O que é grupamento de ações e como ele impacta investidores

Entenda o que é grupamento de ações, por que ele é usado por empresas, como funciona, e quais as vantagens e desvantagens dessa prática no mercado de capitais

Nord Research 22/10/2024 16:48 7 min
O que é grupamento de ações e como ele impacta investidores

O mercado financeiro é dinâmico e frequentemente apresenta mudanças que podem impactar tanto as empresas quanto os investidores. Um dos mecanismos utilizados por empresas para se ajustarem a essas realidades é o grupamento de ações.

Continue neste artigo para entender como funciona esse processo, suas vantagens e desvantagens, a diferença em relação ao desdobramento, além de discutir casos recentes que ilustram essa estratégia no mercado brasileiro.

Sumário

O que é grupamento de ações?

O grupamento de ações, também conhecido como "inplit", é um processo no qual uma empresa agrupa vários papéis de menor valor em uma única ação de valor maior. Isso é feito sem alterar o valor total do investimento do acionista.

Por exemplo, em um grupamento de 5 para 1, cinco ações de R$ 2 cada são unidas em uma ação de R$ 10. O número total de papéis diminui, mas o valor de cada papel aumenta proporcionalmente.

Por que as empresas fazem grupamento de ações?

As companhias realizam o grupamento de ações por diferentes motivos, sendo o principal deles a necessidade de evitar que suas ações sejam classificadas como "penny stocks" — que são negociadas por menos de R$ 1. Na B3 (Bolsa de Valores do Brasil), empresas cujos papéis ficam abaixo desse valor por mais de 30 pregões consecutivos são obrigadas a fazer um grupamento ou podem ser retiradas da Bolsa.

Outro motivo comum é reduzir a volatilidade das ações. Quando os preços são muito baixos, pequenas oscilações podem causar grandes variações percentuais, o que desestabiliza o mercado e prejudica a companhia.

Como funciona um grupamento de ações?

O grupamento de ações segue um processo definido.

Primeiro, a empresa deve convocar uma assembleia de acionistas para aprovar o grupamento e a proporção a ser aplicada (como 2 para 1, 5 para 1 etc.).

Após a aprovação, o novo valor unitário da ação é ajustado, e o número total de papéis disponíveis no mercado é reduzido de acordo com a proporção definida. Esse processo, no entanto, não altera o valor do capital social da empresa nem o patrimônio dos acionistas. 

O que muda para o investidor?

Para os investidores, o grupamento de ações não altera o valor total do seu patrimônio. O que muda é apenas o número de papéis e o valor unitário de cada uma

Por exemplo, se um investidor tinha 100 ações de R$ 1 antes do grupamento, ele passará a ter 50 de R$ 2 após um grupamento 2 para 1. Seu investimento total continua sendo de R$ 100. Além disso, é importante observar que a liquidez da ação pode mudar, dependendo da demanda do mercado por esses papéis após o grupamento.

Quais as vantagens do grupamento de ações?

Entre as principais vantagens do grupamento de ações estão:

  • redução da volatilidade: com ações de valor mais elevado, pequenas oscilações no preço têm um impacto menor, o que diminui a volatilidade;
  • ajuste à regulamentação: companhias evitam a deslistagem ou multas da B3 ao ajustarem os preços das ações para acima de R$ 1;
  • melhoria na percepção de valor: o mercado pode passar a ver a empresa de forma mais positiva, o que pode atrair novos investidores;
  • proteção contra especulação: ações com preços muito baixos são mais suscetíveis a movimentações especulativas, e o grupamento ajuda a conter esses efeitos.

Quais as desvantagens do grupamento de ações?

Apesar das vantagens, o grupamento de ações também apresenta alguns riscos e desvantagens:

  • queda contínua no valor dos papéis: o grupamento não garante uma recuperação no preço das ações. Se os fundamentos da empresa não forem sólidos, elas podem continuar a cair após o processo;
  • percepção negativa: investidores podem interpretar o grupamento como um sinal de que a companhia está em dificuldades, o que pode desanimar novos aportes;
  • liquidez reduzida: com menos ações em circulação, pode haver menor liquidez, dificultando a compra e venda de papéis no mercado.

Qual é a diferença entre desdobramento e grupamento de ações?

O desdobramento de ações, conhecido como "split", é o processo inverso do grupamento. No desdobramento, uma ação de maior valor é dividida em várias de valor menor, aumentando o número de papéis no mercado. O objetivo do desdobramento é aumentar a liquidez da ação, tornando-a mais acessível a um maior número de investidores.

Por exemplo, em um desdobramento 1 para 5, uma ação que vale R$ 100 é dividida em cinco ações de R$ 20 cada. Já no grupamento, ocorre o oposto: várias ações de menor valor são combinadas em uma de maior valor.

Como declarar grupamento e desdobramento de ações no Imposto de Renda?

Tanto o grupamento quanto o desdobramento de ações não alteram o valor total do investimento, apenas a quantidade e o valor unitário dos papéis. No Imposto de Renda, o investidor deve ajustar a quantidade de ações na declaração, mas sem alterar o valor original de compra. No caso de grupamento, o número de ações será reduzido, e no desdobramento, ele será aumentado, mas o valor total do patrimônio permanece o mesmo.

Casos recentes de grupamento de ações

Nos últimos anos, várias empresas adotaram o grupamento de ações para ajustar seus preços e reduzir a volatilidade. Aqui estão alguns exemplos recentes:

Casas Bahia (BHIA3)

Em novembro de 2023, a varejista também realizou um grupamento de 25 para 1. Assim como outras empresas do setor, o objetivo foi conter a volatilidade e melhorar a percepção do mercado sobre a companhia em meio a dificuldades econômicas.

Mesmo com o agrupamento, a incerteza em relação ao futuro da empresa persiste. Para investidores que priorizam segurança e estabilidade, é recomendável considerar opções mais confiáveis no mercado.

Magazine Luiza (MGLU3)

Em abril de 2024, a varejista brasileira anunciou um grupamento de 10 para 1. Com a medida, a empresa buscou evitar que o preço de suas ações caísse para níveis que pudessem classificar os papéis como "penny stocks" e, ao mesmo tempo, reduzir a volatilidade no mercado.

Ainda assim, o cenário atual ainda apresenta riscos. A recente volatilidade no setor pode afetar o desempenho das ações. Para investidores em busca de segurança, é aconselhável explorar outras oportunidades que possam oferecer um equilíbrio mais favorável entre risco e retorno, enquanto a empresa busca solidificar sua posição no mercado.

Americanas (AMER3)

Mais recentemente, em agosto de 2024, a Americanas também realizou um grupamento de 100 para 1, uma ação necessária após a forte desvalorização de seus papéis devido a problemas contábeis e crises internas que afetaram a confiança do mercado. O processo não diminuiu os riscos associados à empresa, que permanece envolta em incertezas sobre sua reestruturação e recuperação da rentabilidade.

Esses exemplos mostram que, em momentos de crise ou quando as ações atingem valores muito baixos, o grupamento se torna uma ferramenta essencial para as companhias manterem sua listagem na bolsa e evitar maiores penalidades.

Vale a pena investir em empresas que fizeram grupamento de ações?

Investir em empresas que realizaram grupamento de ações pode ser uma estratégia interessante, mas depende de diversos fatores. Por isso, é importante analisar o motivo que levou a companhia a realizar o mecanismo. 

Em muitos casos, isso pode ser um sinal de fragilidade financeira, já que companhias com preços de ações muito baixos podem estar enfrentando dificuldades. Por outro lado, se a empresa está adotando o grupamento como parte de uma reestruturação ou de uma estratégia de longo prazo, pode ser uma oportunidade de valorização futura.

É fundamental avaliar o desempenho financeiro da companhia, a solidez de seu modelo de negócios, as perspectivas de crescimento e o cenário econômico. Empresas que estão em setores com grande potencial de crescimento ou que estão conseguindo realizar uma boa recuperação financeira podem oferecer bons retornos, mesmo após o grupamento. Em contrapartida, empresas com problemas estruturais tendem a continuar apresentando resultados fracos, o que pode fazer com que o investimento seja arriscado.

Portanto, antes de decidir investir, é essencial uma análise detalhada das condições financeiras da empresa, seus planos futuros e a percepção do mercado sobre o setor em que ela atua.

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