Juros americanos: à espera dos próximos capítulos
Nesta quarta-feira, 5, ocorreu a divulgação da ata da última reunião do Fomc, o comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed) — em minha visão, veio um pouco mais hawk.
A grande questão da ata é o debate da resiliência da atividade econômica americana e do mercado de trabalho frente a todos os aumentos de juros feitos.
Essa é a grande charada que os membros estão buscando entender. Será que já foi feito o suficiente para convergir para a meta de 2%? Será que exigem novos aumentos?
A visão deles sobre a atividade estar forte vem do fato de que ainda existe poupança fruto dos estímulos, então o consumo se mantém forte.
“A few participants mentioned that while, overall, the household sector still retained much of the excess savings it had accumulated during the pandemic."
O consumo se mantém forte, o emprego se mantém forte e segue pressionando os salários.
Com a atividade tão forte, o setor de serviços não desacelera e a inflação de serviços fica muito pressionada. É por isso que hoje a medida preferida do Fed é olhar o núcleo de serviços ex housing, então estão focados em ver se há melhoras nisso.
Ainda que alguns membros tenham sugerido mais uma alta de 0,25 p.p na reunião, a maioria achou que era razoável fazer uma pausa para avaliar os impactos dos juros já feitos sobre a atividade e inflação nuclear começar a ceder.
Se a inflação de serviços ex housing seguir pressionada, o Fed vai manter os juros em patamares restritivos para acomodar a inflação. Isso fica bem claro neste trecho:
“In discussing the policy outlook, all participants continued to anticipate that, with inflation still well above theCommittee’s 2 percent goal and the labor market remaining very tight, maintaining a restrictive stance for monetary policy would be appropriate to achieve the Committee’s objectives."
Próximos passos do Fed
O segredo para entender os próximos passos do Fed é, sem dúvidas, analisar o setor de serviços e os dados de emprego. Ainda que os dados estejam desacelerando, é necessário avaliar a consistência dos resultados.
Ao menor sinal de espaço para uma resiliência maior do segmento de emprego ou de serviços, o mercado vai puxar juros americanos para cima (afinal, hoje o mercado precifica quedas à frente).
Hoje, o dilema é que a bolsa parece cara para padrões históricos, chegando a oferecer prêmios de risco negativos. Enquanto isso, a renda fixa americana segue precificando uma recessão iminente (com cortes de 100bps na curva ).
Algo entre esses dois não parece estar fazendo sentido.