Mills ainda é uma boa oportunidade? Entenda como a empresa enfrenta a concorrência

Conheça os diferenciais que tornam a Mills resiliente frente aos novos desafios do mercado

Fabiano Vaz 17/11/2024 10:30 7 min
Mills ainda é uma boa oportunidade? Entenda como a empresa enfrenta a concorrência

A Mills (MILS3), conhecida por sua atuação no setor de locação de equipamentos e soluções para construção, está em um momento decisivo.

Com mais de 70 anos no mercado, a empresa enfrenta desafios no setor de plataformas elevatórias, mas encontra oportunidades de crescimento em outras frentes. Entenda o cenário atual da Mills e as estratégias que a empresa está adotando para enfrentar a concorrência e manter seu crescimento.

Mills e a questão dos 3 corpos

O problema dos três corpos é um desafio que assombra os grandes físicos e matemáticos, e até hoje não há uma fórmula que o resolva.

Neste ano, esse ficou ainda mais famoso com a série lançada na Netflix, baseada na trilogia Lembranças do Passado da Terra de Liu Cixin. Aliás, recomendo assistir.

Basicamente, o físico Isaac Newton mostrou como podemos determinar o movimento de apenas dois corpos, como o Sol e a Terra, por exemplo. Mas, ao incluir um terceiro objeto, as coisas ficam realmente complexas, gerando um sistema caótico, sendo impossível de determinar os movimentos dos três ou mais corpos.

Crédito: Netflix e Nord Research

Apesar da menor proporção e complexidade, a disfuncionalidade em mercados como na oferta e demanda, por exemplo, também causa impactos caóticos.

É aqui que entramos no caso da Mills (MILS3), que está sendo pressionada por uma disfuncionalidade do mercado, mas que, ao mesmo tempo, é uma grande oportunidade

O impacto das plataformas chinesas no mercado brasileiro

 A Mills atua com a locação de plataformas elevatórias, geradores, empilhadeiras, tratores, escavadeiras entre muitos outros. E também possui a divisão de formas e escoramentos para grandes obras e projetos.

A diversificação de máquinas e equipamentos parece relevante atualmente, entretanto, até 2021, o foco era em plataformas elevatórias, onde possui mais de 30% de market share.

Portfólio de locação. Fonte: Mills

Dito isso, o problema com o terceiro corpo começou a aparecer no início deste ano. Desde então, observamos uma distorção no mercado de plataformas elevatórias, com a entrada do terceiro corpo: os chineses

Os chineses inundaram o mercado brasileiro, principalmente das grandes capitais, com plataformas baratas, ocasionando “caos” no mercado.

Aliás, isso não é exclusividade das plataformas, outros mercados que se moviam equilibradamente foram impactados pelo terceiro corpo chinês. As siderúrgicas, montadoras e locadoras de veículos também sofrem.

A entrada de plataformas chinesas baratas derrubou os preços da locação e reduziu a capacidade de barganha da Mills na compra de plataformas. Segundo a empresa, desde 2022, o número de concorrentes em locação de plataformas cresceu cerca de 60%.

Refletindo a maior oferta de equipamentos, nos últimos trimestres observamos as margens pressionadas nessa divisão da companhia.

Como a Mills enfrenta a competição chinesa - Resolvendo o problema dos 3 corpos

O problema dos três corpos está assustando o mercado. No mês passado, participamos de um café com a CFO da Mills e analistas que cobrem a companhia, e entre 10 perguntas, 8 eram sobre os chineses.

As ações refletem esse medo, no acumulado de 2024, a MILS3 acumula uma queda de mais de -20%.

Mas problema é momentâneo e vai normalizar, o mercado se ajusta. E esse ajuste deve vir a partir de alguns fatores:

  • nivelamento de preços: considerando que a qualidade das plataformas chinesas é, atualmente, equiparada com as marcas tradicionais dos EUA e Europa. Ou seja, em algum momento os preços vão ajustar, com os chineses querendo mais rentabilidade;
  • pós-venda (peças e mão de obra): apesar da qualidade dos chineses, o pós-venda ainda é ruim. A Mills já teve problemas com o pós-venda e precisou fazer uma seleção apurada de fabricantes e desenvolver mão de obra e fornecedores de peças nacionais;
  • precificação e competição: a guerra de preços e a maior competição vão resultar em uma seleção natural do mercado;
  • instabilidade macro: mudanças do cenário macro são relevantes, principalmente em um negócio de capital intensivo e operando em um país de juros altos.

Em linha com o último fator citado, a Mills observou que muitos concorrentes em plataformas estão se alavancando de forma bem arriscada, em cerca de 4x a 5x.

Ou seja, mesmo que demorar alguns trimestres, no momento que a maré abaixar, vamos ver quem está nadando pelado.

E assim, sem grandes esforços, a Mills terá a capacidade de ganhar mais mercado em plataformas elevatórias.

A nova estratégia da Mills: diversificação e expansão

A empresa reforçou que não vai entrar nessa guerra de preços, e que o seu tamanho, escala, baixa alavancagem e o pós-venda são os diferenciais para superar essa disfunção momentânea do mercado.

Mas a Mills está focada em impulsionar seu crescimento por meio das “novas” linhas de negócios.

Em 2021, com a aquisição da Triengel, entrou no mercado de linha amarela. Só para se ter uma ideia, esse mercado endereçável é cerca de R$ 40 bilhões, 10x maior que plataformas. E mais recentemente, no 2T24, adquiriu a JM Empilhadeira, com um mercado endereçável de R$ 14 bilhões, 4x maior que plataformas.

Além de todo o potencial de crescimento desses mercados, os contratos desses segmentos são longos (3-5 anos), proporcionando uma previsibilidade muito maior para a receita.

No 3T24, a Mills abriu pela primeira vez a representatividade de cada linha de produto.

A receita de plataformas ainda é relevante, representando 57% da receita total, entretanto, os avanços são relevantes — em 2021 ela representava mais de 80% do total.

Assim, o objetivo da companhia é que, em poucos anos, o segmento de Pesados (linha amarela) e Intralogística (empilhadeiras) juntos, sejam iguais ou maiores que Plataformas.

Projeções de crescimento para a Mills no longo prazo

O risco com competição existe e é um dos nossos pontos de atenção, mas são temas comuns em mercados em consolidação como o da Mills.

Mantendo o foco na expansão de Pesados e Intralogística, entendemos que a Mills consegue entregar um crescimento médio anual de cerca de 15% nos próximos anos, sem considerar novas aquisições e sem aumentar a alavancagem atual.

Esse crescimento poderia ser maior e até parece baixo quando comparamos com a Vamos (VAMO3) e Armac (ARML3), mas a Mills possui um perfil diferente.

A lucratividade e a rentabilidade que a Mills entrega nos últimos anos não é à toa.

Receita (cinza), Ebitda (laranja) e lucro (azul) anual de MILS3. Fonte: Bloomberg

Após sofrerem com a crise de 2015, eles entenderam que, em um país de juros altos e instável como o Brasil, um balanço saudável (endividamento baixo) vale mais do que um super crescimento.

Mesmo com a expansão e o M&A recente, a alavancagem da MILS é de apenas 1,2x Ebitda e o ROIC de 22%. A Vamos, por exemplo, está com alavancagem de 3,2x e ROIC de 14%. Já a Armac a alavancagem atual é de 2,2x e o ROIC de 20%. 

Esse diferencial de Mills fica claro quando observamos o seu lucro crescendo em média +29% ao ano desde 2021, período que tivemos o ciclo de alta dos juros.

Aproveite a oportunidade com o problema dos 3 corpos

E aqui fica a dica, assista à série O Problema dos 3 Corpos na Netflix, neste domingão, e na segunda-feira você começa avaliar e aproveitar a oportunidade que a Mills pode ser.

Enquanto o mercado se preocupa com a onda de plataformas chinesas, a Mills está impulsionando seu crescimento em mercados com um potencial muito maior.

Provavelmente, vamos observar alguma pressão na rentabilidade nos próximos trimestres, mas é momentâneo. E o foco é no longo prazo.

A Mills deve dobrar o seu tamanho nos próximos 5 anos, mantendo a sua liderança em Plataformas e impulsionando o crescimento através de Pesados e Intralogística.

MILS3 (branca), Ebitda (azul) e lucro (verde) 12 meses. Fonte: Bloomberg

Desde a recomendação de MILS3 em maio de 2022, chegamos a acumular no Nord Deep Value +91% de ganhos com a empresa. Com as ações caindo este ano, aproveitei a oportunidade para aumentar a posição.

No longo prazo, as ações seguem os resultados, mas são em momentos disfuncionais como esse que o mercado proporciona boas oportunidades.

Negociando a 5x lucros e 2,5x Ebitda 2027 (8x lucros e 5x Ebitda histórico), com ótima visibilidade de crescimento, lucrativa e rentável, aproveite essa oportunidade com MILS3 conosco.

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