HAPV3, QUAL3, RDOR3 amargam perdas. É hora de comprar ações do setor de saúde?

Em 2023, as ações da Hapvida (HAPV3) registram queda de -12%, e a Qualicorp (QUAL3), queda de -14%, com preocupações em torno do setor

Rafael Ragazi 16/06/2023 14:28 4 min
HAPV3, QUAL3, RDOR3 amargam perdas. É hora de comprar ações do setor de saúde?

A crise no setor de saúde veio justamente quando o segmento apostava forte em fusões e aquisições (M&A).

Em 2021, o lucro das operadoras de saúde foi de R$  3,8 bilhões segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Em 2022, com a “ressaca da pandemia”, essas companhias registraram um prejuízo conjunto de R$ 12 bi.

Uma queda abrupta no ano passado se compararmos ao lucro recorde de R$  18,7 bi registrado em 2020, com a chegada da pandemia.

Operadoras amargam perdas

A crise se traduz na Bolsa. As ações seguem afetadas pelas preocupações em torno do setor de saúde. Em 2023, Hapvida (HAPV3) registra queda de -12%, e a Qualicorp (QUAL3), queda de -14%. No acumulado de 12 meses, ambas recuam -25% e -62%, respectivamente.

Desempenho ações do setor de saúde em 2023
Desempenho das ações da Rede D’Or (linha branca), Hapvida (linha azul) e Qualicorp (linha laranja). Fonte: Bloomberg

Reajustes do plano de saúde

A situação piora por conta dos reajustes abaixo do aumento dos custos que a ANS concede para os planos individuais. Na segunda-feira, 12, a agência reguladora autorizou o aumento em até 9,63% dos planos individuais e familiares neste ano.

O reajuste anual é válido entre maio deste ano e abril de 2024 para os planos individuais e familiares contratados a partir de janeiro de 1999 ou adaptados à lei nº 9.656/98.

Entendendo o problema

De um lado, consumidores reclamam dos sucessivos aumentos de preços, da redução da rede credenciada e da obstrução de coberturas. De outro, as operadoras de planos de saúde fecharam o ano de 2022 com um prejuízo de R$ 12 bilhões, ante uma receita de R$ 265 bilhões.

O grande problema está nos planos individuais, que apenas 4% da população tem acesso, por conta da baixa oferta por parte das operadoras. Essa baixa disponibilidade tem origem no fato de que esses planos estão deixando de ser oferecidos nos últimos 20 anos.

As operadoras não os comercializam porque os reajustes que a ANS concede são subdimensionados e descolados dos aumentos dos custos médico-hospitalares. Como as carteiras não foram oxigenadas com clientes mais jovens, os custos (sinistros) explodiram.

No caso dos planos coletivos, as operadoras podem aumentar preços, rescindir contratos ou não renová-los em seu aniversário anual. Nos últimos nove anos, o reajuste mediano dos planos de saúde ficou em 350%, enquanto nos planos individuais a ANS autorizou 140% de reajuste.

O caos nos planos é apenas a ponta do iceberg; as fraudes também se tornaram um grande problema.

Estima-se que elas atinjam 35% de todos os procedimentos médicos realizados no país. Os reembolsos pagos pelas operadoras explodiram de R$ 6 bilhões em 2019 para R$ 11 bilhões em 2022.

Diante desse cenário desafiador, é hora de “comprar mais ações do setor de saúde ou vender tudo?”

Cenário para Rede D’Or e SulAmérica

No caso da SulAmérica, adquirida pela Rede D’Or (RDOR3), apenas 2% dos beneficiários estão na modalidade individual, ainda assim, como todas as operadoras, a companhia também sofre com uma sinistralidade cerca de 10 p.p. acima da média e com as elevadas fraudes.

As perspectivas para o setor são desafiadoras, estamos acompanhando de perto como isso pode afetar os resultados da Rede D’Or. Apesar de não estar contribuindo muito, a SulAmérica entregou um Ebitda positivo de R$ 118 milhões no 1T23.

Demais empresas do setor

A Hapvida realizou seu investor day recentemente e o mercado gostou da mensagem que foi passada. A companhia disse novamente que o foco do curto prazo é a rentabilidade e falou de um reajuste médio de 15% em seus planos neste ano.

A empresa pretende avançar na sua verticalização e na integração das operações adquiridas na fusão com a Intermédica. O foco na recuperação das margens poderá vir em desfavor do crescimento.

Apesar de que o mercado reagiu bem às sinalizações, não é a primeira vez que a empresa faz promessas de melhora. A sequência de decepções levou a companhia ao grupo de ações que mais caíram recentemente.

Gostamos do setor e reiteramos nossa preferência para as ações da Rede D'Or.


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