Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3) tem negócio aprovado pelo Cade. Como ficam os dividendos?

Analista da Nord estima que a alavancagem elevada poderá continuar pressionando os dividendos da companhia no curto prazo.

Victor Bueno 26/09/2024 11:10 3 min
Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3) tem negócio aprovado pelo Cade. Como ficam os dividendos?

A  Minerva (BEEF3) anunciou que o Cade aprovou, com restrição, a aquisição das plantas da Marfrig (MRFG3) no Brasil. Na transação, foram adquiridas 11 plantas e 1 centro de distribuição no Brasil, 1 unidade industrial na Argentina e outras 3 fábricas no Uruguai. 

Os “remédios”, porém, foram reduzidos e aplicados, basicamente, em apenas uma das plantas do frigorífico, localizada em Goiás, estado em que o órgão apresentou uma certa preocupação sobre uma possível concentração excessiva por parte da Minerva. 

Contudo, essa mesma planta se encontra fechada desde 2010 e, conforme o material apresentado na proposta de aquisição, não existe qualquer plano futuro de reabertura dessa operação. 

Agora, restam apenas algumas condições precedentes previstas no contrato entre as duas companhias para a transação, enfim, ser concluída até o final do próximo mês.

Relembrando a transação

Em agosto de 2023, a Minerva anunciou a compra da maior parte da operação da Marfrig na América do Sul, que conta com 16 plantas de abate e desossa de bovinos e ovinos, espalhadas pelo Brasil, Uruguai, Argentina e Chile, e que possui capacidade de abate total de 19,5 mil cabeças por dia (12,9 mil bovinos e 6,5 mil ovinos). 

A Minerva pagará um montante de R$ 7,5 bilhões pelos ativos, que vão adicionar, logo de cara, uma receita de R$ 18 bilhões para a companhia – o que representa um aumento de +62% em seu faturamento. Além disso, a operação também vai gerar um incremento de R$ 1,5 bilhão em seu Ebitda (+54%) e um fluxo de caixa livre inicial de R$ 300 milhões. 

Os números da transação implicam em um múltiplo EV/Ebitda de 5x (valor inferior ao que a própria Minerva negocia atualmente). Considerando os ganhos de sinergia com os ativos da Marfrig, que já poderão ser capturados no primeiro ano, estima-se que o Ebitda da companhia atinja mais de R$ 5 bilhões.

Por fim, após a incorporação dos ativos, a empresa também vai aumentar, ainda mais, a sua diversificação geográfica – um dos principais pilares de resiliência em torno da tese.

A aquisição transformacional consolida a Minerva como principal player de bovinos na América Latina, acessando mais de 100 países via exportação e expandindo sua capacidade e portfólio para atender a crescente demanda chinesa. 

Como ficam os dividendos?

Ainda que, com os ganhos operacionais e financeiros, a Minerva também possa reduzir sua alavancagem (dívida líquida/Ebitda) nos próximos anos, esse indicador segue elevado no curto prazo e poderá continuar pressionando os dividendos da companhia.

Como o frigorífico já havia assumido parte do endividamento para cobrir a aquisição, o atraso na aprovação do Cade acabou contribuindo para que a alavancagem da Minerva se mantivesse acima de 2,5x Ebitda. 

Vale lembrar que a companhia possui uma política de dividendos diretamente atrelada à sua alavancagem. Caso seu indicador de dívida líquida/Ebitda se encontre abaixo de 2,5x, a empresa tem o compromisso de pagar, ao menos, 50% de seu lucro líquido em dividendos para seus acionistas (o famoso payout).

Concluindo a transação, a Minerva poderá, finalmente, incorporar os novos ativos, adicionar um forte incremento de Ebitda e geração de caixa, e, assim, reduzir sua alavancagem e possibilitar novos pagamentos de dividendos aos seus acionistas.

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