EUA x China: veja como investir com guerra comercial em foco

China retalia (de novo) e anuncia tarifas de 84% sobre os EUA; UE também aprovou medidas

Nord Research 11/04/2025 10:22 11 min
EUA x China: veja como investir com guerra comercial em foco

A guerra comercial entre Estados Unidos e China ganhou um novo capítulo. Depois que os EUA anunciaram tarifas de até 104% sobre produtos chineses, principalmente aço e alumínio, o governo chinês respondeu com força nesta quarta-feira, 9: tarifas de até 84% sobre produtos americanos.

Em resposta direta às ações da China, Trump elevou as tarifas sobre produtos chineses para 125%. O republicano justificou essa medida alegando uma "falta de respeito" por parte da China nas relações comerciais e destacou que, enquanto outros países buscaram negociações, a China optou por confrontos, exigindo uma resposta mais agressiva dos EUA.

Além disso, Trump anunciou uma pausa de 90 dias nas tarifas para outros países que não retaliaram contra as políticas comerciais dos EUA, mantendo, contudo, a elevação significativa das tarifas especificamente para a China. ​

O que são tarifas?

As tarifas são impostos cobrados sobre produtos estrangeiros importados por um país, o que significa que empresas nos EUA devem pagar uma taxa ao governo americano ao adquirir mercadorias fabricadas no exterior.

Tarifas de Trump: entenda os principais episódios

As primeiras tarifas de Trump começaram em 30 de janeiro de 2025, quando o republicano confirmou a imposição de taxas de 25% sobre produtos do México e do Canadá, além de um aumento de 10% nas tarifas sobre produtos chineses.

No dia 2 de abril, quarta-feira, Trump detalhou seu pacote de tarifas recíprocas que pretende cobrar de produtos importados a partir de abril. Este dia foi chamado pelo republicano de "Dia da Libertação". Veja abaixo a lista completa.

A Ásia foi o continente que recebeu as maiores tarifas, de 34%, o que fez com que os produtos chineses fossem taxados pelos EUA em 54%, no total.

No dia 4 de abril, sexta-feira, a China contra-atacou e anunciou tarifas também de 34% sobre os produtos americanos, como resposta ao tarifaço.

No dia 8 de abril, terça-feira, após a retaliação chinesa que também impôs tarifas de 34% sobre os EUA, a Casa Branca confirmou mais 50% em taxas sobre as importações chinesas, deixando a tarifa sobre o país no patamar de 104%.

No dia 9 de abril, a guerra comercial entre Estados Unidos e China ganhou um novo capítulo. Os EUA elevou as tarifas sobre produtos chineses para 125% em resposta direta às ações da China no contexto de uma escalada na guerra comercial entre os dois países. 

A China, por sua vez, respondeu criticando a decisão dos EUA, classificando-a como uma violação dos princípios do comércio internacional e prometendo adotar contramedidas necessárias para proteger seus interesses econômicos. ​

Nesta sexta-feira, 11, o gigante asiático anunciou que retaliará novamente, elevando a tarifa sobre as importações dos Estados Unidos de 84% para 125%, com vigência a partir deste sábado, dia 12.

Países tarifados por Trump e as respectivas taxas 

  • China: 125%
  • Vietnã: 46%
  • Japão: 24%
  • União Europeia: 20%
  • Brasil: 10%
  • México e Canadá: já estavam sujeitos a uma tarifa de 25%, mas não receberam novas tarifas
  • Todos os carros estrangeiros: tarifa de 25% também entrou em vigor

Essas tarifas passam a valer a partir da meia-noite de 9 de abril. Destaque para o Brasil, que acabou ficando entre os países menos taxados por Trump.

China contra-ataca e anuncia tarifas de 84%

A China anunciou nesta quarta-feira, 9, que vai impor tarifas de 84% sobre todos os produtos importados dos EUA. A decisão da China veio após os EUA imporem tarifas de 104% em sobretaxas para o país asiático.

Essa movimentação foi interpretada por Pequim como uma ação protecionista agressiva, o que levou à resposta em mesma moeda. O alvo das tarifas chinesas inclui produtos agrícolas, alimentos processados e setores industriais específicos dos EUA.

Brasil e a tarifa recíproca de 10%

O Brasil foi incluído no tarifaço com uma tarifa de 10% sobre produtos exportados aos EUA, índice considerado brando em comparação com os demais países afetados. A decisão representa um alívio, pois sinaliza que o Brasil não está entre os principais alvos do governo americano. 

No entanto, alguns setores da indústria nacional podem sentir os efeitos da medida, especialmente aqueles mais dependentes das exportações para o mercado norte-americano.

Trump defende medidas como proteção ao trabalhador americano

Durante o anúncio, Trump exibiu um quadro com a lista de países e respectivas tarifas, e afirmou que está “pondo fim à exploração dos americanos”. Segundo ele, as tarifas vão trazer de volta empregos e fábricas para o país.

A administração americana promete compensar os efeitos econômicos com cortes de gastos e desregulamentação.

Trump anuncia tarifa de 10% para produtos importados do Brasil. Fonte: The New York Times

Contudo, muitos economistas discordam, alertando que o aumento generalizado de tarifas pode pressionar os preços ao consumidor e frear o crescimento econômico. O debate sobre os reais impactos das medidas promete esquentar nas próximas semanas.

Como foram colocadas em vigor tão rapidamente?

Para implementar essas tarifas, Trump assinou três ordens executivas com base na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacionais, de 1977, que permite ao presidente bloquear e congelar transações em resposta a ameaças incomuns e extraordinárias contra os Estados Unidos, declarando assim uma emergência econômica.

Qual foi o argumento para justificar as novas tarifas?

Em postagens do Truth Social, Trump disse que, embora as tarifas "talvez" causem alguma dor aos americanos, elas eram necessárias para afastar o Canadá dos "subsídios" americanos e pressioná-lo a se tornar o 51º estado dos EUA.

Em relação ao México, afirmou que os traficantes de drogas e o governo têm “uma aliança intolerável” que coloca em risco a segurança nacional americana.

A ordem executiva sobre a China diz que o país representa refúgio seguro para organizações criminosas lavarem a receita da produção, envio e venda de opioides sintéticos.

Impactos das tarifas de Trump para os consumidores

As tarifas anunciadas por Trump podem resultar em aumentos de preços para diversos produtos importados, afetando diretamente o bolso dos consumidores. Itens como automóveis, eletrônicos e alimentos provenientes desses países podem sofrer elevações de custo, refletindo nas prateleiras dos supermercados e lojas nos Estados Unidos. 

Ações de exportadoras caem de olho nas tarifas de Trump

Diante do impacto limitado das tarifas norte-americanas sobre as importações brasileiras, o pregão desta quinta-feira, dia 3 de abril, não registrou uma pressão significativa sobre os ativos brasileiros.

Entre as maiores quedas do Ibovespa, destacam-se as exportadoras, devido, sobretudo, à desvalorização do dólar, que apresentava queda de -0,99%, a R$ R$ 5,60, perto das 13h50.

As ações da Embraer (EMBR3) — uma das companhias com maior exposição ao mercado dos Estados Unidos, responsável por aproximadamente 30% de sua receita — operavam próximas da estabilidade.

Bolsas dos EUA sobem com pausa nas tarifas de Trump

As bolsas dos Estados Unidos registraram forte alta nesta quarta-feira, 9, após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar uma pausa de 90 dias nas tarifas comerciais, menos para a China. No entanto, a medida foi interpretada pelo mercado como um alívio nas tensões econômicas globais, estimulando o apetite por risco entre investidores.

Após o anúncio, o Dow Jones subiu 2.305,81 pontos, ou 6,13%, para 39.959,81, o S&P 500 ganhou 334,86 pontos, ou 6,72%, para 5.317,63 e o Nasdaq ganhou 1.254,95 pontos, ou 8,22%, para 16.522,86.

A alta foi impulsionada também por grandes ações de tecnologia, um dos setores mais afetados pelas tarifas nos últimos meses, com a Apple (AAPL) subindo 10% e a Nvidia (NVDA) avançando 13%.

O gesto de Trump contribuiu para reduzir a incerteza entre os agentes econômicos, o que se refletiu em ganhos expressivos nos principais índices de Wall Street.

Agora, a expectativa é de que as negociações entre Estados Unidos e China avancem, evitando novas medidas protecionistas. No entanto, o cenário ainda é de cautela, e novas declarações políticas podem gerar volatilidade.

Setores mais afetados pelas tarifas de Trump

O setor automotivo é um dos mais vulneráveis, já que muitos veículos e peças são importados do México e do Canadá. Além disso, produtos eletrônicos e eletrodomésticos, frequentemente fabricados na China, podem ter seus preços elevados devido às novas tarifas. setor alimentício também pode ser impactado, especialmente em relação a frutas e legumes importados do México. 

Na mais recente decisão econômica do presidente, Trump disse disse na quarta-feira, 19 de fevereiro, que anunciará novas tarifas no próximo mês ou antes, acrescentando madeira e produtos florestais aos planos previamente anunciados de impor tarifas sobre carros importados, semicondutores e produtos farmacêuticos.

10 ações com maior queda em valor de mercado após tarifaço

Ninguém sabe ao certo quem vai sair vencedor, mas os maiores perdedores no Brasil até agora já estão bem definidos. A Petrobras (PETR3) está entre os que mais sentiram o baque — desde o anúncio das tarifas em 2 de abril de 2025, a estatal já perdeu R$ 60 bilhões em valor de mercado.

Além da Petrobras, a Vale (VALE3) também tem sofrido no mercado desde o anúncio das tarifas de Trump e já encolheu R$ 22 bilhões.

Em terceiro lugar, as ações do Banco do Brasil (BBAS3) perderam R$ 3,5 bilhões desde o tarifaço de Trump. 

EmpresaValor de mercado em 2 de abril (R$ bilhões)Valor de mercado em 9 de abril (R$ bilhões)Variação 
Petrobras (PETR3)506,4446,1-60,3
Vale (VALE3)243,0221,3-21,7
Banco do Brasil (BBAS3)   161,8158,4-3,4
PRIO (PRIO3)32,529,4-3,1
TIM Brasil (TIMS3)43,841,3-2,6
Gerdau (GGBR4)32,830,3-2,5
Brava (BRAV3)10,58,2-2,4
Embraer (EMBR3)47,745,9-1,8
Santander (SANB11)100,899,2-1,6
Suzano (SUZB3)66,264,7-1,5

Dados até o dia 9 de abril. Fonte: Economatica

EUA x China: como investir com guerra comercial em foco?

Ações Brasil

Diante desse cenário, mantemos preferência pelos setores de commodities — com destaque para Prio (PRIO3), Brava (BRAV3) e Vale (VALE3) — e pelo setor financeiro, representado por Inter (INBR32). 

Nossa recomendação é de compra para todas, e, a seguir, detalhamos a tese de investimento referente ao Inter.

Resumo da tese

Após os ótimos resultados em 2024, o Banco Inter demonstrou que está a todo vapor rumo ao cumprimento de suas metas estabelecidas para 2027. O crescimento da base de clientes segue em conformidade com o projetado, enquanto o índice de eficiência e o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) superam as expectativas.

No ano passado, o Inter entregou uma receita bruta de R$ 10 bilhões, um lucro de quase R$ 1 bilhão (R$ 973 milhões) e um ROE de 12%.

Resultados do 4T24. Fonte: Inter RI

O banco inicia o ano de 2025 com força total, liderando o mercado em tecnologia e inovação, crescendo seu market share, avançando na monetização da base, entregando alavancagem operacional, aumentando sua NIM (margem de intermediação financeira) e executando bem seu plano de expansão internacional.

Apesar do cenário macro incerto, o objetivo é expandir sua participação de mercado e crescer sua carteira de crédito em 2025, mas mantendo uma postura conservadora e controlando a inadimplência.

A expectativa é um crescimento médio de +0,2 p.p. por trimestre da sua NIM ao longo de 2025. Inclusive, com o seu balanço de ativos e passivos atual, o Inter ainda se beneficia marginalmente de uma Selic mais alta.

Com elevado potencial de crescimento, capacidade de execução já comprovada pelos resultados dos últimos dois anos e negociando a 14x lucros (valendo menos de R$ 13 bilhões na Bolsa), INBR32 é, na nossa visão, uma das melhores oportunidades de investimento para os próximos anos.

Ações internacionais

Quando compramos ações, estamos alocando aquele capital que não será necessário no curto prazo. Estamos investindo com uma orientação de pelo menos cinco anos ou mais. Nesses prazos mais longos, as manchetes e narrativas macroeconômicas não resultam em impactos relevantes para as empresas. Especialmente se o filtro para investimentos for de negócios acima da média. 

Dito isso, busque encontrar empresas que possuam previsibilidade em relação aos resultados futuros. Dando preferência àquelas que, além da previsibilidade, apresentem crescimento ou tenham a capacidade de repassar os custos da inflação aos seus clientes. Opte, também, por companhias com um histórico positivo de alocação de capital (use o ROIC para quantificar essa avaliação).

No Nord Global, identificamos essas qualidades em diversas posições de nosso portfólio. A TSMC (B3: TSMC34 | NYSE: TSM) e a Meta Platforms (B3: M1TA34 | Nasdaq: META), dona do Facebook, exemplificam essas características de forma clara. Naturalmente, ambas estão sujeitas a riscos inerentes às respectivas teses de investimento. No entanto, trata-se de empresas com alta previsibilidade de resultados e vantagens competitivas robustas e duradouras.

Renda fixa

O início do governo Trump vem sendo marcado por um tom mais brando do que se esperava anteriormente, especialmente ao levarmos em consideração as falas mais duras durante o período de campanha eleitoral. 

Outro ponto de acompanhamento em relação ao novo governo é como será a abordagem para as contas públicas. Do início da pandemia (março de 2020) até março de 2022, os EUA apresentaram um déficit nominal médio de 12,3%. Após esse período, houve redução, mas ainda em um patamar não condizente com o histórico do país. Atualmente, esse déficit vem rodando em torno de 7%.

Soma-se a isso o cenário de atividade aquecida e a inflação norte-americana ainda com desafios para desacelerar para a meta de 2,0%, o que justifica a postura mais cautelosa do Fed, o Banco Central dos EUA.

Esse cenário pode gerar volatilidade nas curvas de juros. Por outro lado, juros longos de 4,50% nos EUA representam um patamar elevado que pode trazer oportunidades em um contexto de correção, seja por meio das Treasuries (tesouro americano) ou por bonds (créditos corporativos), cujos spreads ainda oferecem oportunidades. No entanto, devemos acompanhar atentamente os dados de déficits e as próprias sinalizações de Trump sobre a política fiscal.

Criptomoedas

Na nossa perspectiva, tentar “pegar a faca caindo” é uma estratégia arriscada. Não há como prever se a desvalorização continuará ou se haverá uma recuperação significativa. Diante da imprevisibilidade do mercado, é prudente evitar especulações baseadas na tentativa de identificar o momento exato do fundo.

Para investidores de criptomoedas que consideram alocar todo o capital em altcoins, recomendamos cautela e paciência. Caso o mercado continue em queda, uma exposição excessiva pode representar um risco elevado, especialmente em ativos mais voláteis e sensíveis às oscilações do mercado.

Por outro lado, para aqueles que preferem evitar altcoins, este pode ser um momento oportuno para concentrar investimentos em ativos mais consolidados, como Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH) e Solana (SOL). Essas criptomoedas estão em níveis estratégicos de compra e apresentam maior potencial de retorno com menor volatilidade em comparação às alternativas menos estabelecidas.

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