Inflação nos EUA desacelera em março
Apesar da deflação no número cheio e da desaceleração do núcleo, o dado não foi tão fraco como aparenta à primeira vista

A inflação ao consumidor dos Estados Unidos, medida pelo CPI, apresentou deflação de -0,05% em março, abaixo das expectativas de +0,10%. O número é menor do que o registrado no mês anterior (+0,20%) e em relação a março de 2024 (+0,30%).
Essa deflação do CPI se deu pela queda dos preços de energia (-2,39%), principalmente pela forte queda da gasolina (-6,2%).

O núcleo do CPI, que é o dado mais importante por excluir itens mais voláteis (alimentos e energia), apesar de não ter registrado deflação, subiu apenas +0,06%, bem abaixo das expectativas de +0,30%. O número também desacelerou sobre o mês anterior (+0,23%) e sobre março de 2024 (+0,38%).

Em 12 meses, o núcleo desacelerou de +3,12% para +2,79%.

Para esse menor resultado do núcleo, é importante destacar a boa desaceleração de serviços, de +0,25% para +0,11%, o menor resultado desde agosto de 2021 (+0,09%).
O principal motivo para essa desaceleração de serviços foi a categoria de serviços de transporte, novamente impactada pela queda dos preços de passagens aéreas, que costuma ser mais volátil.

Ao olharmos para os preços mais estruturais da economia dentro do setor de serviços, os preços de aluguéis desaceleraram de +0,25% para +0,235%. Essa desaceleração, no entanto, veio de hospedagem fora de casa (-3,54%), enquanto os aluguéis dos proprietários de residências, que possuem o maior peso no cálculo, aceleraram de +0,28% para +0,40%, o maior resultado desde outubro de 2024 (+0,41%).

Em 12 meses, aluguéis desaceleraram de +4,26% para 4,01%.

Ainda dentro de serviços, assistência médica mostrou uma aceleração de +0,31% para +0,51%, o maior resultado desde setembro de 2024.

Enquanto isso, os preços de bens voltaram a apresentar deflação, de -0,09%, após as altas mais fortes nos dois primeiros meses do ano (+0,285% em janeiro e +0,22% em fevereiro), com essa deflação sendo motivada pela queda dos preços de carros usados e dos preços de medicamentos.

Em 12 meses, bens acumulam queda de -0,10%, ante -0,12% no mês anterior.

Cortes de juros pelo Fed após dados de inflação nos EUA
Ou seja, é um dado que não foi tão bom como aparenta ser à primeira vista, uma vez que boa parte das quedas que levaram às leituras mais fracas vieram de categorias com maior volatilidade. A desaceleração dos preços de aluguéis poderia ser algo positivo de forma mais estrutural, porém foi marcada pela queda dos preços de hospedagem fora de casa (hotéis, etc.), enquanto os preços dos aluguéis das propriedades aceleraram.
Sendo assim, esse CPI ainda reflete uma necessidade de cautela por parte do Federal Reserve no processo de flexibilização monetária, uma vez que a inflação ainda traz pontos de atenção. No entanto, um cenário de recessão econômica (que não faz parte do meu cenário base), poderia ser um motivo para acelerar a quantidade de cortes de juros.
A grande questão, em meio a essa volatilidade do mercado como reflexo da guerra comercial, é: o que o Fed irá priorizar, atividade ou inflação? Se priorizar a inflação (que deveria ser o foco em um cenário de não recessão), o banco central americano deveria manter a taxa básica de juros inalterada por mais algumas reuniões. Seguiremos acompanhando.

O que é o CPI americano?
O Consumer Price Index (CPI) é um dos principais dados de inflação ao consumidor, representando a variação média dos preços pagos pelos consumidores por uma cesta de bens e serviços.
Quando sai o CPI EUA?
O CPI é divulgado na primeira metade de cada mês, normalmente entre os dias 10 e 15.
O calendário de divulgação pode ser visto aqui.
Qual a taxa de inflação dos EUA hoje?
- CPI mensal de fevereiro: +0,22%
- Acumulado em 12 meses: +2,8%
- Núcleo do CPI mensal de fevereiro: +0,23%
- Núcleo acumulado em 12 meses: +3,12%

