Embraer (EMBR3) encerra 4T24 com recordes em receita e carteira de pedidos
A empresa apresenta forte expansão nas entregas, melhora operacional e redução da alavancagem, consolidando sua posição no setor aeroespacial global

A Embraer (EMBR3) reportou resultados acima do consenso de mercado, com receita líquida de R$ 13,7 bilhões no 4T24, uma alta de +41% em relação ao 3T24. O Ebitda ajustado foi de R$ 1,95 bilhão, registrando alta de +56,6%, e o lucro líquido ajustado chegou a R$ 1 bilhão, alta de +211%. Esses resultados foram comparados ao mesmo período do ano anterior.
EMBR3 reporta recorde de resultados
A Embraer encerrou o 4T24 com um desempenho sólido, impulsionado pelo crescimento de 41% na receita, alcançando R$13,7 bilhões, e pelo aumento de 40% na carteira de pedidos, que atingiu um recorde histórico de US$26,3 bilhões, refletindo a forte demanda nos segmentos de aviação comercial, executiva e defesa.

Em relação aos segmentos, temos:
1 - Aviação Executiva (~28% da receita): crescimento de +27% na receita, beneficiada positivamente pelo câmbio, apesar da redução de margem ebit (mix).
2 - Defesa & Segurança (~10% da receita): crescimento de +39% na receita, em especial pelo reconhecimento dos resultados da receita do A-29 Super Tucano. O destaque ficou também para expansão de margens do segmento, de 18% ante 3%, devido ao volume de vendas do A-29 e mix de clientes do KC-390.
3 - Aviação comercial (~42% da receita): crescimento de +58% com destaque para o crescimento do maior número de entregas e variação cambial. A margem ebit ficou em 9% ante 5%.
4 - Serviços e Suporte (~19% da receita): crescimento de +35% em função da maior utilização de frota e a rampagem da OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico) na manutenção, reparo e revisão (MRO) dos motores GTF (Geared Turbofan). A margem ebit ficou estável em 17%.
5 - Outros (~1% da receita): crescimento de +11% na receita devido ao maior volume de aviação agrícola.
No trimestre, o EBIT ajustado foi de R$1,6 bilhão, com uma margem de 11,5% se excluídos R$40,1 milhões de itens extraordinários (ou seja, despesas de Eve). A Eve é uma subsidiária da Embraer voltada para o desenvolvimento de aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical, conhecidas como eVTOL (electric Vertical Take-Off and Landing).
Criada em 2020 como uma divisão de inovação, a Eve é focada no mercado de mobilidade aérea urbana, com o objetivo de oferecer uma solução de transporte mais sustentável e eficiente para ambientes urbanos.
O lucro líquido ajustado foi de R$1,1 bilhão no trimestre, em comparação com R$350,6 milhões do ano anterior, se excluídos itens extraordinários, como R$(548,8) milhões em impostos diferidos e R$(280,6) milhões de resultados da Eve (impactados negativamente pelas perdas de marcação a mercado de suas warrants devido ao preço mais alto de suas ações). Sem esses efeitos, o lucro líquido foi de R$ 264 milhões ante R$ 943,6 milhões no 4T23.
Atualmente, a Embraer (excluindo Eve) possui três principais projetos de crescimento sustentável:
- Aviação Executiva (capex de US$90 milhões de 2024 a 2027; Gavião Peixoto SP, Brasil e Melbourne FL, EUA): aumento na capacidade de produção da unidade de negócios até 2027 em linha com a recente expansão da sua carteira de pedidos;
- Serviços & Suporte (capex de US$90 milhões de 2021 a 2025; OGMA Portugal): nova linha para indução de motores PW1.100 e PW1.900 com início de operação em 2024 e capacidade total (receita de US$500 milhões) em 2028; e
- Serviços & Suporte (capex de US$70 milhões de 2025 a 2026; Fort Worth TX, EUA): aumento na capacidade de MRO para atender clientes da Aviação Comercial na América do Norte em 50%+ em 2027.

A Embraer encerrou 2024 com uma relação dívida líquida/Ebitda de 0,1x, abaixo dos 1,4x de 2023.
Encerrando um ótimo 2024
A Embraer encerrou 2024 com um desempenho sólido em suas entregas e um crescimento expressivo no backlog, consolidando a empresa como uma das principais fornecedoras globais de aeronaves nos segmentos de aviação comercial, executiva e defesa.
Ao longo do ano, a empresa entregou um total de 206 aeronaves, um aumento de +14% em relação às 181 entregues em 2023. O crescimento foi impulsionado principalmente pelo segmento de aviação comercial, que atingiu o teto das estimativas da empresa.
- Aviação Comercial: 73 aeronaves entregues, contra 64 em 2023.
- E175: 26 unidades.
- E190-E2: 8 unidades.
- E195-E2: 39 unidades.
- Aviação Executiva: 130 jatos entregues, contra 115 em 2023.
- Jatos leves (Phenom 100/300): 75 unidades.
- Jatos médios (Praetor 500/600): 55 unidades.
- Defesa & Segurança: 3 unidades do KC-390 Millennium, contra 2 entregas em 2023.
A carteira de pedidos total da Embraer atingiu um recorde histórico de US$26,3 bilhões no 4T24, crescendo 40% em relação ao 4T23 e aumentando 16% na comparação trimestral. O backlog de cada segmento evoluiu da seguinte forma:
- Aviação Comercial: US$10,2 bilhões, um crescimento de 15% em relação a 2023. Apesar do aumento no volume de entregas, o backlog permaneceu forte devido a novos pedidos expressivos, como os realizados por Luxair, LOT Polish Airlines e American Airlines.
- Aviação Executiva: US$7,4 bilhões, expansão de 70% na comparação anual. O maior impulsionador desse crescimento foi um contrato de 182 aeronaves com a Flexjet, incluindo opções para 30 jatos adicionais.
- Serviços & Suporte: US$4,6 bilhões, um aumento de 50% em relação ao 4T23. Esse crescimento foi puxado por contratos de manutenção e suporte logístico para clientes como Air Serbia, LOT Polish Airlines e CommuteAir.
- Defesa & Segurança: US$4,2 bilhões, crescimento de 67% sobre o 4T23. A divisão assinou novos contratos para 4 aeronaves KC-390 Millennium e 10 A-29 Super Tucano.
Apesar do crescimento anual, o backlog da aviação comercial sofreu uma queda de 8% no 4T24 em relação ao 3T24, reflexo do alto volume de entregas no período. Esse comportamento é comum na aviação comercial, pois o último trimestre do ano concentra boa parte das entregas, reduzindo temporariamente os pedidos em carteira.
Perspectivas otimistas para 2025
Para 2025, a Embraer projeta um novo crescimento no volume de entregas e espera manter a forte demanda por seus produtos.
Entrega estimada de aeronaves:
- Aviação Comercial: 77 a 85 unidades, representando um crescimento de aproximadamente 10% na comparação anual.
- Aviação Executiva: 145 a 155 unidades, aumento de 15% sobre 2024.
- Receita consolidada projetada: US$7,0 a US$7,5 bilhões, crescimento de 13% em relação a 2024.
- Margem Ebit ajustada esperada: 7,5% a 8,3%, ligeira queda anual devido a mix de produtos e fatores cambiais.
- Fluxo de caixa livre estimado: acima de US$200 milhões.
A empresa seguirá focada em três pilares estratégicos para sustentar seu crescimento:

Crescimento na aviação comercial
- A Embraer continua expandindo sua base de clientes para os jatos da família E2, destacando-se a venda de 20 aeronaves para a ANAHD (All Nippon Airways) no Japão, o primeiro pedido do modelo no país.
- A empresa mantém campanhas comerciais ativas em mercados estratégicos, como América do Norte, Europa e Ásia.
- A otimização da produção será um fator-chave, buscando alcançar a meta de 100 aeronaves comerciais por ano.
Expansão na aviação executiva e serviços
- O contrato recorde com a Flexjet garantirá um fluxo contínuo de entregas nos próximos anos, aumentando a previsibilidade de receita na divisão executiva.
- O segmento de Serviços & Suporte deve continuar crescendo, apoiado pelo aumento da frota global de aeronaves Embraer e pelo ramp-up da OGMA na manutenção dos motores GTF.
Consolidação da defesa & segurança
- A Embraer busca expandir a carteira do KC-390 Millennium, que já foi adquirido por forças aéreas de Áustria, República Tcheca e Holanda.
- O A-29 Super Tucano segue como um dos principais produtos da empresa no setor de defesa, com novas campanhas comerciais para exportação.
Por que a Embraer engatou essa maré de crescimento?
A Embraer entrou em um ciclo de forte crescimento a partir de 2023, impulsionada por uma combinação de fatores estratégicos, operacionais e de mercado.
O desempenho positivo da empresa se deve a três grandes pilares: recuperação da demanda global, eficiência operacional e diversificação do portfólio.
Recuperação da demanda no setor aéreo
- A aviação global passou por uma forte retomada pós-pandemia, com companhias aéreas renovando e expandindo suas frotas para atender ao crescimento da demanda por viagens.
- O segmento de jatos regionais, onde a Embraer tem forte presença, foi especialmente beneficiado, pois muitas companhias aéreas passaram a priorizar aeronaves menores e mais eficientes para otimizar suas operações.
- O aumento no tráfego aéreo impulsionou contratos de manutenção e suporte, beneficiando a divisão de Serviços & Suporte.
Eficiência operacional e expansão de Margens
- A empresa implementou melhorias operacionais e controle de custos, o que ajudou a expandir suas margens.
- A redução do endividamento e o aumento da geração de caixa permitiram investimentos em novas tecnologias e otimização da cadeia de suprimentos.
- O ramp-up da OGMA para manutenção de motores GTF reforçou a receita da unidade de serviços, garantindo um fluxo estável de ganhos.
Diversificação do portfólio e expansão internacional
- A Embraer consolidou sua posição como líder mundial em jatos regionais, com a família E2 ganhando espaço nos mercados da América do Norte, Europa e Ásia.
- No setor de aviação executiva, a empresa conquistou um contrato recorde com a Flexjet, garantindo uma carteira de pedidos robusta para os próximos anos.
- O segmento de defesa teve uma forte expansão, com novos contratos para o KC-390 Millennium e o A-29 Super Tucano, incluindo clientes da OTAN e da União Europeia.
- A empresa também se beneficiou da busca por aeronaves mais eficientes e sustentáveis, com menor consumo de combustível e menor emissão de CO₂.
Quais são os riscos para a Embraer daqui para frente?
Mesmo com o cenário favorável, a Embraer enfrenta riscos importantes que podem afetar seu crescimento nos próximos anos. Os principais desafios incluem problemas na cadeia de suprimentos, concorrência acirrada, risco cambial e volatilidade macroeconômica.
Desafios na cadeia de suprimentos
- A indústria aeroespacial continua enfrentando gargalos na produção de componentes essenciais, como semicondutores, materiais compostos e motores.
- A Embraer depende de fornecedores globais e eventuais atrasos na entrega de peças podem comprometer seu cronograma de produção e entrega.
- O impacto mais crítico desse risco seria a dificuldade de atingir a meta de 100 aeronaves comerciais por ano.
Concorrência global e pressão nos preços
- A Embraer enfrenta concorrência direta da Airbus (A220) no mercado de jatos regionais e da Dassault e Gulfstream no segmento executivo.
- No setor de defesa, a disputa com Lockheed Martin, Boeing e Airbus Defense pode limitar novas vendas do KC-390 e do A-29 Super Tucano.
- Um fator de risco é a pressão das companhias aéreas por descontos em pedidos de grandes volumes, o que pode comprometer as margens da empresa.
Risco cambial e exposição ao dólar
- A maior parte da receita da Embraer é dolarizada, mas uma parte dos custos ainda é em reais.
- Se o real se valorizar em relação ao dólar, a margem de lucro pode ser impactada negativamente.
- Além disso, a volatilidade das taxas de câmbio pode afetar contratos de longo prazo, especialmente nos mercados emergentes.
Ciclo econômico e taxas de Juros
- A demanda por aeronaves está diretamente ligada ao crescimento econômico global. Se houver uma desaceleração econômica, as companhias aéreas podem reduzir pedidos e adiar entregas.
- Taxas de juros mais altas também tornam o financiamento de novas aeronaves mais caro, o que pode limitar novos pedidos.
O que esperar de Embraer?
A Embraer vive um momento de crescimento sólido, impulsionado pela recuperação da demanda global, eficiência operacional e diversificação de portfólio. A empresa conseguiu reduzir sua alavancagem e aumentar suas margens, ao mesmo tempo em que consolidou novos pedidos para os próximos anos.
No entanto, riscos como gargalos na cadeia de suprimentos, concorrência acirrada e volatilidade cambial podem impactar o ritmo de crescimento. A forma mais eficiente de monitorar a continuidade desse ciclo positivo é acompanhar a evolução do backlog, as entregas e a rentabilidade da empresa.
Se a Embraer conseguir manter sua eficiência produtiva e seguir convertendo pedidos em faturamento, ela pode sustentar sua trajetória de expansão ao longo dos próximos anos.
Não temos recomendação de compra para a companhia, mas a manteremos em nosso radar.