O que fazer quando a Bolsa está caindo?
O último pregão foi um verdadeiro teste psicológico e de estômago para os investidores brasileiros de renda variável (principalmente para os investidores de ações).
Em momentos como esse, em que ativos despencam -10%, -15% e até mesmo -20% em apenas um dia, muitos investidores acabam se desesperando (o que é compreensível) e tomando decisões precipitadas. Pensando nisso, decidimos escrever este artigo.
Porém, antes de apresentarmos algumas recomendações sobre o que fazer agora, precisamos contextualizar sobre o que está acontecendo e como o mercado está reagindo.
O que está acontecendo?
Depois de muitas semanas de espera, o governo finalmente anunciou seu pacote de medidas para conter o crescimento das despesas, que, nas estimativas do Ministério da Fazenda, podem somar um impacto de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos.
O grande problema é que, apesar de parecer um montante considerável, essa cifra está longe de ser suficiente para resolver a questão fiscal no país (reverter um déficit primário em superávit e conter o aumento sequencial da dívida pública).
Vale lembrar que o governo Lula tomou posse com uma dívida bruta em 72% do PIB e, ao final de seu mandato, deverá atingir 84% (atualmente está em 78% do PIB).
Para completar, além dos valores serem insuficientes e difíceis de serem atingidos com as medidas anunciadas, o governo ainda anunciou uma renúncia de imposto de renda, o que custaria cerca de R$ 30 bilhões ao ano e praticamente anularia o pacote de corte de gastos.
O corte de receita nos próximos anos até poderia ser compensado pela criação de um IR mínimo de 10% para quem ganha acima de R$ 50 mil, mas a proposta foi pouco detalhada e ninguém ainda entendeu como, de fato, será feita.
O anúncio ainda cria o risco da renúncia (medida popular) ser aprovada e o corte de gastos (medida impopular) não. Ainda que o governo tenha tentado voltar atrás, dizendo que a renúncia ficará para depois e que será compensada, o estrago já estava feito.
No fim das contas, o pacote de gastos e seus adicionais geraram mais dúvidas do que certezas, frustrando expectativas que já não eram tão elevadas.
Como o mercado está reagindo?
Com Haddad jogando um balde de água fria no mercado, os juros futuros explodiram, o dólar ultrapassou o patamar de R$ 6 pela primeira vez na história e a Bolsa despencou.
Das 86 ações que compõem o IBOV, apenas oito subiram no último pregão (basicamente exportadoras se beneficiando do dólar mais alto), enquanto as outras 78 caíram, sendo que 17 delas apresentaram queda de, pelo menos, -6%. O índice fechou em baixa de -2,4%.
As empresas mais sensíveis aos juros altos e ao cenário macroeconômico desafiador foram as mais afetadas no último pregão, como construtoras, varejistas e educacionais. Além delas, as small caps também foram severamente penalizadas por sua menor liquidez.
Assim, a situação foi ainda pior para o SMLL, que derreteu -4,4%, sendo que, de 117 ações que compõem o índice, 110 fecharam o dia em queda (42 delas caíram mais de -6%).
No final do dia, nem mesmo as “dividendeiras”, que possuem uma maior resiliência histórica, acabaram se salvando. O IDIV encerrou a última quinta-feira em baixa de -1,7%.
O que fazer agora com a Bolsa caindo?
Após o banho de sangue na Bolsa brasileira, que mais parecia a cena de um filme de terror dos anos 80, a pergunta que não quer calar é: o que fazer agora?
Antes de trazermos nossas recomendações, é importante separarmos os investidores em dois grupos: (i) aqueles que já estão comprados em ações e (ii) os que ainda não estão.
Cenário 1: estou comprado(a)
Caso você já esteja posicionado em ações (em especial, de boas empresas), nossa primeira recomendação é: não saia vendendo suas posições desesperadamente.
Sim, eu sei que pode ser desesperador estar posicionado e ver seu patrimônio ser diluído em poucas horas. Contudo, quando se trata de renda variável (ainda mais no Brasil), movimentos como esse são passíveis de acontecer e de se repetir futuramente.
Assim, se você entende que esse cenário de quedas está abalando seu psicológico e tirando seu sono e você precisa do dinheiro no curto/médio prazo, recomendamos que seus novos aportes sejam feitos em ativos mais seguros e previsíveis, como os de renda fixa.
Se você não se sente desconfortável em cenários como esse e está focado exclusivamente no longo prazo (ao menos três anos), podemos estar diante de um dos melhores momentos para comprar ações brasileiras na história. Mas precisa ter estômago.
Se você aguentar os balanços de curto/médio prazo, poderá aproveitar oportunidades escancaradas, como em Inter (INBR32), que passou a negociar a um P/L de menos de 15x após as quedas de ontem e pode multiplicar seu lucro por mais de 6x até 2027.
A grande verdade é que momentos como esse validam aquela famosa analogia de mercado de que a Bolsa de Valoresnão adianta prever a chuva, o melhor a ser feito é construir a arca é o único shopping que, quando entra em liquidação, as pessoas correm dela ao invés de correr para ela.
Cenário 2: não estou comprado(a)
Agora, caso você não esteja posicionado em ações no momento, nossas recomendações são semelhantes às apresentadas acima.
Se você entende que esse cenário de incertezas não te faria bem, siga no CDI e aguarde um momento menos conturbado para investir em ações. Só tenha em mente que, pela imprevisibilidade do mercado, você também poderá perder movimentos positivos até lá.
Contudo, se você já estava esperando para entrar na Bolsa brasileira, reforçamos: esse é um dos melhores momentos para aqueles que pensam a longo prazo.
Pode ser que a Bolsa continue caindo e fique ainda mais barata? Sim, isso é possível. Mas, como já diria o grande investidor Warren Buffett, “não adianta prever a chuva, o melhor a ser feito é construir a arca”. Construa sua arca com ações de boas empresas.
Como podemos te ajudar?
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