Novembro em análise: os maiores ganhos e perdas no mercado
Em novembro, o Ibovespa estava andando de lado até o anúncio do tão esperado pacote de medidas para conter o crescimento das despesas. No entanto, encerrou o mês em queda de -3,1%.
O mercado não reagiu bem ao pacote, considerando-o insuficiente para solucionar a questão fiscal do país. Além disso, a possível renúncia do imposto de renda gerou preocupações.
Ainda teve o dólar alcançando a marca de R$ 6, maior patamar da sua história.
Desempenho dos principais índices em novembro
Antes de tudo, deixe-me falar brevemente sobre os juros futuros, que são uma estimativa de valor para nossa taxa básica de juros (Selic) em algum período à frente. Para a sua definição, dentre outros fatores, são levados em consideração inflação, política fiscal e monetária, PIB, dívida pública e câmbio.
Como podemos ver no gráfico abaixo, quando os juros futuros sobem, o Ibovespa tende a cair — e vice-versa.
Foi o que aconteceu após o anúncio do pacote de medidas e isenção de IR do governo, quando as expectativas para a taxa de juros em 2029 atingiram 13,8% (quanto mais alto, mais dinheiro sai da Bolsa e vai para a renda fixa).
Com as incertezas ainda no ambiente fiscal e um cenário de juros altos por mais tempo, todos os principais índices acionários encerraram o mês caindo. O IBOV encerrou em queda de -3,1%, enquanto o IDIV caiu -0,1% e o SMLL, -4,5%.
Das 86 ações que compõem o IBOV, 21 registraram uma alta no período, enquanto as outras 65 fecharam em baixa.
O principal destaque positivo do mês foi a Embraer (EMBR3), com alta de +19,9%, enquanto a maior queda foi para as ações da MRV (MRVE3), que caíram -23,7%.
Mas não se desespere nesses momentos de incertezas do mercado. Para quem não leu, recomendo a leitura da seguinte matéria do Victor Bueno: O que fazer quando a Bolsa está caindo?
Os 5 maiores ganhos em novembro
Confira a lista das cinco maiores altas do mês.
1. Embraer (EMBR3) +19,9%
No topo da lista de maiores altas de novembro, estão as ações da Embraer, que tiveram uma alta de quase +20%. No ano, já sobem mais de +160%.
Além da alta do dólar, que beneficia as suas vendas, já que mais de 90% das transações são realizadas nessa moeda, a companhia também tem apresentado um excelente resultado operacional e financeiro.
A fabricante de aviões registrou no 3T24 um backlog (carteira de pedidos firmes) recorde de US$ 23 bilhões, o maior dos últimos nove anos, representando um crescimento de mais de +25%. Além disso, registrou um lucro líquido 7x maior que o mesmo período do ano passado.
No momento, negociando a 16x lucros e 10x Ebitda, acreditamos que a companhia já esteja bem precificada e, assim, não temos recomendação de compra para EMBR3.
2. Marfrig (MRFG3) +19,6%
Em segundo lugar, está a Marfrig, após apresentar resultados no 3T24 acima das expectativas do mercado, com um lucro líquido de R$ 79 milhões, revertendo o prejuízo de R$ -112 milhões no mesmo período do ano anterior.
A BRF (BRFS3) também apresentou um excelente resultado, contribuindo ainda mais para a Marfrig, já que esse é o seu maior acionista. Ainda houve a conclusão da venda de 16 plantas industriais para a Minerva (BEEF3), que contribuirá para uma redução ainda maior de sua alavancagem.
Apesar de boas perspectivas e um múltiplo relativamente baixo de 5x Ebitda, não temos recomendação de compra para MRFG3 no momento.
3. Brava (BRAV3) +17,1%
A Brava foi outra companhia que reverteu o prejuízo, lucrando R$ 499 milhões no 3T24, apesar de ter sido impulsionado pela venda de 20% do campo Atlanta para a Westlawn, sendo assim um resultado não recorrente.
Mas a grande alta veio mesmo após a apresentação da Maha (4ª maior acionista da Brava), que reforçou o potencial da petroleira júnior em atingir uma produção acima de 100 mil barris diários já nos próximos meses, alcançar um Ebitda de US$ 1,25 bilhão em 2025 e distribuir elevados dividendos nos próximos anos.
Recomendamos compra para BRAV3 na carteira Nord Small Caps.
4. CVC (CVCB3) +17,1%
Após vinte trimestres, a CVC voltou a reportar lucro (R$ 14 milhões), além da redução do endividamento geral e reperfilamento da dívida, com aumento de prazo e redução de custo. O resultado positivo é reflexo do retorno da família fundadora, que tem focado em recuperação de participação de mercado e melhoria das margens.
No período, ainda ocorreu uma mudança no estatuto da empresa de turismo, que obriga qualquer acionista que superar o limite de 25% de participação na companhia a lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) pelas ações dos minoritários.
Mesmo com as melhores perspectivas, devido ao cenário de juros e dólar altos, não temos recomendação de compra para CVCB3.
5. Metalúrgica Gerdau (GOAU4) +12,9%
Fechando a lista das maiores altas, a Gerdau também apresentou resultados acima do esperado no 3T24.
Outro fator positivo foi a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, cujo governo adota uma política mais protecionista, incluindo medidas de aumento das tarifas sobre importações. Essa abordagem beneficia a metalúrgica, já que mais de 30% de suas vendas são provenientes de suas fábricas no país norte-americano.
No entanto, negociando a 7x lucros (em linha com a sua média histórica), não temos recomendação de compra para GOAU4.
As 5 maiores perdas em novembro
Confira a lista das cinco maiores quedas do mês.
1. MRV (MRVE3) -23,7%
No topo da lista das maiores baixas do mês de novembro, estão as ações da MRV.
Mesmo apresentando um lucro líquido de R$ 17 milhões no 3T24, revertendo o prejuízo de R$ -21 milhões no 3T23, além de reafirmar o guidance para 2024, o mercado considerou os seus resultados neutros. A construtora ainda foi uma das que mais sofreram nos pregões sangrentos após o anúncio do pacote de corte de gastos do governo juntamente com a isenção de IR.
Este ano está marcando um importante ponto de inflexão nos resultados da MRV, que ainda sofrem com o fim da safra da pandemia passando por seu balanço e em 2025 a tendência é de um resultado bem mais forte.
Além disso, a empresa possui um robusto landbank (terrenos para construção) para consumir e os volumes de vendas estão crescendo forte, mesmo com os preços subindo acima da inflação.
Com um guidance de R$ 1,5 bilhão em lucro no médio prazo (isso apenas da operação de incorporação no Brasil) e valendo apenas R$ 2,9 bilhões na Bolsa atualmente, recomendamos compra para MRVE3 na carteira Nord 10X.
2. Hapvida (HAPV3) -23,3%
Desconsiderando os efeitos não recorrentes nos resultados do 3T24, a Hapvida reportou um prejuízo de R$ -71 milhões, versus um resultado também negativo de R$ -207 milhões no mesmo período do ano passado.
A melhora foi impulsionada, principalmente, pelos reajustes de preços nas suas principais linhas de negócio de planos de saúde e odontológicos, trazendo um melhor equilíbrio financeiro e recomposição do ticket médio. No entanto, o número de beneficiários apresentou uma leve queda, refletindo a alta concorrência do setor.
Com os prejuízos que a companhia vem reportando e um cenário macroeconômico desafiador, não recomendamos compra para HAPV3.
3. Lojas Renner (LREN3) -18,9%
Mesmo com os resultados positivos no 3T24, com a Renner apresentando um crescimento de +48% no seu lucro líquido, as suas ações entraram em tendência de queda após a divulgação, o que consideramos uma excelente oportunidade.
Encerrando o maior ciclo de investimentos da história da companhia (foco em logística e tecnologia), a varejista está agora em outro patamar de competitividade e pronta para entregar um ciclo robusto e consistente de crescimento, com aumento de rentabilidade e geração de caixa.
Adicionalmente, a companhia possui uma posição de caixa extremamente confortável (R$ 1,4 bilhão em caixa líquido) e deverá acelerar o ritmo de abertura de lojas a partir do próximo ano. Esperamos um crescimento médio de 15% a.a. nos próximos anos, ou seja, um potencial para dobrar o lucro em 5 anos.
Negociando a apenas 5x Ebitda e com uma perspectiva de um sólido crescimento nos próximos anos, recomendamos compra para LREN3 na carteira Nord 10X.
4. Cyrela (CYRE3) -15,4%
As ações da Cyrela estavam praticamente andando de lado até o dia do anúncio do já comentado pacote de gastos, quando viu seus papéis entrarem em forte queda, apesar do resultado robusto no 3T24, com crescimento de +88% no seu lucro líquido. Acreditamos que seja devido ao setor de construção civil, um dos que mais sofrem com os juros altos.
No setor, temos preferência pela Lavvi (LAVV3) e recomendamos compra para as suas ações na carteira Nord Small Caps.
5. CSN Mineração (CMIN3) -15,0%
Por fim, fechando a lista das maiores quedas de novembro, as ações da CSN Mineração foram impactadas pelo baixo preço do minério de ferro no período, fazendo com que o seu lucro líquido caísse -63% na comparação anual, mesmo com o maior volume de vendas.
Preferimos a Vale (VALE3) no segmento de mineração e recomendamos compra para as suas ações na carteira Nord Dividendos.
O que esperar daqui para frente?
Mesmo não sendo suficiente para conter o aumento da dívida pública, a possível aprovação do pacote pelo Congresso trouxe um alívio para o Ibovespa (+0,85%) no último pregão do mês.
Esse movimento ocorreu após os presidentes da Câmara e do Senado anunciarem que serão rápidos para aprovar o pacote de corte de gastos, mas que a possível mudança do IR (isenção abaixo de R$ 5 mil e criação de outro de 10% acima de R$ 50 mil) ficará para 2025 e será analisado com cautela.
Além disso, a indicação de Lula de três novos diretores para o Banco Central (sendo um deles, o diretor de operações de tesouraria do Bradesco) também agradou ao mercado.
São nesses momentos de incertezas que a Bolsa nos apresenta várias pechinchas. Mas tomem cuidado com as value traps (armadilhas de valor), que são ações que parecem baratas, mas estão caras.