Spread bancário: o que é, como funciona e por que é tão alto no Brasil
O spread bancário é um tema essencial para quem se interessa por economia e finanças, pois afeta diretamente o acesso ao crédito e a dinâmica econômica de um país.
Neste conteúdo, você entenderá como ele funciona, como é calculado e as razões para ele ser tão elevado no Brasil.
Sumário
- O que é o spread bancário?
- Como funciona o spread bancário?
- Como é calculado o spread bancário?
- O que compõe o spread bancário?
- O que é spread de risco?
- Impacto do spread bancário na economia
- Spread bancário no mundo: como o Brasil se compara?
- Como reduzir o spread bancário no Brasil?
- Proposta quer limitar spread bancário nas instituições financeiras da União
- Qual a relação entre spread e mercado financeiro?
O que é o spread bancário?
O spread bancário representa a diferença entre os juros que um banco paga para captar recursos e os juros que ele cobra ao conceder empréstimos ou financiamentos.
Em termos simples, é a margem de lucro que a instituição financeira obtém em suas operações de crédito.
Como funciona o spread bancário?
Os bancos captam recursos por meio de instrumentos como Certificados de Depósito Bancário (CDB), Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e outras opções.
Esses recursos são remunerados a uma determinada taxa de juros. Quando os bancos emprestam esse dinheiro para seus clientes, o valor cobrado é consideravelmente maior, e a diferença entre ambos é o spread.
Exemplo prático
Imagine que um banco ofereça uma aplicação em CDB a 5% ao ano, mas cobra 15% ao ano em um empréstimo consignado. O spread bancário neste caso seria de 10%, que representa a diferença entre as duas taxas. No entanto, essa margem não representa exclusivamente o lucro do banco, pois diversos custos e riscos estão embutidos nesse cálculo.
Como é calculado o spread bancário?
A fórmula básica do spread bancário é:
Spread bancário = Taxa de empréstimo - Taxa de captação.
O valor resultante precisa cobrir uma série de custos, incluindo a inadimplência, tributos, despesas administrativas e a margem de lucro das instituições. Por isso, a composição do spread é bastante complexa.
O que compõe o spread bancário?
Existem diversos fatores que influenciam o valor final do spread bancário. Confira:
Inadimplência
O risco de não pagamento por parte dos clientes é um dos principais fatores que influenciam o spread.
Bancos incluem uma "margem de segurança" para cobrir possíveis perdas devido à inadimplência, que no Brasil é bastante alta.
Lucros
Os bancos precisam garantir lucratividade. O spread bancário ajuda a instituição a cobrir custos operacionais e gerar retorno para os seus acionistas.
Impostos
O setor financeiro no Brasil é um dos mais tributados. Impostos como IOF, Imposto de Renda (IR) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) impactam o spread.
Depósito compulsório
Os bancos são obrigados a manter parte dos recursos captados depositados no Banco Central, o que limita a disponibilidade de dinheiro para empréstimos e influencia o custo do crédito.
Custos administrativos
Manter a estrutura do banco, incluindo funcionários, agências e sistemas, representa outro fator relevante. Bancos digitais conseguem, por exemplo, reduzir parte desses custos e oferecer condições melhores.
O que é spread de risco?
O spread de risco é uma parte importante da composição do spread bancário. Ele se refere ao adicional que os bancos cobram para compensar o risco de inadimplência dos tomadores de crédito. Ou seja, quanto maior o risco de que o cliente não consiga pagar a dívida, maior será o spread de risco embutido na taxa de juros.
Esse spread é calculado com base em vários fatores, como o histórico de crédito do cliente, a situação econômica do país, o setor em que o cliente atua e até mesmo a volatilidade dos mercados financeiros. Por exemplo, se uma pessoa tem um histórico de crédito desfavorável ou se a economia está passando por um período de instabilidade, o banco pode aumentar o spread de risco para se proteger contra possíveis perdas.
O spread de risco é um dos componentes mais significativos do spread bancário, especialmente em um país como o Brasil, onde a inadimplência é alta. Dessa forma, ele afeta tanto os consumidores quanto as empresas que precisam de crédito, encarecendo as operações de financiamento.
Impacto do spread bancário na economia
O spread bancário elevado tem efeitos profundos na economia brasileira. Um dos principais impactos é o encarecimento do crédito, que dificulta o acesso de pessoas físicas e empresas a empréstimos e financiamentos. Isso limita o consumo, reduz o investimento em negócios e, consequentemente, afeta o crescimento econômico.
Quando o crédito é caro e de difícil acesso, as famílias tendem a reduzir o consumo, o que prejudica setores como comércio e serviços. Além disso, pequenas e médias empresas — que dependem de financiamentos para crescer ou mesmo manter suas operações — podem enfrentar grandes dificuldades financeiras.
A limitação no acesso ao crédito também impacta a inovação e o investimento em novos projetos, essenciais para o desenvolvimento econômico do país.
Por outro lado, o spread bancário elevado pode aumentar o risco de endividamento insustentável. Em um cenário de altas taxas de juros, até mesmo pequenas dívidas podem crescer rapidamente, levando a uma espiral de inadimplência que afeta tanto as finanças das famílias quanto a estabilidade do sistema financeiro.
Spread bancário no mundo: como o Brasil se compara?
Em termos globais, o Brasil se destaca negativamente por ter um dos maiores spreads bancários.
De acordo com dados do Banco Mundial, o spread médio global em 2017 era de 5,74%. No entanto, o Brasil registrava um spread de 45%, ficando atrás apenas de Madagascar.
Mesmo com a redução observada nos anos seguintes, o spread brasileiro ainda permanece entre os mais altos do mundo. Em 2022, o Brasil tinha o terceiro maior spread, com 25,7%, perdendo apenas para o Zimbábue (37,4%) e Madagascar (34,5%).
Uma das principais razões para essa discrepância é a baixa eficiência na recuperação de crédito no Brasil. O Banco Mundial estima que, no país, apenas US$ 0,13 são recuperados para cada US$ 1 emprestado, enquanto a média mundial é de US$ 0,34.
Países como o Japão, que têm spreads muito menores, conseguem recuperar US$ 0,92 de cada US$ 1 emprestado. A baixa recuperação de crédito no Brasil aumenta os custos administrativos, que são repassados aos consumidores na forma de spreads mais elevados.
Como reduzir o spread bancário no Brasil?
Reduzir o spread bancário no Brasil requer uma série de reformas estruturais e políticas eficazes. Aqui estão algumas abordagens que podem ajudar:
- aumentar a concorrência bancária: uma das formas mais eficazes de reduzir o spread é aumentar a competição no setor financeiro. Isso pode ser feito incentivando a entrada de novos players, como fintechs e bancos digitais, que tendem a oferecer taxas mais baixas devido a menores custos operacionais;
- melhorar a eficiência na recuperação de crédito: reformas no sistema de recuperação de crédito são essenciais. Facilitar e tornar mais eficaz a cobrança de dívidas ajudaria a reduzir o risco de inadimplência e, por consequência, o spread bancário;
- educação financeira: promover a educação financeira entre a população pode ajudar a reduzir a inadimplência, já que consumidores mais informados tendem a gerenciar melhor suas finanças e evitar dívidas excessivas;
- revisão da carga tributária: reduzir os impostos sobre operações financeiras poderia diminuir os custos que os bancos precisam repassar aos clientes. A reforma tributária, nesse sentido, pode ser um fator positivo;
- ajustar políticas de crédito direcionado: reduzir o volume de crédito direcionado pode ajudar a equilibrar a oferta e a demanda por crédito livre, diminuindo os juros.
Essas mudanças poderiam tornar o crédito mais acessível e contribuir para o crescimento econômico, sem comprometer a estabilidade financeira.
Proposta quer limitar spread bancário nas instituições financeiras da União
Recentemente, uma proposta na Câmara dos Deputados chamou a atenção por buscar limitar os spreads bancários nas instituições controladas pela União.
O Projeto de Lei 5266/23 sugere que bancos públicos não possam praticar spreads superiores à média internacional. Essa média seria calculada e divulgada semestralmente pelas próprias instituições na internet.
Segundo o deputado Jorge Goetten (PL-SC), autor da proposta, a intenção é usar bancos públicos como instrumentos para reduzir o custo do crédito no país. A medida afetaria diretamente a Lei do Sistema Financeiro Nacional, exigindo que o Conselho Monetário Nacional (CMN), sob orientação do presidente da República, supervisionasse a aplicação da regra.
Essa proposta vem em um momento em que o Banco Central aponta que, mesmo com a Selic elevada, o spread bancário ainda é um problema. Em dezembro de 2023, o spread geral das taxas de juros era de 19,7 pontos percentuais, tendo atingido um pico de 22 pontos em maio do mesmo ano.
A proposta ainda está em tramitação nas comissões de Finanças e Tributação; Defesa do Consumidor; e Constituição e Justiça e de Cidadania, mas se aprovada, poderá trazer mudanças significativas para o cenário de crédito no Brasil.
Qual a relação entre spread e mercado financeiro?
O conceito de spread não se limita apenas às operações bancárias; ele também tem uma forte presença no mercado financeiro.
O spread no mercado financeiro refere-se à diferença entre o preço de compra (bid) e o preço de venda (ask) de um ativo, como ações, moedas ou títulos. Essa diferença pode indicar o nível de liquidez de um mercado: quanto menor o spread, mais líquida é a negociação desses instrumentos.
No mercado de ações, por exemplo, o spread reflete a oferta e a demanda. Se um ativo tem um spread pequeno, isso significa que é fácil comprá-lo ou vendê-lo a preços próximos. Em mercados menos líquidos, o spread tende a ser maior, o que implica custos adicionais para os investidores.
No caso de derivativos e operações estruturadas, o spread também desempenha um papel importante. Ele pode ser usado como uma métrica para avaliar o custo de cobertura de risco ou a eficiência de uma estratégia de negociação. Além disso, o spread cambial, que é a diferença entre a taxa de câmbio de compra e de venda, afeta transações internacionais e empresas que dependem de importação ou exportação.
A relação entre o spread bancário e o spread financeiro é significativa, pois ambos refletem custos que podem ser repassados aos consumidores ou investidores. Assim, compreender essas dinâmicas ajuda investidores e empresas a planejar suas estratégias financeiras de forma mais eficaz.
Por fim, vale ressaltar que o spread bancário é um componente fundamental do sistema financeiro, influenciando desde a oferta de crédito até o custo dos investimentos.
Entender sua composição e seus impactos ajuda a compreender melhor as nuances da economia brasileira e as possíveis soluções para torná-la mais eficiente e acessível.