O investidor velejador

Nos inspiramos no mundo da Vela e nas lições que capitães nos proporcionam sobre investir em cenários incertos e cheios de desafios

Giulia Nicola 06/11/2022 12:00 4 min
O investidor velejador

Saí para correr uma regata de barcos clássicos no final de semana.

Era um sábado quente no Rio de Janeiro e a previsão já dizia: “vamos de vento em popa”. Logo me animei.

Velejar com o vento a favor é sempre mais divertido, até para uma iniciante no mundo da Vela, como eu.

Determinei que daria o meu máximo.

Velejar em um barco clássico de 48 pés, todo de madeira, feito em 1960, seria um desafio.

O barco clássico não possui as modernidades que existem hoje, é preciso ter força e antecipar bem as suas manobras.

No barco, tínhamos uma tripulação de 10 pessoas, dentre as quais apenas 3 sabiam velejar (claro, não me incluo nisso), sendo que uma estava machucada.

Veleiro Cairu III na regata. Fonte: Acervo Pessoal / Calu Blyth

Quando nos preparamos para a largada, com aquele som forte da buzina, vi que teríamos um grande desafio pela frente.

Os cabos não estavam amarrados como deveriam, ninguém sabia o que significava “arribar”, o que eram “adriças”, “buja”, “mezena” e “grande”. Muito menos o que fazer quando era preciso dar um “jibe”.

Foi preciso nos adaptarmos.

O comandante, que tem décadas de experiência, teve que falar em um português claro o que era preciso ser feito: “Solta esse cabo; puxa aquele outro; vamos subir aquela vela que está na frente do barco”.

Apesar dessas instruções serem menos precisas para quem está acostumado a velejar, a nossa tripulação funcionou bem dessa forma.

Com uma linguagem clara, seguindo a estratégia do nosso comandante experiente e sendo guiados pelos poucos velejadores do barco, sabíamos que no futuro poderíamos ter uma recompensa.

Veleiro Cairu III. Fonte: Acervo Pessoal / Marcos Mendes

Confiamos nos ensinamentos passados e resistimos às mudanças de vento.

Mesmo com a vela grande sofrendo um pequeno rasgo no caminho e várias mãos ficando calejadas, chegamos ao nosso destino, sendo os primeiros a cruzar a linha de chegada, ou como chamam no mundo da Vela, “fita azul”.

Fiquei pensando nessa vitória pouco provável que tive e acredito que a maioria dos leitores deve estar pensando que foi sorte.

Mas na verdade não foi sorte. Foi o trabalho duro dos velejadores do barco que nos proporcionou alcançar o objetivo.

Afinal, estávamos no mesmo barco.

As lições aprendidas


Assim como na Vela, para investir também é preciso ficar de olho no percurso, saber os melhores ativos a serem utilizados dependendo das condições de vento e mar, fazer as manobras certas e focar no longo prazo.

Um investidor experiente sabe como agir com uma mudança de vento, analisar os seus ativos, reconhecer oportunidades e fazer uma mudança na carteira.

Foi isso o que fizemos lá atrás, na pandemia, na carteira O Investidor de Valor.

Variação do IV e IBOV. Fonte: Bloomberg

Com o coronavírus chegando, empresas com marcas consolidadas no mercado, as Blue Chips, estavam segurando mais nas fortes quedas, enquanto víamos as outras empresas derreterem em nossa carteira.

Aproveitamos a oportunidade e saímos com lucro de Itaúsa (ITSA3; ITSA4), uma ótima holding, e aumentamos posição em uma empresa que estava de graça, devido à irracionalidade do mercado. Essa empresa era a PetroRio (PRIO3).

Variação do IBOV, PRIO e ITSA. Fonte: Bloomberg

Aumentamos a nossa posição em PRIO, enquanto o barril do petróleo (a maior fonte de energia do mundo) despencava – e o mercado torcia o nariz para ela.

“Vocês não veem o risco?”; “Vocês não têm medo desse barco afundar?”. Era o que ouvíamos.

Variação do futuro do WTI. Fonte: Bloomberg

Claro que estávamos enxergando o risco, mas sabíamos que a recompensa de navegar aquele mar turbulento poderia ser ainda maior.

Lockdowns não eram suficientes para a fonte de energia mais utilizada no mundo deixar de valer algo do dia para a noite, nem que justificasse o futuro de WTI (petróleo negociado nos EUA) atingir valores negativos em abril de 2020.

O consumo era necessário, já que não tínhamos (e continuamos não tendo) substitutos suficientes para a demanda, mesmo que naquele momento não estivesse sendo utilizado na mesma proporção pré-pandemia.

Mexemos na carteira, aproveitando essa assimetria, e o resultado está no gráfico abaixo.

Gráfico de PRIO depois da compra na pandemia. Fonte: Bloomberg

Soubemos aproveitar um vento contra e navegamos por um mar turbulento, focando sempre no resultado de longo prazo.

E o melhor de tudo: não estávamos sozinhos nesse barco.

Quem confiou nos ensinamentos e no processo conseguiu navegar conosco pelo mundo dos investimentos.

É assim que nós fazemos no Investidor de Valor. É assim que um investidor atinge a tão desejada independência financeira.

É preciso ter constância, estudo e um bom comandante te guiando pelo caminho.

Junte-se a nós, estamos apenas começando.

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