Juro longo disparando: e os FIIs com isso?

Será que os FIIs passarão incólumes em um cenário de manutenção das altas recentes dos juros futuros?

Marx Gonçalves 30/09/2023 08:00 5 min
Juro longo disparando: e os FIIs com isso?

O mercado está de péssimo humor nos últimos dias!

Vimos o IBOV devolver parcialmente os ganhos que havia conquistado nos últimos meses e o dólar voltar a negociar acima dos R$ 5,00.

Já o índice das empresas de baixa capitalização (Small Caps), que são mais sensíveis às variações das taxas de juros, já acumula uma queda próxima a 3,5% no mês, também devolvendo parte relevante dos ganhos auferidos desde maio.

Evolução do SMLL em 2023.
Evolução do SMLL em 2023. Fonte: Bloomberg.

Juro longo para cima

É sempre difícil explicar por que o mercado está caindo ou subindo. Até mesmo porque, via de regra, a piora do humor vem de uma soma de fatores, o que até pode ser o caso novamente.

Mas é como a Marilia sempre diz: “a taxa de juros é a mãe da Bolsa”!

Temos visto uma verdadeira disparada nos juros dos títulos públicos de longo prazo norte-americanos nos últimos tempos, cujo rendimento já atinge o maior nível dos últimos anos.

Evolução dos juros americanos de 10 anos.
Evolução dos juros americanos de 10 anos. Fonte: Bloomberg.

Já imaginou ser remunerado em Dólar + 4,62% a.a.?

Nada mal, não é mesmo?

Pois bem, por ser o principal preço do mundo, as altas dos juros das Treasuries têm implicações diretas nos mercados globais, incluindo o Brasil.

Afinal, não somos uma ilha isolada do mundo.

A pressão externa dos títulos norte-americanos e a percepção do mercado de maior risco fiscal por aqui vêm empurrando o nosso juro futuro para cima também.

O mercado já espera uma Selic próxima a 10% a.a. no final do ciclo de queda de juros a ser promovido pelo Copom até o final do ano que vem, sendo que a expectativa até poucas semanas atrás era de uma Selic mais próxima de 9% a.a.

Copom
Fonte: Bloomberg.

Além disso, a taxa do Tesouro IPCA+ de longo prazo já está novamente em níveis próximos a IPCA + 6% a.a., sendo uma importante concorrência para a bolsa.

Evolução do Tesouro IPCA+2045.
Evolução do Tesouro IPCA+2045. Fonte: Tesouro Direto.

E os FIIs com tudo isso?

Por mais surpreendente que pareça, o IFIX manteve um desempenho mais ou menos estável em setembro, mesmo com outros mercados enfrentando dificuldades.

Desempenho do IFIX desde o início do ano.
Desempenho do IFIX desde o início do ano. Fonte: Bloomberg.

É de conhecimento geral que, além de serem excelentes geradores de renda passiva recorrente,  os FIIs desempenham um papel importante na carteira do investidor devido à sua menor volatilidade em comparação com outros ativos de risco.

Mas será que eles passarão incólumes caso as altas recentes dos juros futuros se mantenham?

Para responder a essa pergunta, é preciso lembrar de um ponto importante.

Os preços dos ativos imobiliários também possuem uma relação inversa com o nível das taxas de juros de uma economia.

Taxas de juros em patamares baixos tendem a impulsionar o mercado imobiliário, além de incentivar os poupadores a investir em ativos de risco, gerando um efeito duplamente positivo sobre os FIIs.

Por outro lado, um aumento das taxas de juros eleva a aversão ao risco dos investidores e inibe a atividade econômica, desaquecendo o mercado imobiliário. Nesse caso, o efeito sobre os ativos imobiliários é negativo.

Essa relação inversa fica muito clara quando comparamos o desempenho histórico do IFIX com a taxa de um título do governo de vencimento longo…

Relação do IFIX (azul) com a taxa do Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2050 (branco).
Relação do IFIX (azul) com a taxa do Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2050 (branco). Fonte: Bloomberg.

Sendo assim, embora os fundos imobiliários realmente não estejam sendo muito afetados pelos recentes movimentos de mercado, não podemos atribuir isso apenas à sua menor volatilidade; talvez outros fatores também estejam contribuindo.

O primeiro é que o IFIX é basicamente uma média do mercado e que atualmente é composto principalmente por FIIs de papel (44%), que geralmente não são tão afetados quanto os FIIs de Tijolo e FOFs pelas mudanças nas taxas de juros futuros.

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Outro ponto importante a considerar é que acabamos de ultrapassar o último dia útil do mês, que é a data “com” direito ao recebimento de rendimentos da maior parte dos fundos da indústria.

Embora não seja necessário esperar pela data “com” de um FII para vendê-lo, uma vez que as cotas ficam ex-rendimentos no dia útil seguinte, o fato é que muitos investidores ainda aguardam esse período para ajustar suas posições.

Esse pode ser também um dos motivos que explicam a menor pressão vendedora do mercado nos últimos dias.

Claro que isso é apenas uma suposição. Precisaremos aguardar alguns dias para ter uma análise mais precisa.

Conclusão

Apesar das perspectivas serem boas tanto para as ações quanto para os FIIs daqui em diante, já que estamos apenas no início do ciclo de queda da Selic, as altas das taxas de juros de longo prazo, tanto lá fora quanto no Brasil, são um sinal de alerta que merece a atenção do investidor, dada a possibilidade de impacto nesses mercados.

Mesmo considerando esse alerta, não acho que o momento é para pânico, mas também não tomaria nenhuma decisão precipitada agora no meio do furacão.

Me parece ser muito mais aquele momento em que devemos aproveitar para pensar com calma na estratégia que traçamos anteriormente para nossos investimentos.

Se surgirem boas oportunidades em FIIs de qualidade e com perspectivas favoráveis, pode ser até mesmo um bom momento para aumentar a sua participação nesses ativos, desde que você veja espaço para isso.

Isso porque, em um cenário de maior volatilidade como o atual, a pior estratégia que um investidor pode adotar é a de carregar uma posição em ativos de risco superior à que efetivamente consegue suportar.

Sigo vendo ótimas oportunidades nos Fundos Imobiliários, mas tenho dito aos assinantes do Nord FIIs para investirem com calma e sempre manter um caixa para futuras oportunidades.

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