa categoria voltou a se popularizar. Não apenas vem se popularizando, como também vem mudando o foco das grandes montadoras. 

Além da óbvia, mas longe de inquestionável, narrativa ambiental, os EVs são interessantes para as montadoras pela simplicidade para a sua produção. Enquanto um motor a combustão requer em média 2000 peças (sendo que na ausência de uma, ele não serve), o motor elétrico requer em média 20 peças. 

Motor a combustão versus motor elétrico.
 Fonte: Monceau Automobiles

A menor complexidade na montagem torna os EVs muito mais interessantes e competitivos para as montadoras. O gargalo dessa indústria está na capacidade das baterias, que vêm avançando em ritmo mais lento, no aguardo de uma disrupção por meio de baterias de estado sólido (o que aumentaria muito a capacidade atual). 

Foi graças a essa menor complexidade na montagem desses carros que a China se viu perfeitamente capaz de competir com as grandes potências mundiais na indústria automobilística. As empresas chinesas levariam anos para replicar os processos, as cadeias logísticas e a experiência de empresas americanas e europeias na montagem de carros a combustão, porém as montadoras do país conseguiram dar um salto e pular direto para o elétrico, fazendo de suas marcas algumas das mais competitivas e atraentes do mundo.  

Como as paleterias mexicanas, as empresas de carros elétricos estão brotando por todos os lados (especialmente na China). Ninguém quer perder a oportunidade de participar dessa transformação no mercado automóveis. Mas será que vale a pena investir em alguma delas agora? 

O mercado de EVs

O mercado de carros elétricos (EVs) vem crescendo com muita robustez. Até setembro deste ano, as vendas de  EVs cresceram +78% na América do Norte, enquanto na Europa o crescimento foi de +26% e, no maior mercado do mundo, a China, o crescimento foi de +29% na comparação com o ano passado.  

De acordo com o BCG, até 2030 é esperado que os EVs, em suas variadas formas, devem responder por mais de 50% das vendas anuais. 

Venda global de carros por tipo de sistema de propulsão, sendo diesel, elétrico ou gasolina.
Fonte: BCG, Elaboração Nord

Sem dúvidas, grande parte do crescimento atual é fruto de subsídios que os governos vêm dando para as montadoras e também para os consumidores. Independentemente de gostarmos ou não, as pessoas com a caneta na mão querem que as frotas de veículos sejam cada vez mais voltadas ao elétrico. 

Além dos subsídios, que ajudam no bolso do consumidor, a menor complexidade para se montar o motor do carro dá espaço para que as empresas adicionem aplicações nos carros que antes só seriam viáveis em carros de luxo. Isso acaba atraindo um consumidor que busca um carro com um preço “amigo”, mas com uma cara de luxuoso. 

Como vimos no gráfico acima, não existe apenas um tipo de carro elétrico. Eles possuem algumas diferenças com base no tipo de sistema de propulsão que utilizam. Os dois tipos mais populares são o BEVs, ou Battery Electric Vehicles, e os PHEV, plug-in hybrid electric vehicles.

Quando olhamos para as vendas de EV no mundo, no primeiro semestre deste ano vemos alguns nomes familiares como VW, Stellantis, GM e Hyundai e outras conhecidas por seus carros a combustão. As duas maiores são justamente as empresas que simbolizam a competição EUA e China no setor: Tesla e BYD. 

Venda global de carros elétricos por montadora.
 Fonte: EV-Volumes

Ambas as empresas dominam o mercado de EVs no mundo, sendo que, de forma surpreendente para muitos, a BYD já supera a Tesla como a maior vendedora de carros elétricos.

Contudo, como podem ver, elas não estão sozinhas e existem diversas montadoras start-ups surgindo e fazendo nome, como Geely, Polestar (parceria da Volco com a Geely), NIO, Xpeng, e a nossa favorita, Li Auto. 

Li Auto: Inovando com crescimento

Assim como a BYD, a Li é uma empresa chinesa que produz carros elétricos. Hoje, a companhia conta com quatro modelos (sendo que o 4º foi lançado no dia 17/11/2023), mas ela se diferencia da Tesla e da BYD justamente por ter um sistema diferente. 

Apesar do mais novo modelo, o Li Mega, ser o primeiro veículo totalmente BEV da empresa, eles cresceram por introduzirem um modelo diferente na categoria híbrida (PHEV), os EREV – Extended Range Electric Vehicles. Esse modelo faz uso de uma mistura das tecnologias, contando com um motor a combustão (internal combustion engine) alimentado por gasolina e dois motores elétricos ligados a uma bateria. 

Com essa tecnologia, os três primeiros modelos da empresa possuem uma autonomia de até 800 km, o que soluciona, para o consumidor, o problema da distância percorrida junto à falta de infraestrutura para o carregamento de veículos exclusivamente movidos a baterias elétricas. 

Esse diferencial vem pesando positivamente para o crescimento das vendas da empresa e para um relevante ganho de market share.

Crescimento trimestral das vendas da Li Auto.
  Fonte: Li Auto

A empresa vem crescendo suas vendas a passos largos. No 3T23, venderam pela primeira vez mais de 100 mil unidades na China. Um crescimento de 21,5% na comparação com o 2T23 e um crescimento de 300% na comparação com o mesmo período do ano passado. 

O consumidor chinês também vem reconhecendo (com seu bolso) a qualidade da empresa. Em outubro deste ano, a empresa vendeu mais carros na China do que a gigantesca Tesla, e isso não passou despercebido.

Como a notícia acima menciona nos “key points”, a empresa não espera que o crescimento diminua tão cedo; ela espera uma média de vendas de 42 mil unidades por mês para o 4T23, o que resultaria em aproximadamente 120 mil unidades vendidas. 

Esse grande crescimento de unidades vendidas tem se refletido nos resultados da companhia, especialmente em seu crescimento de receitas. 

Receitas de Li Auto em bilhões de dólares.
Fonte: Li Auto & Elaboração Nord Research

Além do bom crescimento, a empresa passa por um ponto de inflexão na sua história. Pela primeira vez, acumulou 12 meses de lucro e, como podemos ver no gráfico abaixo, os efeitos positivos do ganho de escala já passam a se tornar melhora de margem. 

Lucro líquido e margem líquida de Li Auto.
Fonte: Li Auto, elaboração Nord Research

Sem dúvidas, a empresa vem melhorando bastante seus números e resultados, mas quem vive de passado é museu. O que mais importa para os investimentos são as expectativas futuras.

Olhando para as projeções que o mercado tem para a companhia nos próximos anos, temos:

Projeções de mercado para Li Auto.
Fonte: Bloomberg

Mesmo negociando atualmente a múltiplos relativamente altos, 42x lucro, com o crescimento que a empresa deve vir a entregar em 2025, os múltiplos não seriam tão altos. 

A expectativa é que a empresa cresça suas receitas em um ritmo médio de +53% ao ano até 2025, chegando a US$ 36 bilhões de receitas.

Já para o lucro, o mercado espera um ritmo de crescimento de +70%, chegando a US$ 2,9 bilhões, entretanto, o mercado vê a margem líquida para a empresa ainda abaixo da que ela vem entregando nos últimos dois trimestres. 

A grande questão é se é possível atingir essas projeções, e a resposta é sim.

Para a Li Auto atingir uma receita líquida de US$ 36 bilhões, ela teria que vender aproximadamente 800 mil veículos no ano, levando em consideração o atual preço médio de seus veículos. No 3T23, vendeu pouco mais de 100 mil carros. Anualizando esse número, a companhia já tem meio caminho andado. 

A empresa está investindo em uma nova fábrica e ainda pode aumentar o número de turnos que suas fábricas atuais operam. Levando em consideração o ritmo em que está ganhando market share, não nos parece impossível que eles atinjam esses números ao longo dos próximos anos. 

Não estamos falando de uma empresa que precisa dominar o mercado chinês, apenas vender o que equivale a um trimestre da BYD atualmente (sem levar em consideração o crescimento desta). 

Por que a Li, e não outras?

Ações de Li nos últimos 12 meses.
Fonte: Bloomberg.

Apesar de o mercado já ter precificado boa parte do crescimento da Li em seus preços nos últimos meses,com a ação subindo mais de +100%, a empresa segue entregando aquilo que se propõe a entregar. 

Olhando para as outras empresas do setor, temos diversos tipos de players e nenhum que seja exatamente igual a Li. 

No entanto, quando comparamos alguns competidores, vemos:

Múltiplos projetados.
Fonte: Bloomberg.

A empresa negocia em uma faixa média de múltiplos comparando com os pares. 

Enquanto BYD e GMW negociam a múltiplos mais baixos, que podem parecer atrativos, elas possuem outras linhas de negócio para além de carros elétricos, o que acaba puxando tanto o crescimento quanto os múltiplos para baixo. 

De qualquer modo, BYD é um caso bastante interessante, que estamos sempre monitorando. 

Já a Tesla, possui múltiplos extremamente altos; além de uma montadora, ela é vista como uma empresa de softwares e nos parece que o mercado paga muito caro para uma companhia que deve crescer pouco mais de +20% nos próximos anos. 

Por fim, temos a Nio e a Xpeng, que são empresas menores e mais novas, assim como a Li. Todavia, como podemos ver, ambas darão prejuízos até 2025. O mercado espera que eles comecem a entregar lucros apenas em 2026, portanto nos parecem apostas muito arriscadas. 

Na nossa visão, no Nord Global, a Li Auto tem uma combinação de crescimento, preços e visibilidade que a faz ser a nossa favorita para surfar o boom dos carros elétricos. Sem contar com a possibilidade de uma expansão futura para além das fronteiras chinesas. Isso fica como uma opcionalidade mais otimista para o futuro. 

No Nord Global, temos a flexibilidade para investir em empresas no mundo inteiro. Empresas globais, que já fazem parte do nosso dia a dia, ou que poderão ditar as novas tendências do mundo. Procuramos as melhores empresas do mundo, tanto no quesito qualidade de seus negócios quanto no aspecto de potencial retorno. 

Se você gostaria de expandir as fronteiras do seu horizonte de investimento e ter acesso a uma carteira com oportunidades além do que temos no Brasil, junte-se a nós. Estamos apenas começando.

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