Ibovespa desaba para 97 mil pontos com juros no radar
O Ibovespa perdeu o nível dos 100 mil pontos pela primeira vez desde julho, com abertura da curva de juros após a decisão do Copom e críticas do governo ao patamar dos juros.
Na contramão de NY, a bolsa brasileira fechou em queda de 2,29% na quinta-feira, 23, aos 97.926 pontos.
Risco fiscal e inflação no radar
O Copom manteve na quarta-feira, 22, a taxa Selic em 13,75% ao ano, conforme já projetava o mercado, mas adotou um tom mais duro (hawkish) no comunicado, sem chance de antecipar cortes de juros.
O que mais pesou no comunicado foi o fato de as expectativas de inflação ainda estarem subindo, conforme dito aqui na newsletter de quinta.
O dado mais recente de inflação, medido pelo IPCA de fevereiro, mostra alta de 5,60% nos últimos 12 meses. A meta para 2023 é de 3,25% e o teto é de 4,75%.
O resultado também ficou acima da expectativa média do mercado, hoje, em 5,95% ao ano.
O mercado aguarda a definição do time econômico. Sem uma âncora fiscal crível para o país, o cenário de queda de juros será mais difícil.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo fechou detalhes sobre a proposta do novo marco fiscal, e que a data limite para apresentação é 15 de abril.
Não é hora de vender
Em meio às críticas do governo aos juros altos, crise bancária externa e caso de crédito da varejista Americanas, a bolsa brasileira atingiu a pior marca em 8 meses.
A deterioração do cenário macro e os ruídos políticos desde o fim das eleições impulsionaram os juros e derrubaram a bolsa.
Investidores institucionais tomando resgates e desmontando suas posições e o fluxo negativo dos estrangeiros na bolsa intensificaram a queda do mercado nos últimos meses.
Neste momento, os vieses comportamentais dos investidores se afloram e nos fazem tomar decisões que não tomaríamos em momentos de cabeça fria.
O pior momento para vender é em quedas como vimos ontem, principalmente ações de boas empresas. Para se ter uma ideia, o P/L e EV/Ebitda do índice Ibovespa e Small Cap negociam a níveis extremamente baixos, reflexo da queda das ações e do crescimento dos resultados.
No gráfico abaixo, podemos observar o crescimento dos resultados das empresas, principalmente pelo Ebitda do Small Cap — índice que reflete melhor a economia brasileira, pois não tem o peso das grandes empresas de commodities e bancos como o Ibovespa.
Deixando nossos vieses de lado, estamos diante de um momento raro que pode se traduzir em retornos interessantes no futuro.
Com o mercado precificando boas empresas (com visibilidade crescimento) a bons preços (múltiplos baixos), pode fazer sentido tomar um pouco de risco, principalmente em exportadoras e companhias que possuem parte da sua receita em dólar.
Como não sabemos o que vai acontecer no futuro, vamos com paciência e por meio de boas empresas aproveitando as oportunidades que o mercado proporciona.
Seria essa a Vingança das Sardinhas: Parte II?