História da cotação do Dólar: relembre as maiores altas e baixas
O dólar norte-americano é uma das moedas mais impactadas por eventos globais, registrando grandes oscilações em períodos de crise e incerteza. A seguir, exploramos alguns dos momentos históricos mais marcantes de alta volatilidade do dólar, incluindo tanto valorizações quanto desvalorizações significativas em um único dia ou durante curtos períodos.
Eleições no Brasil de 2002: forte desvalorização do Real e alta do Dólar
As eleições presidenciais de 2002 no Brasil foram um dos momentos de maior volatilidade para o dólar em relação ao real. Naquele ano, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, liderava as pesquisas, o que gerou apreensão no mercado devido a incertezas sobre as políticas econômicas de um eventual governo de esquerda.
Entre o início do ano e outubro, quando Lula foi eleito, o dólar se valorizou cerca de 50% em relação ao real, atingindo picos históricos. O valor do dólar saltou de cerca de R$ 2,30 em janeiro para mais de R$ 4,00 em outubro de 2002. Essa valorização extrema refletia o temor dos investidores sobre uma possível ruptura com políticas econômicas ortodoxas e a fuga de capital para ativos considerados mais seguros.
Após a eleição, no entanto, o governo Lula implementou políticas econômicas que acalmaram o mercado, levando a uma gradual estabilização do câmbio nos anos seguintes.
Crise financeira de 2008: forte valorização do dólar
Um dos momentos mais dramáticos de oscilação do dólar aconteceu durante a crise financeira de 2008. A falência do Lehman Brothers, em setembro de 2008, desencadeou uma fuga para ativos seguros. O dólar se valorizou de forma significativa, variando mais de 5% em alguns dias no índice DXY (que mede o dólar contra uma cesta de moedas). Em um período mais longo, entre setembro de 2008 e março de 2009, o dólar subiu cerca de 22% em relação ao euro, refletindo a extrema aversão ao risco que tomou conta dos mercados globais.
Flash Crash de 2010: Oscilações abruptas em questão de minutos
Em 6 de maio de 2010, um evento chamado "Flash Crash" afetou drasticamente o mercado de ações dos EUA. Em questão de minutos, as ações despencaram, e o mercado cambial também experimentou uma volatilidade elevada. O dólar teve oscilações bruscas contra o euro e outras moedas, chegando a variar aproximadamente 3% em questão de horas. Esse evento foi causado por ordens automatizadas e algoritmos de alta frequência, que amplificaram os movimentos do mercado em um curto espaço de tempo.
Crise do teto da dívida dos EUA em 2011: desvalorização do dólar
Em 2011, um impasse político em torno do teto da dívida dos EUA gerou preocupações sobre a possibilidade de um calote no pagamento das obrigações do governo. Durante esse período de incerteza, o dólar sofreu uma desvalorização significativa. O índice DXY caiu cerca de 5%, enquanto o dólar perdeu 9% em relação ao franco suíço em um único mês. Esse episódio demonstrou como incertezas fiscais e políticas podem afetar a confiança no dólar, provocando uma fuga para outras moedas consideradas seguras.
Colapso do Rublo em 2014: valorização acentuada do dólar
Em dezembro de 2014, a moeda russa, o rublo, sofreu uma desvalorização histórica devido às sanções internacionais e à queda dos preços do petróleo. Em um único dia, o dólar se valorizou mais de 10% em relação ao rublo. A intervenção do Banco Central da Rússia para estabilizar a moeda não conseguiu conter a volatilidade, e o rublo continuou em queda livre. Esse movimento refletiu a fuga de capital da Rússia e a busca dos investidores por segurança em meio às incertezas econômicas e políticas no país.
Brexit em 2016: aumento abrupto do valor do dólar
Em 23 de junho de 2016, o Reino Unido votou pela saída da União Europeia, um evento histórico conhecido como Brexit. Após o resultado do referendo, a volatilidade do mercado cambial disparou. A libra esterlina teve uma queda expressiva de 8% em um único dia, enquanto o dólar se valorizou rapidamente em relação a outras moedas, com variações diárias superiores a 3%. Esse movimento refletiu a busca dos investidores pela segurança do dólar diante do cenário incerto gerado pelo Brexit.
Eleição de Donald Trump nos EUA em 2016: queda e recuperação do dólar
A eleição de Donald Trump em 2016 foi um dos eventos mais inesperados na política americana recente, e o dólar respondeu com alta volatilidade. Durante a madrugada da apuração dos votos, o dólar inicialmente caiu cerca de 2% em relação ao iene japonês e 1,5% em relação ao euro, refletindo o choque do mercado com a vitória de Trump, considerado um outsider político. No entanto, ao longo do dia seguinte, o dólar se recuperou rapidamente e terminou com uma valorização de aproximadamente 3%, conforme os investidores reagiram positivamente às promessas de corte de impostos e estímulo fiscal.
Esse episódio mostrou como a incerteza inicial pode rapidamente se transformar em otimismo quando as propostas do novo governo são vistas como favoráveis ao crescimento econômico, destacando o efeito das políticas econômicas sobre a percepção de risco e a valorização do dólar.
Eleições no Brasil de 2018: alta volatilidade e busca por estabilidade
Em 2018, as eleições presidenciais no Brasil geraram uma volatilidade intensa no mercado cambial, especialmente devido à polarização política entre os candidatos Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Bolsonaro, com um discurso de reformas econômicas liberais, era visto pelo mercado como mais favorável a uma política de austeridade e privatizações. Já Haddad, candidato do Partido dos Trabalhadores, era associado a uma possível continuidade de políticas intervencionistas.
Durante as semanas de campanha, o dólar atingiu picos de volatilidade, chegando a ser cotado em torno de R$ 4,20. Após a vitória de Bolsonaro, o dólar registrou uma leve queda, refletindo a expectativa de que o novo governo promoveria reformas pró-mercado. No entanto, ao longo do mandato, a instabilidade política e a pandemia de COVID-19 impactaram novamente o câmbio, levando a oscilações significativas.
Guerra Comercial EUA-China em 2019: pressão para baixa do Dólar
A guerra comercial entre Estados Unidos e China, intensificada em 2019, também gerou momentos de desvalorização do dólar. Em agosto de 2019, após a China desvalorizar o yuan e ameaçar retaliar as tarifas dos EUA, o dólar caiu cerca de 2% em relação ao euro em um único dia e perdeu 3% contra o iene no mesmo período. Esse episódio refletiu as preocupações dos investidores com o impacto da guerra comercial sobre o crescimento econômico global e a estabilidade dos mercados.
Pandemia de COVID-19 em 2020: corrida pela liquidez e valorização do dólar
Com o início da pandemia de COVID-19, em março de 2020, os mercados financeiros globais enfrentaram turbulências sem precedentes. Em poucos dias, o dólar se valorizou cerca de 7% no índice DXY, impulsionado pela corrida dos investidores por liquidez e segurança. Em contrapartida, também houve momentos de desvalorização acentuada, à medida que o Federal Reserve (Fed) anunciou uma série de medidas emergenciais para fornecer liquidez ao sistema financeiro. Essa volatilidade refletia o nervosismo dos investidores em relação ao impacto econômico da pandemia.
Eleição de Joe Biden nos EUA em 2020: incerteza e busca por segurança
A eleição de Joe Biden em 2020 ocorreu em meio à pandemia de COVID-19 e a uma série de tensões políticas nos EUA. Durante o período de apuração, que durou vários dias, o dólar oscilou significativamente. Com o aumento das expectativas de uma vitória democrata, houve uma desvalorização do dólar de cerca de 2% no índice DXY durante a semana de eleição, refletindo a previsão de maiores estímulos fiscais e uma política monetária mais expansionista.
Após a confirmação da vitória de Biden, o dólar continuou a se desvalorizar em relação a outras moedas, especialmente devido às expectativas de que sua administração adotaria políticas mais voltadas ao aumento de gastos públicos. No entanto, ao longo de 2021, essa pressão de baixa foi gradualmente revertida com a recuperação econômica pós-COVID-19 e as perspectivas de normalização da política monetária pelo Federal Reserve.
Eleições no Brasil de 2022: alta do Dólar com incertezas políticas
A eleição presidencial de 2022 no Brasil, que marcou uma nova disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, foi outro momento de incerteza que gerou volatilidade no câmbio. Durante o período eleitoral, o dólar registrou alta em relação ao real, atingindo cerca de R$ 5,40 em alguns momentos, refletindo a cautela dos investidores em relação ao possível impacto das políticas econômicas dos candidatos.
Após a vitória de Lula, o dólar voltou a oscilar, com investidores avaliando os sinais de política econômica dados pela nova administração. O mercado monitorou de perto temas como responsabilidade fiscal, reformas econômicas e gastos públicos, fatores que continuaram a impactar a moeda ao longo dos meses seguintes.
Invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022: valorização do dólar em momento de tensão geopolítica
No final de fevereiro de 2022, a invasão da Ucrânia pela Rússia causou forte instabilidade nos mercados financeiros globais. Durante esse período, o dólar se valorizou cerca de 4% em relação ao euro e a outras moedas importantes. Esse aumento refletia a busca dos investidores por segurança em ativos como o dólar, enquanto moedas de mercados emergentes, como o rublo russo, despencavam. A instabilidade causada pela guerra intensificou a volatilidade, destacando o papel do dólar como moeda de refúgio.
Eleições de 2024 entre Trump e Kamala e a alta do Dólar: quase R$6 no Brasil
As eleições presidenciais de 2024 nos Estados Unidos, disputadas entre Donald Trump e Kamala Harris, trouxeram uma nova onda de volatilidade para o mercado cambial, em especial após o anúncio da vitória de Trump. Com um cenário de intensa polarização e incertezas em relação ao futuro das políticas econômicas, o dólar teve uma valorização significativa, especialmente em relação ao real brasileiro, chegando a se aproximar de R$6. Essa alta reflete o nervosismo dos investidores diante do clima eleitoral e o possível impacto de uma mudança de governo nas políticas internas e externas dos EUA.
Conclusão: o dólar como indicador de sentimento de mercado
Esses eventos históricos destacam como o dólar é sensível a crises e incertezas globais, sendo frequentemente impactado por fatores externos, como crises financeiras, tensões políticas e eventos inesperados. Em momentos de alta aversão ao risco, o dólar tende a se valorizar devido à sua reputação de moeda de refúgio. Em contrapartida, eventos que indicam recuperação econômica ou diminuem a percepção de risco podem levar à desvalorização do dólar. Como um dos principais indicadores de sentimento de mercado, o dólar reflete a confiança (ou falta dela) dos investidores na estabilidade global, tornando suas oscilações um termômetro valioso para entender os impactos de eventos globais.