Estatais com Lula: o que esperar agora?

Bolsas internacionais iniciaram esta manhã em alta, enquanto investidores aguardam por dados dos EUA

Nord Research 04/11/2022 13:00 8 min
Estatais com Lula: o que esperar agora?

Nord Insider

Nesta sexta-feira, 04, os índices futuros de Nova York operam em alta em meio a esperanças de suavização das políticas de Covid zero na China e à espera do relatório de emprego (Payroll) nos Estados Unidos.

Na agenda econômica, destaque para a divulgação dos Índices de Gerentes de Compras de serviços e composto (PMIs) de outubro no Brasil. Nos Estados Unidos, sai o relatório de emprego Payroll não-agrícola, a taxa de desemprego e a quantidade média de horas trabalhadas por semana, todos os dados referentes ao mês de outubro.

Principais assuntos de hoje

  • Estatais com Lula: o que esperar agora?
  • Copel salta após novo rumor sobre privatização – há oportunidades?

Nossa visão sobre as estatais após a reeleição de Lula

Os papéis de estatais sofreram fortes perdas logo após o resultado das eleições no último domingo, 30.

Na semana que precedeu a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), as ações ordinárias da Petrobras (PETR3; PETR4) recuaram -8,50% e as preferenciais cederam -8,72% até o pregão de quinta-feira, 03.

Petrobras no pós-eleição


A queda expressiva das ações da companhia está relacionada ao fato de o mercado ver um cenário mais turbulento para a petroleira.

“No caso da Petrobras, há uma dúvida com relação à política de preços de combustíveis a ser adotada no novo comando, portanto, um questionamento com relação às expectativas futuras da companhia”, aponta o analista de ações da Nord Research, Guilherme Tiglia.

Mesmo com os avanços operacionais e de governança observados nos últimos tempos, o analista considera que a empresa segue refém do cenário político.

“Uma rápida manobra do governo (interferência) pode se traduzir em mudanças no resultado a ser entregue, uma vez que a gestão do novo governo tem de certa forma se mostrado mais favorável ao aumento da presença do Estado em companhias estatais”, avalia Tiglia.

Adicionalmente, pautas como a construção de uma nova refinaria, o controle dos preços de combustíveis e o aumento no quadro da Transpetro devem se tornar recorrentes com o novo presidente eleito. “Entendo que isso é justamente o que gera incertezas no mercado”, comenta o analista.

Distribuição de dividendos “monstros”


Ainda não se sabe se o atual plano de distribuição de dividendos da Petrobras permanecerá de pé.

Recentemente, Lula, que assumirá a chefia do Executivo no próximo ano, sinalizou que quer que a Petrobras reduza o pagamento de proventos para voltar a investir em atividades além do pré-sal.

Levando isso em conta, pode ser que a distribuição anunciada na quinta-feira, 03, seja a última da era dos dividendos "monstro'' da Petrobras.

O conselho de administração da estatal aprovou ontem o pagamento de distribuição de dividendos no valor de R$ 3,35 por ação preferencial (PN) e ordinária (ON) em circulação, o que corresponde a um valor total de R$ 43,68 bilhões, excluindo as ações em tesouraria.

Os dividendos serão pagos em duas parcelas iguais no valor de R$ 1,67 por ação. A primeira parcela será em 20 de dezembro de 2022 e a segunda parcela em 19 de janeiro de 2023.

Os detentores de recibos de ações (ADRs) receberão os pagamentos a partir de 28 de dezembro de 2022 e 26 de janeiro de 2023.

Banco do Brasil está no mesmo barco?


Outra estatal listada na bolsa, o Banco do Brasil (BBAS3), seguiu curso parecido e caiu com a reeleição de Lula. Na semana, as ações ordinárias acumulam baixa de -0,33%.

Além do receio de interferências no comando da empresa, o mercado também embute a volta de linhas de crédito subsidiado.

“O BB pode, muito bem, ser utilizado como veículo de concessão de crédito com juros subsidiados [linhas para renegociação de dívida a juros baixíssimos], como já observamos em comandos anteriores”, lembra o analista.

Ele também mencionou que “a Lei das Estatais é um fator mitigador de risco e ajudaria nessa questão das interferências, mas não dá para dizer que a empresa está blindada”, disse.

Ações da Copel saltam após novo rumor sobre privatização – há oportunidades?

Entrou no radar do mercado a possibilidade de uma privatização da Copel (CPLE6), empresa paranaense de energia.

No início desta semana, o Governo do Estado do Paraná, controlador da companhia, informou que foram solicitadas ao Conselho de Controle das Empresas Estaduais (CCEE) informações técnicas para estudo de uma “potencial operação no mercado de capitais”.

Embora o documento não tenha deixado claro qual é a operação estudada pelo governo, a reação do mercado foi positiva.

Os papéis da companhia subiam mais de +10% na bolsa após o anúncio do governo do Paraná.

Mas antes de investir pela euforia com o rumor, separamos os tópicos mais importantes para tornar a sua decisão mais prática.

As análises apresentadas abaixo foram feitas pela analista de ações da Nord Research, Danielle Lopes.

Sobre a Copel

A Copel é uma empresa estatal de energia elétrica, controlada pelo Governo do Estado do Paraná. Seus principais negócios são geração, transmissão e distribuição de energia.

A companhia atualmente atua em 10 estados e é a 10ª maior geradora de energia hidráulica do Brasil. O parque de geração da companhia é composto por 81% hidráulica, 13% eólica e 6% térmica.

É importante mencionar que, por mais que a energia térmica seja pequena na maioria das elétricas, ela serve como um backup quando os níveis de reservatórios estão baixos.

Linhas de negócio

Em geração e transmissão, o Ebitda representa cerca de 70% do consolidado da companhia e são mais dependentes de níveis de reservatórios em sua maioria. Além disso, também dependem do ganho de concessões em leilões.

Ao participar de leilões, a companhia busca uma boa rentabilidade na compra e, depois que a estrutura é feita, a RAP, receita anual permitida, entra nos resultados, o que é positivo pela previsibilidade de receita nos anos seguintes.

Os 30% restantes do Ebitda representam o segmento de distribuição, onde a companhia consegue melhores resultados nos reajustes tarifários que o órgão regulador, ANEEL, faz periodicamente. Nesse sentido, reajustes maiores trazem melhores resultados para a companhia.

Histórico de resultados

Nos últimos 10 anos, o Ebitda da companhia saiu da faixa dos R$ 2 bilhões para os atuais R$ 5,4 bilhões, um crescimento médio composto (CAGR) de 10% ao ano, enquanto o lucro saiu de R$ 1 bilhão para os atuais R$ 2,15 bilhões, um crescimento médio composto na casa dos 7% ao ano.

Histórico Ebitda (branco) e Lucro Líquido (verde) Copel - 10 anos. Fonte: Bloomberg

Olhando para o histórico de resultados, percebemos que os maiores custos são com pessoas e com serviços para os três segmentos do negócio.

A companhia tem uma concessão importante nos resultados, que responde por 71% das receitas do segmento até 2042.

Pontos de risco

As companhias ou consórcios que desejam construir ou operar instalações de geração, transmissão ou distribuição de energia no Brasil devem participar de licitações ou requerer ao MME ou à ANEEL uma concessão, permissão ou autorização, conforme o caso. É um processo bastante moroso e com muita competição na disputa por licitações.

Para vencer uma licitação, é necessário um investimento alto, mas o resumo é bastante satisfatório pelos 30 (transmissão e distribuição) e 35 anos (geração) seguintes.

A nosso ver, a concentração de resultados em apenas uma concessão também é um risco, além de riscos que a companhia não consegue controlar, como o clima. O risco hidrológico é relevante para a companhia por conta do tamanho do peso nos resultados da geração de energia.

Por último, há o repasse nas tarifas de distribuição, que depende do órgão regulador — que boa parte das vezes não buscará favorecer o crescimento da companhia —, podendo impactar a fatia dos 30% dos resultados da Copel.

Valuation e visibilidade de resultados

Olhando para o histórico de resultados e preço, a Copel anda muito em linha com crescimento dos resultados, até mesmo recentemente, com queda nos lucros e deslocamento dos preços com o anúncio da possível privatização.

Histórico Cotação (azul) e Lucro Líquido (verde) Copel - 10 anos. Fonte: Bloomberg

Negociando a 6x Ebitda e 20x lucros, Copel não é mais tão barata quanto antigamente.

O mercado espera que o Ebitda e o lucro caiam em 2022 e fiquem estáveis em 2023, o que a torna cara e com pouquíssima visibilidade de resultados que justifiquem o preço.

Sem crescimento, não há visibilidade de que as ações da companhia trarão bom retorno aos investidores.

Possível privatização

No passado, já ocorreram oportunidades do Estado do Paraná vender suas ações, mas isso não foi concretizado.

No final de 2021, apenas o BNDES, outro acionista relevante da Copel, se desfez de 50% de sua participação em um follow-on.

Em nossa opinião, a privatização seria um vetor importante para a redução em linhas de negócio com pessoas, elevando os retornos de Copel, mas não há garantias de que isso possa acontecer ou se somente uma parcela das ações do estado será vendida, com o controle mantido pelo governo.

Atualmente, o estado possui cerca de 69,7% das ações ordinárias e 31,1% do capital total da empresa.

Em particular, consideramos que investir em ações apenas para “surfar” um possível evento é um trade-off que não favorece o investidor.

As ações que sobem no boato podem cair no fato, prejudicando os investimentos e a tomada de decisão do investidor.

Por esses motivos, recomendamos que fique de fora das ações da Copel (CPLE6).

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Meme do dia

Fonte: Bruce Barbosa via Twitter/ Reprodução

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