Do LEGO aos investimentos

Luiz Felippo 25/04/2021 13:00 4 min
Do LEGO aos investimentos

É impressionante como as crianças parecem nascer com o iPad na mão hoje em dia, com a diversão se transferindo da rua para os aplicativos.

Pode ser que meus pais dissessem o mesmo sobre as minhas horas vibrando no Game Boy jogando Pokémon, mas isso não vem ao caso (risos). Outra das minhas diversões era montar LEGO. Esse era um presente caro na época, então era sempre uma alegria quando o recebíamos.

Caixa de LEGO.

Assim que desembrulhava aquele papel amarelo da PBkids, logo já queria começar a eterna luta de montar o brinquedo. Despejava todas aquelas peças no chão e buscava o manual para começar o processo.

A depender da complexidade do desenho, que variava bastante para crianças de 10 anos, ficava ali durante algumas horas lendo o manual e buscando encaixar cada peça no seu lugar devido, o que, às vezes, não era tão intuitivo quanto parecia.

A felicidade era simplesmente completar a estrutura toda. Sentia-me tão orgulhoso de conseguir montar aquilo tudo que passava horas depois brincando com ele.

O interessante de toda essa história é que, como vocês bem sabem, no LEGO, cada parte é importante para colocar toda a estrutura de pé e, sem uma única peça, o desenho fica incompleto.

Porém, a verdadeira mágica não está no uso de cada peça, mas sim no projeto pronto. Para os seus investimentos, vale a mesma ideia.

A parte e o todo

Os últimos anos de bolsa foram realmente incríveis. Em um país instável como o Brasil, em que a cada 5 minutos temos uma nova minicrise, o Ibovespa ter entregado um retorno de 25 por cento ao ano nessa última meia década é um feito e tanto.

Não houve nenhuma classe de ativo nesse mesmo período que superou os retornos fabulosos que o mercado de ações nos proporcionou.

Pode escolher: coloquei, no gráfico abaixo, as principais categorias de investimento, desde o dólar, fundos multimercado, investimentos no exterior, fundos indexados ao juro longo…

Gráfico apresenta as principais categorias de investimento, desde o dólar, fundos multimercado, investimentos no exterior, fundos indexados ao juro longo etc. de 2016 a 2021.
Fonte: Economatica

Veja que, de fato, as ações superaram tudo e todos. A minha impressão é que isso deixou o investidor brasileiro um tanto quanto mal-acostumado, com o pensamento voltado somente para qual ação ele compra hoje.

Até mais recentemente, falar de investir no CDI se tornou “ultrapassado”, por ser pouco rentável e comentar sobre fundos multimercado gerando retorno de 7 por cento ou 8 por cento ao ano se tornou pouco atraente.

É inegável que as ações são importantes no seu portfólio, mas os retornos destas vieram de um Brasil bastante peculiar, algo que poucas vezes vimos acontecer. Na maior parte do tempo, convivemos com um país que é consideravelmente diferente do atual.

A melhor definição sobre esse paradigma entre os diferentes “Brasis” veio da Atmos, gestora carioca de ações, então vou me apropriar da fala deles:

Print de comunicado da Atmos sobre o "Brasil de sempre" e o "Brasil dos últimos 4 anos". Ainda, ao final, há o seguinte trecho destacado: "Nesse contexto, vínhamos abandonando nosso ceticismo e aceitamos observar o horizonte através de uma lente mais construtiva. Sob a visão de juros estruturalmente baixos e uma recuperação cíclica na porta de casa, a aventura de investir a totalidade do portfólio em ativos de duration longo parecia uma decisão sábia."

A fala sobre abandonar as lentes do ceticismo para observar o país por meio de uma lente mais positiva é perfeita. É inegável o quanto isso foi rentável.

Porém, não nos deixemos enganar, pois passamos grande parte do tempo no “Brasil” do primeiro parágrafo. Basta olhar que, uma década atrás, iniciavam-se 5 anos de agonia para o mercado de ações – com ele sendo a pior classe para se estar.

Então, meu caro investidor, assim como eu não podia montar um castelo de LEGO somente com um tipo de peça, você também não pode construir a sua carteira com base em apenas uma classe.

Olhe para o todo

Antes que tenham a impressão de que o Apocalipse está batendo às suas portas, não é bem assim. Não vejo a situação tão insustentável a ponto de entrarmos em uma rota de colisão com uma situação mais delicada.

Entretanto, o ato de investir pressupõe que tomamos decisões com base naquilo que não sabemos. Eu trabalho sempre na hipótese de que não sei o que virá, tentando tomar as melhores decisões para deixar meu portfólio robusto e rentável.

Nesse sentido, a melhor forma de fazer isso é diversificando (de forma inteligente) entre classes de ativo.

Transforme a sua carteira simultaneamente em escudo e espada, capaz tanto de se defender de momentos conturbados quanto de atacar na hora certa. Essa é a melhor fórmula que eu conheço para você chegar ao longo prazo com um portfólio rentável.

Se você não tem ideia de onde iniciar essa jornada, comece pelo básico. Invista em renda fixa, multimercados e tenha investimentos no exterior. Deixe de ter uma carteira 90 por cento em bolsa para uma alocação mais saudável.

Se você precisar de ajuda, a Marilia tem feito um trabalho incrível no Nord Advisor, mostrando aos assinantes como dividir entre as classes de ativo existentes.

Desejo um ótimo domingo para você.

Um abraço,

Luiz

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