AMER3 e OIBR3 cotadas abaixo de R$ 1,50 na B3. Confira mais ações baratas.

Papéis da Americanas, Saraiva e Oi estão na lista

Fabiano Vaz 24/04/2023 12:00 7 min Atualizado em: 26/04/2023 18:50
AMER3 e OIBR3 cotadas abaixo de R$ 1,50 na B3. Confira mais ações baratas.

As ações mais baratas da bolsa parecem atraentes a princípio, mas certamente não são para todos os investidores.

Estamos falando de empresas com baixo valor de capitalização e que estão em processo de recuperação judicial.

Algumas chegaram a ter quedas superiores a 60%, que é o caso da Viver, Marisa e Oi.

A lista segue com nomes conhecidos do mercado. Comentamos sobre o momento de cada empresa e por que não vale a pena investir. São elas:

Entre as três ações mais baratas da Bolsa brasileira, estão Americanas, Marisa e Méliuz

1. Americanas (AMER3)

Com uma dívida declarada em R$ 43 bilhões, a Americanas entrou com o pedido de recuperação judicial em janeiro deste ano. O rombo é o quarto maior do país.

Os papéis AMER3 negociavam próximos de R$ 1 no fechamento do dia 18 de abril.

Além dos resultados mais fracos a partir de 2020, a crise contábil na Americanas derrubou os papéis da varejista. As ações tiveram uma queda de mais de 90% desde o início do escândalo, acumulando um recuo de 95% em 12 meses.

Gráfico mostra queda de 95% das ações da Americanas nos últimos 12 meses
Fonte: Bloomberg

Sem dinheiro suficiente no caixa e com o “nome sujo” no mercado, a varejista viu o enorme risco de não conseguir manter suas operações e entrou com o pedido de recuperação judicial.

As ações da Americanas despencaram, mas isso não quer dizer que estão baratas.  

A varejista depende demais de atividade econômica (emprego, renda, inflação e juros baixos). Com base nos dados recentes da atividade econômica e do varejo e as perspectivas para o macro, os resultados da Americanas devem ser fracos nos próximos trimestres.

Ou seja, se as perspectivas para a empresa já eram desafiadoras antes, agora, em recuperação judicial e passando por uma grande reestruturação, fica ainda mais difícil.

2. Marisa (AMAR3)

A lista das varejistas com problemas de caixa segue com a Lojas Marisa. A situação é bem ruim, com uma dívida de R$ 600 milhões a bancos, segundo apurou o Broadcast.

O histórico de dificuldade da Marisa não é recente. Após uma reestruturação entre 2018 e 2019, a companhia sofreu com a pandemia.

Além de não conseguir recuperar os resultados e margens pré-pandemia no varejo, a companhia enfrenta grandes dificuldades com a Mbank, seu braço financeiro de crédito.

A desaceleração da economia e a alta dos juros nos últimos anos derrubaram os resultados e impulsionaram a dívida da empresa. No 4T22, a receita da varejista ficou estável com uma leve alta de +1,6%, entretanto o Ebitda recuou -53% versus o 4T21.

Gráfico receita anual e ebitda anual da Marisa desde 2004
Fonte: Bloomberg

Sem liquidez e capacidade de gerar caixa, a Marisa passa por uma renegociação das suas dívidas e por uma nova reestruturação.

Se os desafios hoje são grandes, as perspectivas para a varejista também não são das melhores à frente.

A sua exposição em consumidores de média e baixa renda em meio a um cenário de desaceleração da economia impactam de forma relevante a visibilidade de resultados de AMAR3.

3. Méliuz (CASH3)

A Méliuz é outra empresa de capital aberto que tem causado calafrios ao investidor.

Os papéis CASH3 seguem em intensa queda, sendo negociados a R$ 0,94  — bem menos do que um cafezinho.

Em 2020, a Méliuz fez seu IPO entendendo que o seu core business (cupons de desconto e cashback) era altamente competitivo e com baixa barreira de entrada.

A estratégia era transformar a empresa de cashback em uma plataforma completa de serviços financeiros e, em 2021, surgiu a Bankly, um banco digital completo.

No entanto, o que era para ser um negócio transformador para a empresa acabou sendo um choque de realidade. A Meliuz acabou entrando em mais um mercado altamente competitivo.

Os custos altos para expandir a sua plataforma de serviços financeiros impactaram de forma relevante os resultados da Méliuz. Em 2022, a receita da companhia cresceu 40%, porém reportou um Ebitda negativo de R$ 127 milhões.

Queimando caixa, a Méliuz precisou vender a Bankly e revisitar sua estratégia.

Os resultados ruins e as dificuldades da sua estratégia refletiram nas ações da empresa, com queda de 54,37% no acumulado dos últimos 12 meses.

Resultados e cotações de Méliuz de 2020 a 2023
Fonte: Bloomberg

Apesar de tirar o “peso” da Bankly, a perspectiva para a Méliuz ainda é bem incerta.

Após falhar na sua estratégia de ser uma plataforma completa de serviços financeiros, a empresa vai precisar mostrar a sua capacidade em superar este momento e começar a crescer e gerar valor para os seus acionistas.

4. Enjoei (ENJU3)

A Enjoei é outro caso em que o cenário macro junto aos custos e às despesas altas vem impactando os resultados da companhia.

No acumulado de 2022, a receita da empresa cresceu +31%, mas despesas elevadas pressionaram o Ebitda, que ficou no negativo de R$ 76 milhões.

No gráfico, Ebitda negativo e receita trimestral de Enjoei
Fonte: Bloomberg

Mesmo com as melhorias operacionais e nos ganhos de margens, a Enjoei ainda queima caixa e as perspectivas são desafiadoras.

Apesar de possuir um caixa confortável e um endividamento baixo, diferentemente das varejistas que já comentamos aqui, a visibilidade futura em um cenário de inflação mais elevada e de economia fraca deve continuar pressionando os resultados da Enjoei.

5. Saraiva (SLED4)

A Saraiva vive uma agonia sem fim, o que fez a ação mergulhar -82% no último ano.

Em recuperação judicial e sem um acordo definitivo com seus credores, a rede de livrarias conta com uma dívida líquida de R$ 455 milhões.

Atuando em um negócio que vem passando por uma forte transformação nos últimos anos, a Saraiva viu seus resultados despencarem e seu endividamento escalar.

Em recuperação judicial, a Saraiva vem passando por uma grande reestruturação, reduzindo o número de lojas e enxugando os custos e despesas. Mesmo assim, a empresa encerrou 2022 com uma queda de -3% da receita e um Ebitda negativo de R$ 42 milhões.

O ponto positivo nos resultados foi a queda de -39% da dívida líquida devido à conversão de créditos em ações da companhia para os seus credores.

Mesmo com a queda da dívida, a falta de capacidade da empresa em gerar caixa e as perspectivas ruins para o macro devem continuar impactando os resultados da Saraiva e consequentemente suas ações, que em 12 meses acumulam queda de -82,73%.

No gráfico, a queda das ações da Saraiva nos últimos 12 meses
Fonte: Bloomberg

Sem visibilidade futura, o fim da Saraiva ainda parece mais próximo do que a sua recuperação de resultados.

6. Oi (OIBR3)

A Oi, empresa de serviços de telecomunicações, é a número 6 da nossa lista. Trata-se de uma das maiores companhias do setor em toda a América do Sul.

Recentemente, a companhia atualizou para R$ 44,3 bilhões o valor total das dívidas incluídas em seu segundo processo de recuperação judicial. Na primeira relação de credores, divulgada em março, o valor era de R$ 43,7 bilhões.

Após demonstrar que não tem capacidade de arcar com os seus compromissos, a Oi não teve escolha e voltou para a recuperação judicial.

Operacionalmente, a Oi vem fazendo um bom trabalho, mas as margens mais baixas do seu novo core business (fibra óptica) e os juros altos impactam os resultados e a visibilidade futura da companhia.

Sem conseguir conciliar os investimentos na expansão da fibra e o pagamento das suas dívidas, possivelmente a Oi deve vender parte ou a totalidade das suas ações da V.tal (empresa de estrutura de fibra onde possui 34% de participação) para quitar parte da sua dívida atual.

Com grande potencial de crescimento, a V.tal era a joia da coroa da Oi. Sem capacidade para manter sua participação na empresa e com a dificuldade de voltar a crescer os seus resultados, a visibilidade para a Oi não é das melhores.

Oi não tem capacidade de manter suas operações, investir na expansão da fibra e honrar seus compromissos com credores, ou seja, a empresa queima muito caixa.

A forte queda de -87,02% das ações nos últimos 12 meses reflete as dificuldades atuais e futuras para a Nova Oi.

No gráfico, o desempenho das ações da Oi e seus resultados desde 2016
Fonte: Bloomberg

Investir em ações baratas pode trazer mais retorno?

Todo investimento de alto risco implica potencial de retornos altos.

Normalmente, essas oportunidades estão onde a maioria não vai. Isso porque são empresas que apresentam situação ruim de momento, mas que têm excelentes perspectivas de melhora no futuro.

As empresas listadas acima não fazem parte do portfólio da carteira Nord Deep Value, a série que vasculha as profundezas da bolsa brasileira.

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