Gasolina está mais cara no Brasil. Entenda os motivos

Fique por dentro de tudo que acontece nos preços da gasolina e do diesel no Brasil, definidos pela Petrobras, que atualmente estão acima da paridade de importação (PPI) e os impactos econômicos desse cenário para o país

Nord Research 13/09/2024 16:48 6 min
Gasolina está mais cara no Brasil. Entenda os motivos

Os preços dos combustíveis no Brasil, especialmente da gasolina e do diesel vendidos pela Petrobras, têm sido tema de intensos debates. Recentemente, dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) indicaram que os preços internos estão acima da paridade de preço de importação (PPI). Essa diferença impacta diretamente o consumidor e também reflete a complexidade do mercado global de petróleo.

O que é a paridade de preço de importação (PPI)?

A Paridade de Preço de Importação (PPI) é uma referência utilizada pela Petrobras para calcular o preço dos combustíveis no Brasil. Esse índice considera o preço médio dos combustíveis no mercado internacional, acrescido de custos como frete, taxas portuárias, seguros e margem de lucro dos importadores. O objetivo do PPI é alinhar o preço dos combustíveis no Brasil aos preços globais para garantir competitividade e evitar distorções no mercado.

Situação atual dos preços de diesel e gasolina no Brasil

De acordo com os últimos dados divulgados pela Abicom, o preço da gasolina e do diesel no Brasil está atualmente acima do PPI. No caso do diesel, a defasagem média nos polos da Petrobras chegou a 4%, enquanto para a gasolina foi de 7%. Pela primeira vez no ano, o valor por litro da gasolina atingiu um patamar positivo, com uma defasagem de R$ 0,20, enquanto o óleo diesel apresentou uma defasagem de R$ 0,15 por litro. Essa situação é resultado da "estabilidade no câmbio e da ligeira redução nos preços de referência da gasolina e do óleo diesel no mercado internacional", conforme destacado pela Abicom.

Possíveis motivos para a diferença nos preços

Há diversas razões para que a Petrobras mantenha os preços dos combustíveis acima da PPI. Uma delas é a necessidade de recomposição de caixa, considerando que a estatal enfrenta defasagens de meses em relação ao mercado internacional. Manter os preços mais altos do que a média global por um período é uma estratégia para recuperar o fôlego financeiro. Mesmo que haja uma possibilidade de reajuste, ele não deve ser imediato nem no mesmo nível da queda do PPI.

Além disso, a CEO da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou recentemente que a empresa está confortável com o nível atual dos preços e que não pretende realizar ajustes no curto prazo. A decisão reflete a nova política de preços adotada pela Petrobras desde 2023, que tem levado em consideração menos o PPI e focado mais nos elementos internos, como a produção nacional e a estabilidade econômica.

Impacto das questões geopolíticas e econômicas globais

A formação dos preços dos combustíveis não depende apenas da dinâmica interna do Brasil. Questões geopolíticas, como conflitos na Líbia que impactam a oferta de petróleo, também têm um papel crucial. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) adiou a decisão de redução da oferta, o que colaborou para manter os preços em alta. Além disso, a demanda crescente por petróleo por parte da China, um dos maiores consumidores globais, também tem pressionado os preços para cima.

Outro fator relevante é a ameaça de furacões na região do Golfo do México, que frequentemente impacta a produção e a comercialização de combustíveis, contribuindo para a volatilidade dos preços. A incerteza em torno desses eventos faz com que a Petrobras opte por uma abordagem mais cautelosa antes de promover qualquer mudança significativa nos preços.

Entenda a queda do preço do petróleo

O preço do petróleo Brent, que é uma referência para o mercado global, tem oscilado nos últimos meses. No fechamento da última terça-feira (10), o barril de Brent recuou 3,69%, fechando a US$ 69,19, mas já recuperou parte das perdas com um avanço de 2,05%, atingindo US$ 70,61 o barril na quarta-feira. A queda no preço do petróleo foi influenciada por uma combinação de fatores, incluindo a retomada gradual das exportações de petróleo na Líbia, que havia interrompido suas vendas ao mercado externo devido a conflitos internos.

Além disso, a OPEP revisou para baixo suas projeções de aumento da demanda global por petróleo para os próximos meses, refletindo uma desaceleração na economia global, especialmente na China. A China, que é um termômetro para a economia global, enfrenta um crescimento mais lento que afeta diretamente os países exportadores de commodities e matérias-primas, como o Brasil.

Consequências econômicas da desaceleração Chinesa

A desaceleração da economia chinesa é uma das maiores preocupações atuais para a economia global. O Produto Interno Bruto (PIB) da China tem crescido abaixo das expectativas, e as instituições financeiras revisaram suas previsões de crescimento para o final de 2024 e 2025. Como resultado, a demanda por petróleo e outros produtos derivados diminuiu, afetando os preços globais.

Essa queda na demanda também representa um risco para países emergentes que dependem da exportação de matérias-primas para a China. Com menos consumo e produção na China, economias como a brasileira, que dependem fortemente das exportações para o país asiático, podem enfrentar desafios econômicos adicionais.

Queda nos preços do Petróleo e o impacto na inflação

Por outro lado, a queda nos preços do petróleo pode ter um efeito positivo na inflação global, inclusive no Brasil. Com a redução nos custos de commodities como a gasolina, espera-se que os preços ao consumidor também diminuam, ajudando a aliviar a pressão inflacionária. No entanto, essa queda nos preços também impacta negativamente as receitas das empresas petrolíferas e o valor de suas ações. Na última quarta-feira, as ações da Petrobras (PETR4) apresentaram uma leve recuperação de 0,13%, após uma queda de 1,6% no dia anterior, refletindo a volatilidade do mercado.

Perspectivas futuras para o ajuste de preços dos combustíveis no Brasil

O presidente da Abicom, Sergio Araujo, ressaltou que é prematuro para a Petrobras reajustar os preços dos combustíveis no Brasil, considerando a volatilidade atual. Segundo ele, há quatro pontos principais que mantêm o mercado instável: os conflitos na Líbia, as decisões da OPEP sobre a oferta de petróleo, a demanda crescente da China e a possibilidade de furacões no Golfo do México.

A decisão de ajustar os preços deve ser feita com cautela para evitar desgastes desnecessários e a necessidade de recomposição futura, caso o cenário mude abruptamente. Enquanto isso, a diferença entre os preços internos e o PPI permanece uma oportunidade para a Petrobras recompor suas finanças e garantir a estabilidade econômica no país.

Conclusão

Os preços da gasolina e do diesel no Brasil estão atualmente acima da paridade de importação, refletindo uma série de fatores complexos que vão desde a política de preços da Petrobras até questões geopolíticas e econômicas globais. Embora haja espaço para uma redução nos preços, as incertezas do mercado global de petróleo exigem uma abordagem cuidadosa por parte da Petrobras. A continuidade desta estratégia dependerá das futuras condições de mercado e das necessidades econômicas do país.

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