Espaçolaser e a “crise estética” em seus resultados
Toda queda no mercado de ações é uma oportunidade?
Uma das empresas que eu mais recebo perguntas é a Espaçolaser (ESPA3).
Com um mercado mais estressado, a queda das ações se mostra uma oportunidade forte de compra?
As ações caem cerca de -94% desde o IPO e não me parece ter espaço para melhora no curto prazo, por maiores que tenham sido os esforços da gestão.
Após fevereiro de 2021, quando o IPO foi realizado, a companhia fez um aumento de capital de quase 90% abaixo do preço da oferta pública inicial diante do insucesso de crescimento na abertura de novos pontos e aquisição de franquias.
Com as tentativas gerando pouco resultado e o aumento da competição, o oceano azul da ESPA não é mais o mesmo.
Existe mais mercado endereçável para ESPA?
O que sempre nos preocupou na tese foram basicamente os pontos de baixa barreira de entrada, já que é necessário um espaço de apenas 25 a 60 metros quadrados, e o equipamento depilador (Laser Alexandrite), que é facilmente comprado no Mercado Livre por R$ 40 mil.
Embora o baixo investimento se traduza em escalabilidade – e percebemos isso com o crescimento e número de lojas, também se mostra um modelo facilmente replicável por concorrentes.
GioLaser, LaserFast, OpenLaser, DioLaser, Emporium da Beleza…
Todos atuando pela mesma fatia de 8% da população que faz parte do mercado de estética a laser.
Em mercados mais maduros – como Estados Unidos – essa fatia pode chegar até 50%, sendo um processo exaustivo de educação de seus clientes para que a população queira avançar em procedimentos estéticos e tope deixar um percentual de sua renda dedicado a isso.
É um mercado que precisa de tecnologias cada vez mais avançadas, enormes investimentos de participantes da indústria em pesquisa e desenvolvimento para manter as aplicações seguras, além de um forte investimento em marketing.
Para funcionar aqui no Brasil, seria necessária a combinação tecnologia + educação dos brasileiros para atenção e direcionamento de renda ao segmento + aquisições.
Promessas de IPO são música para os ouvidos
Tecnologia e aquisições demandam altos investimentos, o que a alavancagem alta da companhia (atuais 7x Ebitda) não permite.
Atingir um funil maior e educar os brasileiros a se conscientizarem sobre a necessidade de adquirir um hábito supérfluo nos parece um planejamento para uma década, contando com um cenário macro mais otimista que incentiva o consumo.
Desde o IPO, essas eram as preocupações, e os ventos não foram positivos para a companhia crescer.
No entanto, apesar da forte tempestade advinda da pandemia, a companhia divulgou recentemente um crescimento de +17% nas vendas em todas as lojas próprias e franquias e +9% em vendas nas mesmas lojas (same-stores-sales).
É um indicador importante para os investidores, dado que a empresa conseguiu amadurecer a frota de resultados dos últimos 12 meses em lojas que já estavam abertas anteriormente.
A Espaçolaser encerrou o ano de 2022 com 769 lojas no Brasil e um novo recorde de vendas anual, totalizando R$ 1,4 bilhão, alta de +14% em relação a 2021.
Os caminhos para manter o crescimento, além de novas lojas, também envolveram descontos e estratégias de marketing mais agressivas como novos influenciadores (além da Xuxa).
A concorrência está cada vez mais forte, até com “promessas de retorno de 20%” em seus sites para atrair o maior número de franqueadores.
Já a EspaçoLaser opta por uma estratégia mais direcionada em vendas pelo WhatsApp com descontos bastante atrativos ao consumidor.
Como ficarão as margens do EspaçoLaser com uma nova safra de 75% de desconto?
Xuxa não está nada feliz
Para tentativas de retomar crescimento de forma mais agressiva, crescer apenas +14% no ano em vendas nos parece muito pouco diante dos riscos da estratégia da alta alavancagem e do cenário macro que não deve melhorar tão cedo.
O endividamento da companhia ainda é bastante alto e mais preocupante nos cenários atuais com os juros elevados, o que eleva o risco da estratégia em investir em ESPA.
Com os dados dos últimos 12 meses, a companhia ainda possui um endividamento de quase 7 vezes Ebitda, segundo a Bloomberg, o que é bastante alto para um negócio que: i) possui baixa barreira de entrada, ii) altíssima necessidade de investimentos para sustentar o crescimento via novas lojas, marketing e tecnologia, além de iii) uma estratégia no histórico de alavancagem com complicações para o negócio e para os acionistas.
A 2 vezes EV/Ebitda, seguimos de fora das ações de ESPA.
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Um abraço.