Desenrola Brasil deve reduzir inadimplência do Nubank, mas sem impacto sobre receita do banco
O Nubank (NUBR33) estava “em cima do muro” para entrar no Desenrola Brasil, lançado no início desta semana, mas deu o braço a torcer. O banco confirmou presença no programa do governo federal na última quarta-feira, 19.
Por mais que o lucro líquido do último resultado tenha sido melhor do que o esperado, o banco reportou uma piora dos índices de inadimplência no primeiro trimestre de 2023. As dívidas vencidas há mais de 90 dias passaram de 5,2% em dezembro para 5,5% em março.
A inadimplência dos seus mais de 80 milhões de clientes no Brasil deve tirar o sono de muitos.
O que é o programa Desenrola Brasil?
O Desenrola Brasil é um programa de renegociação de dívidas para limpar o nome de pessoas físicas que estão inscritas em cadastros de serviços de proteção de crédito (SPC Brasil e Serasa).
Podem ser renegociadas dívidas financeiras e não financeiras de até R$ 5 mil, feitas entre 1º de janeiro de 2019 e 31 de dezembro de 2022.
O prazo para a conclusão da retirada dos negativados vai até o dia 28 de julho.
Qual é o impacto do programa Desenrola Brasil?
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que 1,5 milhão de CPFs com dívidas até R$ 100 devem ser removidos da lista de negativados até o fim do mês pelos bancos que já aderiram ao Desenrola. Com a adesão do Nubank, esse número pode chegar a 2,5 milhões.
Banco do Brasil, Banrisul, Bradesco, Caixa, Daycoval, Inter, Itaú, PagBank, Pan e Santander foram outros bancos que confirmaram participação no programa.
Inadimplência do Nubank
De acordo com os dados divulgados pelo ministro Haddad, cerca de 1 milhão de CPFs inadimplentes estão na base do Nubank.
1 milhão de pessoas endividadas — isto é, com dívidas em atraso — é bastante, mas faz sentido. As pessoas que se tornaram clientes do Nubank foram atraídas pela promessa de que o banco não cobraria taxas, o que não é totalmente verdade.
Apesar de oferecer diversos serviços gratuitos, o Nubank cobra taxas tão altas quanto os bancos tradicionais.
Tanto é que a maior base de receitas do Nubank vem de cartão de crédito, principalmente no rotativo (ou seja, compras parceladas), e de empréstimos.
Pior do que aparenta
Nesse contexto e considerando o crescimento das operações de crédito do banco digital, a perspectiva no curto prazo é de alta da inadimplência e das provisões para calote, tanto em cartões quanto empréstimos pessoais.
Conforme mencionado acima, o Nubank teve aumento nos índices de inadimplência com mais de 90 dias de atraso no 1T23 (para 5,5%), acima dos pares do mercado como o Inter, que apresentou uma inadimplência de 4,7% no mesmo período.
Além de ser um nível bastante elevado e preocupante, na comparação anual, o roxinho também apresentou o maior aumento da inadimplência (+2 pontos percentuais) em relação ao seu par, o que reforça a deterioração da carteira de crédito da companhia com um cenário macro mais difícil.
Desenrola é positivo para as instituições financeiras
É importante reforçar que o programa dá ao inadimplente a oportunidade de renegociar suas dívidas com os bancos, que se beneficiam de um novo prazo, com novos juros, de um valor que já era praticamente considerado como perdido dentro das instituições financeiras.
No entanto, o Desenrola não parece suficientemente relevante para impactar de forma eficiente a dinâmica de receitas do Nubank.
Da forma como o programa foi apresentado, parece mais benéfico às instituições financeiras que conseguirem reaver um valor muito acima quando marcam o prejuízo das dívidas inadimplentes ou quando recebem pagamentos bastante baixos por meio de programas de descontos de dívidas em “feirões limpa nome”.