Dólar flerta com R$ 6 após eleição americana e preocupação fiscal no Brasil

Entenda os motivos para aumento do dólar, as perspectivas do mercado para o dólar no futuro e como as eleições nos EUA impactam o câmbio.

Nord Research 06/11/2024 10:18 5 min Atualizado em: 06/11/2024 14:42
Dólar flerta com R$ 6 após eleição americana e preocupação fiscal no Brasil

Apesar de uma leve melhora no risco fiscal brasileiro e da promessa de um pacote fiscal por parte do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o mercado continua a pressionar o dólar

A recente valorização da moeda norte-americana tem preocupado investidores e impactado o mercado financeiro no Brasil. Com o dólar a próximo de R$ 6, o cenário reflete tanto as incertezas fiscais no país quanto as tensões no cenário internacional, principalmente em relação às eleições nos Estados Unidos.

O cenário fiscal no Brasil

O cenário fiscal brasileiro é um dos principais motivos para a valorização do dólar. O governo tem enfrentado dificuldades para definir um pacote de cortes de gastos que satisfaça o mercado.

Recentemente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que ainda não há previsão para o anúncio dessas medidas, o que gerou frustração entre investidores. A falta de um plano claro para controlar o déficit público aumenta o receio de descontrole fiscal, pressionando o câmbio e os juros futuros.

Especialistas apontam que, sem um ajuste fiscal sólido, as perspectivas de recuperação da economia ficam comprometidas. A ausência de uma política fiscal definida reduz a confiança no mercado brasileiro, levando à desvalorização do real em relação ao dólar.

Por que o dólar está subindo hoje?

No entanto, a melhoria nos indicadores internos sugere que as oscilações da moeda estão mais ligadas a fatores externos do que aos nossos desafios internos.

O cenário político americano

Um dos principais fatores que movimentam o mercado americano é a vitória de Trump, anunciada na manhã de 6 de novembro.

A questão tarifária

Durante sua presidência, Donald Trump adotou uma postura firme em relação à China, especialmente em questões comerciais. Ele implementou tarifas sobre uma ampla gama de produtos chineses como parte de sua estratégia para combater o déficit comercial dos EUA e proteger as indústrias americanas. Trump afirmava que essas tarifas ajudariam a trazer empregos de volta para os Estados Unidos e estimulariam a produção interna.

Se Trump for eleito novamente, as expectativas do mercado incluem a possibilidade de um retorno à sua abordagem "America First", que pode significar a continuidade ou até a expansão das tarifas sobre produtos chineses. O impacto final dependerá de uma combinação de sua política e da resposta da China. Contudo, se ele decidir aumentar as tarifas em 60% para a China e 10% para outros países, conforme ventilado, isso resultaria em uma pressão inflacionária elevada.

O aumento da inflação implica em aumento das taxas de juros, o que, por sua vez, tende a valorizar a moeda em um movimento global de um dólar forte.

Desafios na imposição de tarifas

É importante destacar que não é tão simples elevar as tarifas sobre os principais parceiros comerciais. Existem questões políticas e alianças que tornam essa medida difícil de implementar. Assim, há uma expectativa de que Trump busque um equilíbrio, dependendo da situação econômica global e das relações comerciais vigentes.

Talvez suas declarações sirvam apenas como uma estratégia para pressionar parceiros comerciais e assegurar novos acordos mais vantajosos. Nesse cenário, a pressão inflacionária pode ser menos intensa.

Além disso, o setor de tecnologia, que depende fortemente de peças compradas na China, poderia ver sua expansão comprometida por tarifas excessivamente altas.

Expansão fiscal é promessa unânime

Ambos os candidatos falaram em expansão fiscal e desconsideraram o risco de uma dívida americana crescente. 

Durante a presidência, Trump focou em cortes de impostos e na desregulamentação como formas de estimular o crescimento econômico. Ele implementou a Lei de Cortes de Impostos e Empregos em 2017, que reduziu significativamente a alíquota do imposto corporativo e ofereceu cortes para indivíduos. 

Para uma futura gestão econômica, caso seja reeleito, o republicano ainda menciona o corte de impostos, mas mudando o foco para novos investimentos. 

Kamala Harris, por outro lado, tem uma visão mais desenvolvimentista em relação à política fiscal. Como parte da administração de Biden, a democrata defende uma abordagem que prioriza investimentos significativos em áreas como infraestrutura, educação, saúde e mudança climática.

O plano de Harris incluía aumentar os impostos sobre os mais ricos e as corporações para financiar esses investimentos e gerar um crescimento econômico mais inclusivo.

Os programas propostos por ambos estão na casa dos bilhões de dólares. 

É um bom momento para comprar dólar?

Diante desse cenário, não recomendo a compra de dólares no momento apenas em função das eleições americanas. 

Pelo contrário, minha sugestão seria aguardar até que o mercado se estabilize e as expectativas se acalmem, permitindo uma análise mais clara da situação econômica. Dessa forma, será mais fácil tomar decisões informadas.

Expectativas para o dólar nos próximos meses

O Boletim Focus, que reúne projeções de mercado, indica que o dólar deve fechar o ano em torno de R$ 5,45, caso o cenário fiscal se estabilize. No entanto, caso as incertezas continuem, a cotação pode ultrapassar os R$ 6, segundo estimativas de analistas. A manutenção de juros elevados pelo Fed e a vitória de Trump nas eleições americanas são fatores que podem manter o dólar valorizado no curto prazo.

O que esperar do dólar nos próximos meses?

A valorização do dólar no Brasil é resultado de uma combinação de fatores internos e externos. A incerteza quanto à política fiscal brasileira, somada ao cenário eleitoral dos Estados Unidos, tem fortalecido a moeda norte-americana e pressionado o mercado financeiro. A curto prazo, a estabilidade do câmbio depende da definição de um plano fiscal pelo governo brasileiro e do desfecho das eleições nos EUA.

Para os investidores e consumidores, o momento é de cautela, pois a alta do dólar tende a impactar o custo de vida e o poder de compra no país.

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