Dívida do Flamengo é de R$ 79 milhões no 1º semestre
Resultado negativo até junho é considerado normal pela diretoria do Flamengo, que projeta superávit no fim do ano.
O Flamengo divulgou seus demonstrativos financeiros do segundo trimestre e consolidados do primeiro semestre de 2024. Até 30 de junho, o clube registrou um déficit financeiro acumulado de R$ -79 milhões nos seis primeiros meses do ano.
Mas será que o resultado do clube foi tão ruim assim?
Qual é a situação financeira do Flamengo hoje?
Na primeira metade do ano, o Flamengo registrou uma receita líquida de R$ 436 milhões, queda de -22% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O desempenho mais fraco pode ser justificado, principalmente, por dois fatores: (i) a receita “não recorrente” com venda de um atleta (João Gomes) por R$ 103 milhões em 2023 e (ii) pelo maior número de competições disputadas no período comparável.
Vale lembrar que, no primeiro semestre de 2023, o Flamengo havia disputado a Recopa Sul-Americana, a Supercopa do Brasil e o Mundial de Clube – o que não ocorreu em 2024.
Como o Flamengo ganha dinheiro?
O Flamengo divide sua receita entre futebol e clube social e esportes amadores.
Dentro da receita com futebol (86% do total), cabe destacar a receita com direitos de transmissão e prêmios, que totalizou R$ 134 milhões (-15%) e a receita comercial, que foi de R$ 142 milhões (+27%).
Enquanto isso, a receita com operações de jogos foi de R$ 111 milhões (-15%). Como já mencionado acima, o clube não registrou receita com transferência de atletas no período.
Por que a dívida do Flamengo chegou a R$ 79 milhões no 1º semestre de 2024?
Já os custos totalizaram R$ 454 milhões, montante maior que a receita líquida, mas representando uma leve queda de -4% na comparação anual. Assim, o resultado bruto do clube foi negativo em R$ -19 milhões (vs. R$ 88 milhões no 1S23).
Entre os principais custos do Flamengo estão: (i) salários, encargos e benefícios a funcionários (38% do total) e (ii) amortizações de atletas (22%).
Apesar dos custos terem caído no semestre, as despesas operacionais (em especial as despesas administrativas) subiram, contribuindo para que o resultado operacional fosse negativo em R$ -69 milhões (vs. R$ 38 milhões no 1S23).
Por fim, as despesas financeiras (juros da dívida) cresceram +36% no período. Contudo, cabe destacar que o impacto do aumento é baixo, tendo em vista o endividamento altamente controlado do Flamengo.
Ainda assim, o resultado líquido do clube foi negativo (déficit) em R$ -79 milhões.
Como a dívida do Flamengo afeta a saúde financeira do clube em 2024?
Apesar do resultado negativo, é fácil notar que os números do clube foram impactados por alguns efeitos pontuais. Com diversos títulos em disputa na segunda metade do ano e já retomando a venda de atletas, a tendência é de melhores resultados ao final de 2024.
Anualizando os resultados do semestre (excluindo efeitos sazonais do futebol brasileiro), o Flamengo ainda entregaria uma receita superior a R$ 1 bilhão no ano atual.
Sendo assim, mesmo com o déficit registrado, o Flamengo mantém uma saúde financeira adequada e muito superior a outros clubes do país (não citarei nomes, porque o clube do analista que vos fala está neste grupo).
Inclusive, para falar de saúde financeira, vale nos aprofundarmos em outras demonstrações financeiras além do DRE (demonstrativo de resultados do exercício) do clube.
Qual o tamanho da dívida do Flamengo?
Analisando o balanço patrimonial (basicamente, a relação entre ativos e passivos), a sustentabilidade financeira do Flamengo fica ainda mais clara.
Enquanto muitos clubes estão atolados em dívidas, o Flamengo possui uma conta de passivos bastante equilibrada, sem empréstimos ou outros tipos de financiamentos que geram juros exorbitantes.
As principais “dívidas” do clube são: (i) contas a pagar na transferência de jogadores; (ii) adiantamentos recebidos (em especial de televisão) e (iii) impostos e contribuições sociais (a maior parte a serem pagos entre 2026 e 2035).Leia também: Os maiores clubes de futebol brasileiro. Veja o ranking
Quanto o Flamengo tem em caixa?
Ainda no balanço patrimonial, mas agora analisando os ativos, é possível notar que o Flamengo mantém uma posição de caixa de R$ 187 milhões (R$ 209 milhões se considerarmos o caixa investido em renda fixa de alta liquidez).
A posição apresentou uma redução na comparação com o 1S23, que é explicada pelo menor caixa gerado nas atividades operacionais, tendo em vista os efeitos já mencionados por aqui, além da manutenção de altos pagamentos na compra de jogadores, que totalizaram R$ 122 milhões na primeira metade do ano.
Contudo, mesmo que tenha caído, é possível afirmar que o Flamengo ainda mantém uma posição de caixa robusta para, se preciso, seguir investindo em jogadores e outros projetos (já estão estudando a construção de um estádio próprio).
O que o déficit de R$ 79 milhões revela sobre a gestão financeira do Flamengo?
Por manter uma estrutura de custos elevada (clubes grandes precisam de elencos fortes para disputar os campeonatos) e não ter faturado nenhuma venda de atleta no 1S24, o Flamengo acabou registrando déficit em suas contas.
Assim, as manchetes dos jornais acabam focando apenas neste ponto e alarmando muitos torcedores do clube.
Contudo, como apresentamos acima, não existem grandes motivos para preocupações em relação à gestão atual do Flamengo.
O futebol é um mercado sazonal e que conta com eventos não recorrentes (positivos e negativos) ao longo do ano. Sendo assim, é normal que os resultados dos clubes oscilem mais do que de empresas de outros setores.
O que importa é que o Flamengo vem fazendo um excelente trabalho em sua gestão nos últimos anos, que vem resultando em títulos e um melhor desempenho financeiro.
É possível investir no Flamengo?
Infelizmente (ou felizmente no caso de alguns), os clubes de futebol não possuem suas ações listadas na bolsa de valores.
Logo, não é possível investir no Flamengo, Corinthians, Palmeiras, entre outros.
O que podemos afirmar é que, tendo em vista a saúde financeira e a visibilidade futebolística nos próximos anos, se o Flamengo tivesse ações listadas na B3, o mesmo estaria em nosso radar de investimentos (obviamente, a depender do preço).
