Crise hídrica: e agora?
Racionamento à vista?
A crise hídrica que estamos vivendo tem se demonstrado um assunto bem quente nesses últimos tempos, gerando algumas dúvidas acerca de possíveis impactos no fornecimento de energia em nosso país. Assim, julguei necessário separar este espaço na data de hoje para abordar a respeito desse assunto tão delicado.
A ONS – entidade que coordena o setor elétrico – tem realizado alertas sobre o atual regime de chuvas no Brasil: estamos enfrentando a pior crise hidrológica desde 1930, com situação crítica nos principais reservatórios de usinas hidrelétricas. Isso, de certa forma, é um pouco preocupante, uma vez que boa parte do fornecimento de energia elétrica do nosso país provém de fontes hídricas.
Com esse cenário, pode-se pensar que o volume disponível não será suficiente para atender à demanda por energia que se faz necessária no país, o que poderia implicar um risco de racionamento nos próximos meses.
No entanto, apesar da situação delicada, é importante não se desesperar e realizar alguns questionamentos para um melhor entendimento “do todo”: quem pode sofrer algum impacto? Quem ganha com isso tudo? O que esperar de agora em diante?
Quem se favorece? Quem se prejudica?
Obviamente, a crise hídrica afeta diversos tipos de Companhias – empresas do setor elétrico, empresas de saneamento, empresas da indústria que demandam altas cargas de energia em seus processos produtivos etc. –, mas não todas da mesma forma. Daria para abordar um pouco de todas essas, mas para simplificar, vamos levar em consideração apenas as empresas do setor elétrico.
Transmissão: o impacto é nulo. As transmissoras são responsáveis pela interligação entre as geradoras e as distribuidoras. A remuneração desse tipo de Companhia é com base na disponibilidade das suas linhas, não estando relacionada ao volume de energia que é transportado. Logo, um possível impacto de racionamento não deve afetar o modelo de receita dessas empresas.
Distribuição: o impacto é presente. Essa é a parcela do setor elétrico responsável por levar a energia ao consumidor final. As distribuidoras contam com modelos de projeção de consumo de energia elétrica e, com base nisso, elas contratam energia das geradoras. A contratação pode ser feita de duas formas: i) leilões com base em contratos longos e/ou ii) mercado de curto prazo.
Geralmente, a contratação/venda no mercado de curto prazo (via de regra, uma energia mais cara) serve para fazer ajustes menores em relação ao que já foi previamente contratado nos leilões, que respondem por boa parte das projeções – em outras palavras, o que sobrar ou faltar acaba passando pelo mercado de curto prazo.
O risco: distribuidoras que não estão previamente contratadas podem ter que arcar com preços maiores no mercado livre de energia em um momento de racionamento.
Geração: o impacto é presente. As geradoras são as empresas responsáveis pela produção de energia elétrica para as distribuidoras. Com um maior risco de seca nos reservatórios, quem se prejudica mais são as geradoras com maior representatividade no portfólio atrelada à geração hídrica. Assim, o risco se encontra em não conseguir entregar uma energia que já foi vendida (energia que as geradoras possuem obrigação de produzir para as distribuidoras).
De um lado: i) se não conseguirem entregar, pagam indenizações; ii) se não conseguirem gerar de forma suficiente para fazer frente ao que foi contratado, em função da crise hídrica, também deverão recorrer ao mercado livre de energia para cobrir a diferença (comprar energia mais cara de outras empresas que estão conseguindo gerar, de forma a honrar os seus contratos, o que seria mais prejudicial aos resultados).
No caso específico das geradoras, vejo que, em uma situação adversa como a que estamos comentando, ganha quem apresenta maior diversificação no portfólio (com fontes eólica, solar, térmica...), de forma a mitigar o risco hidrológico. Mas não somente isso, vejo que ganha também quem estiver com um portfólio bem diversificado e com um menor volume de energia contratada – assim, existe a chance de conseguir executar preços mais atrativos no mercado livre.
Curto prazo complexo; longo prazo de oportunidades
Em linhas gerais, entendo que tudo isso consiste numa situação temporária, com um curto prazo complexo. Mas isso vai passar!
Por ora, o importante é olhar para cada empresa em si, entender o seu portfólio, qual o nível de contratação, os impactos, valuation, perspectivas de longo prazo etc.
Você já chegou a olhar dessa forma para as teses que você investe? É exatamente assim que as oportunidades aparecem! É exatamente assim a nossa conduta no Nord Dividendos!
Abraços e até semana que vem,