Shopee preocupa as gigantes brasileiras?
Olá, pessoal.
Eu sou o Victor Bueno, analista da série Nord 10X.
Uma pergunta rápida: quais as principais ameaças às varejistas brasileiras?
Se você respondeu que as preocupações limitam-se à entrada de estrangeiras, como Amazon e Mercado Livre, talvez possa estar equivocado. Uma nova onda de entrantes pode estar tirando o sono de companhias como Magalu e outras do setor, e ela está vindo do outro lado do globo.
Estou falando do avanço de empresas asiáticas de comércio eletrônico, como o Alibaba e principalmente a Shopee.
A Shopee, braço de e-commerce da Sea Ltd (S2EA34), que iniciou suas operações no Brasil somente em 2019, vem atraindo muitos clientes no país com uma proposta diferente e agressiva: oferecer produtos com um ticket médio baixo em um cenário de alta inflacionária – que tende a afastar o interesse e a necessidade da população por bens supérfluos. Mesmo em pouco tempo, os frutos já estão sendo colhidos e o aplicativo de compras da empresa já é o mais baixado no país.
A estratégia da empresa é clara: ela se beneficia de uma mão de obra mais barata na Ásia para aumentar a sua penetração no mercado brasileiro e ganhar cada vez mais market share em cima das varejistas nacionais, como também das internacionais que já estavam aqui há mais tempo.
Com isso, estima-se que a posição atual no varejo brasileiro da Shopee já esteja em um dígito alto e, segundo o Goldman Sachs, a expectativa é que atinja um market share de 20 por cento em 2025.
No último trimestre de 2021, a Shopee reportou um forte crescimento de suas receitas, com os pedidos aumentando +90 por cento ao compararmos com o mesmo período do ano anterior, e o seu GMV (volume bruto de mercadorias — métrica própria dos e-commerces para medir o desempenho das vendas de produtos e serviços) deu um salto de +53 por cento quando realizamos a mesma comparação. Mais um fruto de sua estratégia global de penetração.
E como anda a performance da asiática no Brasil?
Os números reportados da operação da empresa no nosso país foram ainda melhores — Shoppe e Jackie Chan invadiram a praia. No quarto trimestre (4TRI21), a Shopee Brasil reportou um crescimento de +400 por cento (vs. 4T20) em seus pedidos e uma receita que alcançou 70 milhões de dólares ou algo em torno de 380 milhões de reais (+326 por cento).
Com isso, estima-se que o GMV das operações brasileiras chegue próximo a 3 bilhões de reais. Apesar do crescimento, ainda não é suficiente para ultrapassar as líderes Magalu, Americanas e Mercado Livre.
Além disso, a empresa também divulgou o lucro ajustado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) negativo no período, com uma perda de cerca de 2 dólares por pedido. Com os pedidos brasileiros atingindo a marca de 140 mil no trimestre, o Ebitda ajustado alcançou, aproximadamente, uma perda de 280 milhões de dólares ou 1,5 bilhão de reais.
Mas como a companhia pretende continuar crescendo e melhorando os seus resultados?
Para a Shopee buscar um crescimento sustentável no longo prazo, será preciso estabelecer uma estrutura logística no país e também focar suas atenções para outros tipos de produtos, de preferência com um ticket médio maior do que o apresentado atualmente. Dessa forma, a empresa poderá expandir ainda mais os seus negócios no Brasil, diluir custos e despesas para aumentar as suas margens e, finalmente, dar lucro.
Além da Shopee, é importante mencionarmos que os resultados apresentados pela sua empresa-mãe também não foram favoráveis.
A Sea Ltd, que ainda conta com a Garena (desenvolvedora de jogos online) e a SeaMoney (provedora de serviços financeiros digitais) em seu portfólio de empresas, reportou um crescimento em suas receitas de +106 por cento vs. o 4T20, porém houve um aumento de +17 por cento em seu prejuízo líquido na comparação com o mesmo período de 2020, atravessando a marca de 600 milhões de dólares.
Como ficam as ações da Sea Ltd (S2EA34) nessa história?
Bom, não há ninguém melhor para nos mostrar isso do que o próprio mercado por meio do gráfico com as cotações das ações da empresa (no caso, falaremos dos BDRs da Sea Ltd).
Desde a máxima do ano passado, que ocorreu em outubro e atingiu um preço superior a 82 reais, os BDRs da companhia vêm enfrentando severas quedas e já registram uma depreciação de mais de -74 por cento até o momento.
Mesmo que a Shopee venha aumentando a sua penetração em solo brasileiro e apresentando crescimento significativo em suas vendas, no nosso entendimento, existe ainda uma dificuldade e uma série de desafios para que a companhia passe a ser lucrativa. Não somente ela, mas como pudemos ver, a Sea Ltd também não está apresentando bons retornos no momento.
Olhando para o gráfico, os investidores podem ser levados a acreditar que as quedas são exclusivas à Sea Ltd. Porém, esse mesmo gráfico nos remete a outro semelhante e que já está mais “popular” ultimamente: o das ações do Magalu (MGLU3).
As semelhanças entre o Magalu e a gigante asiática
O Magalu também é um gigante do varejo brasileiro, sendo considerado por muitos como o pioneiro do e-commerce do setor no nosso país.
Hoje a companhia conta com um completo ecossistema de serviços e uma robusta capacidade logística, diferenciando-se (e muito) de seus principais concorrentes domésticos e estrangeiros.
Mesmo ainda sofrendo com os impactos da pandemia e com o cenário macro desfavorável, o Magalu continua entregando crescimento de forma orgânica e também inorgânica, com muitas aquisições no passado recente.
Entretanto, ainda que seus fundamentos estejam evoluindo, nada disso foi suficiente para evitar a derrocada de suas ações, que apresentaram uma queda de mais de -74 por cento do topo histórico de 2021, registrado em julho, para cá.
Tudo bem que o preço de MGLU3 na época poderia ser considerado distorcido e que muitos acreditavam estar longe do real valor da companhia. Mas o que vemos, além do que pode parecer uma “volta” a patamares mais adequados no preço das ações da empresa, é um comportamento que acaba afetando praticamente todas as varejistas do nosso país.
É a hora de apostar nas grandes empresas de mercado?
As incertezas em relação ao cenário macro tendem a continuar presentes, ainda mais se tratando de ano eleitoral.
Além disso, as expectativas de recuperação da nossa economia não são das mais favoráveis e a competição entre as empresas do setor deve continuar presente no momento, principalmente com a entrada e a expansão das empresas de comércio eletrônico vindas de fora do país.
Nesse sentido, o melhor a ser feito agora é aguardar por sinalizações mais concretas de uma possível mudança desse cenário que estamos vivenciando antes de buscar montar uma posição nessas empresas. Como disse o analista Rafael Ragazi em seu comentário recente sobre o Magalu (que serve também para a Shopee e outras desse segmento): “não é o momento de pegar a faca caindo”.
Não é porque uma ação caiu -50 por cento, -60 por cento ou -75 por cento, que necessariamente ela está barata ou que representa uma oportunidade imperdível na Bolsa.
Lembre-se: tudo que pode parecer barato pode ficar ainda mais barato e trazer uma preocupação desnecessária para o nosso psicológico no curto prazo.
Na série Nord 10X, nossos analistas elaboraram um relatório completo sobre o Magalu e você pode acessá-lo aqui.