Fundos de crédito privado: o que são e como funcionam?

Saiba como os fundos de crédito privado podem diversificar sua carteira e oferecer retornos acima da média

Christopher Gomes Galvão 14/10/2024 16:12 7 min
Fundos de crédito privado: o que são e como funcionam?

Os fundos de crédito privado têm ganhado destaque como uma alternativa interessante para quem busca diversificação e potencial de retorno superior ao de outros ativos de renda fixa.

Se quer entender melhor essa alternativa e como ela pode complementar sua estratégia de investimentos, continue acompanhando o artigo.

Sumário

O que é crédito privado?

Crédito privado se refere à emissão de títulos de dívida por empresas privadas com o objetivo de captar recursos no mercado. Esses títulos podem ser emitidos para financiar projetos, pagar dívidas ou expandir operações, funcionando como uma alternativa ao financiamento bancário. 

Os investidores que compram esses títulos estão, na prática, emprestando dinheiro às companhias em troca de uma remuneração, que pode ser através de juros fixos ou variáveis.

A importância do crédito privado para a economia é significativa, pois oferece uma fonte de financiamento para o setor privado, reduzindo a dependência das empresas em relação aos bancos. 

Além disso, possibilita o desenvolvimento de projetos de infraestrutura, crescimento de negócios e geração de empregos. Para os investidores, o crédito privado oferece uma oportunidade de diversificação de carteira, com potenciais retornos superiores aos de outros ativos de renda fixa mais tradicionais, como títulos públicos.

Quais são os tipos de fundos de crédito privado?

Os fundos de crédito privado precisam ter pelo menos 80% do patrimônio investido em ativos de renda fixa, dos quais, adicionalmente, pelo menos 50% devem ser em ativos de crédito privado, como CDBs, CRIs, CRAs e debêntures;

No Brasil, existem diferentes tipos de fundos de crédito privado que se diferenciam pela composição da carteira e pelos objetivos de investimento. Os principais tipos são:

  • Fundos de Debêntures Incentivadas: aplicam em debêntures de empresas que operam em setores estratégicos, como infraestrutura, com isenção de Imposto de Renda para investidores pessoa física. São atrativos para quem busca uma forma de diversificar sua carteira com retorno isento de IR;
  • Fi-Infra: Fundo Incentivado de Investimento em Infraestrutura, destinado a investimentos em debêntures incentivadas. A grande diferença em relação aos fundos de debêntures incentivadas é que o Fi-Infra é constituído sob a forma de condomínio fechado, em que não é permitido ao investidor resgatar as cotas antes de decorrido o prazo de duração do fundo. Se o investidor decidir sair, deverá vender a sua cota a outro investidor pelo home broker;
  • Fundos de Crédito Privado High Yield: é uma subcategoria. Entre os fundos de debêntures incentivadas, por exemplo, existem os fundos High Yield e os High Grade. Os High Yield investem em títulos de companhias que oferecem maior retorno, mas que têm uma avaliação de crédito inferior, o que eleva o risco de inadimplência. O objetivo desses fundos é buscar retornos mais agressivos, sendo mais indicados para investidores com maior tolerância ao risco;
  • Fundos de Crédito Privado High Grade: é uma subcategoria. Diferentemente dos fundos High Yield, os High Grade investem em empresas mais sólidas e com menor risco de inadimplência, tendo uma carteira composta majoritariamente por créditos classificados como AAA (o mais elevado). Por outro lado, por serem empresas mais seguras, costumam oferecer retornos mais modestos;
  • Fundos de direitos creditórios (FIDCs): devem ter pelo menos 50% do patrimônio em direitos creditórios, como duplicatas e outros recebíveis. Por exemplo, se uma companhia vende um produto a prazo por R$ 1.000, pode vender esses recebíveis a R$ 800 a um FIDC como direito creditório, recebendo o valor à vista, enquanto o FIDC assume o risco;
  • Fundos de crédito livre: esses fundos possuem maior liberdade para investir em diferentes tipos de crédito privado, como debêntures, notas promissórias, certificados de recebíveis imobiliários (CRI), certificados de recebíveis do agronegócio (CRA) e outros.

Cada tipo de fundo de crédito privado tem um perfil de risco e objetivo diferente, o que permite aos investidores escolherem conforme suas preferências de risco e retorno, também sendo importante levar em consideração o cenário econômico.

Como funciona a rentabilidade desses fundos?

Nos fundos de debêntures incentivadas, há o benefício adicional da isenção de Imposto de Renda, o que aumenta o rendimento líquido para o investidor pessoa física.

A rentabilidade depende tanto da qualidade dos ativos selecionados pelo gestor quanto das condições de mercado. Em momentos de crise, por exemplo, empresas com crédito mais arriscado podem não honrar suas dívidas, impactando negativamente os fundos high yield.

Como é feita a tributação dos fundos de crédito privado?

A tributação dos fundos de crédito privado segue a tabela regressiva de Imposto de Renda (IR) sobre o lucro, além da incidência do come-cotas, que é um adiantamento do IR realizado semestralmente. Abaixo, segue a tabela de tributação:

Além disso, se o resgate for feito em menos de 30 dias, também incide o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), cuja alíquota é decrescente conforme o tempo de aplicação.

Quais são as vantagens do fundo de crédito privado?

Os fundos de crédito privado oferecem uma série de vantagens aos investidores, como:

Diversificação

Ao investir em títulos de crédito de várias empresas, o investidor reduz o risco de concentração em um único ativo ou setor, o que contribui para a segurança da carteira.

Potencial de retorno superior ao CDI

Por investirem em títulos privados, esses fundos tendem a oferecer uma rentabilidade maior que a de investimentos mais conservadores, como o Tesouro Selic ou CDBs de grandes bancos.

Isenção de Imposto de Renda em debêntures incentivadas

Alguns fundos de crédito privado que investem em debêntures incentivadas oferecem o benefício da isenção de IR, o que aumenta o retorno líquido.

Profissionalização da gestão

Os fundos de crédito privado são geridos por especialistas que têm acesso a informações e estratégias que um investidor individual pode não ter. Por outro lado, é crucial conhecer a gestão do fundo.

Quais as desvantagens de investir em um fundo de crédito privado?

Investir em fundos de crédito privado também apresenta riscos que devem ser considerados.

Risco de crédito

Como esses fundos investem em títulos de empresas privadas, existe sempre o risco de inadimplência, ou seja, de a companhia emissora não pagar os juros ou devolver o valor principal do título no vencimento. Esse risco é maior em títulos de empresas de menor porte ou com menor avaliação de crédito, presentes principalmente nos fundos high yield.

Sem FGC

Relacionado ao tópico anterior, os créditos privados não têm cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

Fundos de liquidez curta

Muitos investidores acreditam ser vantajoso um fundo de crédito privado ter liquidez muito curta, de, por exemplo, D+1 (ou seja, se pedir resgate terei meu dinheiro depois de 1 dia). Na verdade, esse é um risco relevante.

Imagina que muitos investidores pedem resgate desses fundos de liquidez curta. Dessa forma, ao não ter caixa suficiente para fazer frente a todos esses resgates, o gestor terá que vender parte dos seus títulos no mercado secundário. Como a liquidez é curta, ele tem mais pressa pela venda dos títulos, o que muitas vezes resulta em vendas a preços baratos, podendo prejudicar consideravelmente a rentabilidade do fundo.

Além disso, se o fundo tem liquidez curta, o gestor tende a ter um caixa mais elevado para fazer frente a possíveis resgates, gerando um custo de oportunidade para a carteira, que poderia estar mais alocada em crédito privado.

Volatilidade

A rentabilidade desses fundos pode sofrer oscilações, especialmente em períodos de crise econômica ou incerteza nos mercados.

Taxas de administração

É importante avaliar se a taxa é compatível com os demais fundos da categoria.

Vale a pena investir em fundos de crédito privado?

Investir em fundos de crédito privado pode valer a pena, dependendo do perfil do investidor. Para quem busca diversificação e tem uma tolerância ao risco moderada, esses fundos podem oferecer retornos superiores ao CDI e à inflação. No entanto, é fundamental considerar o risco de crédito envolvido e as características específicas de cada fundo, assim como a qualidade dos gestores.

Também é muito importante considerar o cenário econômico e os spreads que os créditos privados estão sendo negociados. Entrar em fundos de crédito privado em momentos de spreads muito baixos, pode ser um risco para a rentabilidade futura do fundo.

Além disso, é importante considerar a liquidez do fundo. Eu, Christopher, gosto da ideia dos fi-infras, justamente por serem fundos que não sofrem resgates, o que ajuda na construção da carteira do fundo pelo gestor.

Em resumo, fundos de crédito privado podem ser interessantes, mas são inúmeros fatores que devem ser levados em consideração antes de realizar uma alocação.

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