Grandes varejistas iniciam queima de estoque de até 80%
A Black Friday 2022 foi um balde de água fria para as varejistas. Segundo dados da NielsenIQ/Ebit, as vendas do comércio on-line foram -23% menores do que as de 2021.
O destaque positivo ficou apenas para TVs – dados da Neotrust mostram que as vendas cresceram +51% em novembro e +31% em outubro – por conta da Copa do Mundo.
Já as vendas do varejo físico brasileiro, por sua vez, foram melhores, com alta de +9% nas vendas em relação a 2021, de acordo com dados da Linx.
Vendas crescem no “esquenta”
A analista da Nord Research, Danielle Lopes, diz que no ano passado houve uma diluição de compras no decorrer do mês de novembro, por isso as vendas na data “oficial” não subiram em volume.
“Algumas varejistas como Magazine Luiza (MGLU3) e Mercado Livre (MELI3) tentaram usar estratégias de antecipação das vendas, que se mostraram pouco eficientes avaliando os dados das vendas no digital – em relação às lojas físicas, teremos mais precisão na divulgação dos resultados do 4T22”, afirmou.
Natal mais fraco
As vendas do varejo físico brasileiro na semana do Natal também foram mais fracas e ficaram bem distantes da expectativa.
Entre os dias 18 e 24 de dezembro, tiveram um tímido crescimento de +0,4%, segundo o Indicador de Atividade do Comércio da Serasa Experian.
Saldão de janeiro
Para limpar o estoque e não ficar no prejuízo, grandes varejistas retomaram uma espécie de Black Friday – Parte 3, com promoções semelhantes às das principais datas do fim do ano.
"As varejistas pretendem compensar as vendas fracas do fim do ano passado aplicando a mesma estratégia do Natal (redução de ticket), mas que, de acordo com as impressões publicadas, não foram capazes de salvar o ano difícil dos resultados em 2022”, comenta Lopes.
A analista acrescenta que, para os resultados do 4T22, que serão divulgados no começo deste ano, “podemos esperar um aumento no volume de vendas em geral, mas ainda com margens bastante apertadas, dado que as varejistas foram bem agressivas em seus descontos”, avalia.
Descontos mais agressivos
O Magalu (MGLU3), por exemplo, fez a maior promoção do ano da companhia, com descontos que chegam a 80% – os mesmos praticados na última Black Friday.
Já nas lojas das marcas da Via (VIIA3) – Casas Bahia, Ponto e o e-commerce extra.com.br –, a liquidação inclui descontos de até 70%.
Cenário para o consumo e o varejo em 2023
A piora das condições financeiras – sobretudo deterioração das perspectivas fiscais e taxas de juros ainda elevadas – deve continuar pressionando as empresas ligadas ao consumo interno, especialmente as de varejo.
Com um maior comprometimento de renda das famílias devido ao aumento do endividamento e aumento da inflação, que compromete o poder de compra, imaginamos um 2023 ainda bastante complicado para os resultados das varejistas.
Dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostram que 30,3% das famílias brasileiras estão com alguma dívida atrasada, enquanto 43,5% dos inadimplentes estão com atrasos superiores a três meses.
“Diante de um cenário mais desafiador para as vendas, as empresas têm sido bastante agressivas para tentar ao máximo arrecadar receita com um mercado mais difícil, propenso a consumir cada vez menos e, por consequência, essa competição faz com que o varejo seja um negócio pouco atrativo, com margens baixas e dificuldade para crescer de forma estável no longo prazo”, analisa Lopes.
Investidor deve ter cautela
É importante reforçar que o mercado de capitais antecipa movimentos que podem ser positivos para o setor, como o início da queda dos juros no Brasil – o que a equipe da Nord Research acompanha diariamente na curva de juros futuros.
Para os investidores, isso não é necessariamente um indicativo de que todas as varejistas podem se recuperar, por isso é importante cautela.
Antes de você se animar com as quedas da ordem de -80% nas empresas de varejo, tenha calma.
Para saber mais sobre as varejistas e muitas outras, acesse nosso relatório completo aqui.