O que está acontecendo com a bolsa do Japão? Entenda
O Japão tem mantido sua taxa de juros baixa e o iene (moeda oficial do Japão) tem sido uma moeda pouco inflacionária nas últimas décadas. No entanto, quando o Banco Central do Japão dá sinais de que pode aumentar a taxa de juros (o que vem ocorrendo recentemente), esse tipo de operação se torna mais arriscada e menos atrativa. Como resultado, investidores vendem seus ativos no exterior e compram ienes para liquidar suas posições no Japão.
O que significa uma moeda pouco inflacionária?
Uma moeda pouco inflacionária é uma moeda cuja taxa de inflação é baixa, ou seja, seu valor não diminui de forma significativa ao longo do tempo. Isso significa que os preços dos bens e serviços na economia mantidos nessa moeda aumentam lentamente ou quase não aumentam.
Uma baixa inflação indica estabilidade econômica, o que geralmente é um objetivo dos bancos centrais e governos, pois ajuda a preservar o poder de compra dos consumidores e a confiança no sistema econômico. Moedas pouco inflacionárias são geralmente associadas a economias estáveis e políticas monetárias prudentes.
Devido a essas características, investidores pegam empréstimos em ienes a juros baixos e investem em países com taxas de juros mais altas. Por exemplo, investidores pegam dinheiro emprestado no Japão a 1,5% ao ano e aplicam em títulos do tesouro americano que pagam 4,5% ao ano. Esse movimento é chamado de “carry trade”.
O que significa carry trade?
Carry trade é uma estratégia de investimento em que um investidor toma dinheiro emprestado em uma moeda com uma taxa de juros baixa e o investe em uma moeda com uma taxa de juros mais alta. O objetivo é lucrar com a diferença entre as taxas de juros, conhecida como diferencial de juros.
Por exemplo, um investidor pode tomar um empréstimo em ienes japoneses, onde as taxas de juros são tradicionalmente baixas, e usar esses fundos para comprar ativos denominados em dólares australianos, que têm taxas de juros mais altas. A diferença entre o custo do empréstimo e o rendimento do investimento é o lucro potencial do carry trade.
Essa estratégia pode ser arriscada, pois envolve exposição à variação cambial. Se a moeda na qual o investidor está endividado se valorizar em relação à moeda do investimento, as perdas podem superar os ganhos dos juros. Portanto, o carry trade é sensível a mudanças nas taxas de câmbio e nas condições econômicas globais.
Por que a bolsa no Japão está caindo?
Com essa movimentação em grande escala, possível alta de juros no Japão, a demanda por ienes volta a aumentar, levando fluxo financeiro para o país e levando à valorização da moeda japonesa.
O Banco Central do Japão, conhecido por manter uma das taxas de juros mais baixas do mundo, aumentou sua taxa de juros na semana passada e sinalizou novos aumentos futuros.
Ao mesmo tempo, os dados de emprego nos EUA apresentaram uma fraqueza inesperada. Como resultado, o custo de financiamento em ienes (Yen) aumentou, impactando estratégias de carry trade, onde investidores utilizam a moeda japonesa para apostar em ativos de maior risco.
Com o aumento nos custos, muitos investidores começaram a desfazer suas posições em carry trade, o que levou a uma valorização significativa do Yen.
Como a economia do Japão é fortemente baseada em exportações, a valorização do iene reduz os lucros das empresas exportadoras. Por esse motivo, estamos vendo a bolsa japonesa (Nikkei 225) cair, pois a expectativa de menores lucros futuros das empresas impacta o valor das ações, que é revisado para baixo.
Além disso, ainda ajuda o fato de Warren Buffett, famoso investidor do mercado, ter liquidado metade das suas ações da Apple, acumulando bastante caixa. Com esse movimento, o mercado começou a imaginar que uma crise estaria se aproximando.
O que fazer quando tudo está caindo?
Qual é a Bolsa de Valores do Japão?
O índice Nikkei, formalmente conhecido como Nikkei 225, é um índice de ações que representa a média ponderada dos preços de 225 grandes empresas listadas na Bolsa de Valores de Tóquio (Tokyo Stock Exchange - TSE). Ele é um dos principais indicadores do desempenho do mercado de ações japonês e serve como uma referência importante para investidores que acompanham a economia e os mercados financeiros do Japão.
O que é Nikkei 225?
O Nikkei 225 inclui empresas de diversos setores, como tecnologia, automotivo, financeiro e industrial, e é calculado em ienes. Ele foi introduzido em 1950 e é frequentemente comparado a outros índices de mercado, como o Dow Jones Industrial Average nos Estados Unidos.
Como funciona o Nikkei?
Como qualquer outro índice de mercado, o valor do Nikkei 225 flutua com base nas mudanças nos preços das ações das empresas que o compõem.
Resumo das quedas do mercado no Japão
Existem muitas variáveis influenciando os mercados hoje, mas elencamos algumas:
- Desaceleração da Economia Americana
- Elevação das Taxas de Juros no Japão
- Realização de Lucros no Setor de Tecnologia
- Tensões Geopolíticas no Oriente Médio
- Movimentos do grande investidor Warren Buffett
Desaceleração da Economia Americana
Dados mais fracos do mercado de trabalho divulgados ao longo da última semana aumentaram os receios de uma recessão mais intensa nos Estados Unidos.
Elevação das Taxas de Juros no Japão
O aumento das taxas de juros no Japão pode reduzir as operações de carry trade (operação de tomar dinheiro em um país com uma taxa de juros mais baixa e aplicar em outro país com taxa de juros mais alta), fortalecendo o iene. Essa valorização de 14% em relação ao dólar nas últimas três semanas pode prejudicar empresas japonesas que dependem fortemente de exportações.
Realização de Lucros no Setor de Tecnologia
Após altas significativas nos últimos 12 meses e diante de valuations elevados, investidores estão realizando lucros no setor de tecnologia.
Tensões Geopolíticas no Oriente Médio
Há preocupações em relação a uma possível escalada das tensões geopolíticas na região, o que poderia impactar negativamente os mercados.
Movimentos de Warren Buffett
A notícia de que Warren Buffett reduziu significativamente sua exposição em algumas de suas principais posições aumentou a percepção de que a relação atual entre risco e retorno no mercado pode não ser favorável.
Movimentos após "Black Monday"
Nos dois dias seguintes às quedas, os mercados começaram a se recuperar. A recuperação dos mercados continuou na quarta-feira, impulsionada por uma garantia adicional do Banco do Japão (BoJ).
O banco central japonês afirmou que não aumentaria as taxas de juros em um cenário de instabilidade, o que ajudou a acalmar os mercados acionários no país. Essa declaração veio na esteira de grandes oscilações nos mercados de ações japoneses, exacerbadas pela percepção de que o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos reduziria agressivamente as taxas de juros, o que levou ao desmonte de operações de carry trade financiadas em ienes.
Como resultado, as bolsas subiram globalmente, acompanhadas por um aumento nos rendimentos dos Treasuries e uma valorização do dólar em relação à maioria das moedas. Especificamente, o dólar subiu 1,98% frente ao iene, alcançando 147,374 ienes por dólar. Esse cenário beneficiou as moedas de mercados emergentes, como o real, que se valorizou 0,81%, com o dólar caindo para R$5,6117.
Nos Estados Unidos, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq apresentaram fortes ganhos, subindo 1,14%, 1,54% e 1,84%, respectivamente. No Brasil, o Ibovespa atingiu uma máxima de 127.405,01 pontos e registrava uma alta de 0,46%, situando-se em 126.847,96 pontos, impulsionado principalmente pelas ações ligadas a commodities, que têm um peso significativo na composição do índice.
Em um dia com uma agenda doméstica mais tranquila e sem novidades fiscais, os juros futuros no Brasil seguiram a tendência do câmbio e recuaram moderadamente ao longo de toda a curva, embora tenham se afastado das mínimas observadas durante a sessão.