Corte de gastos do Governo: o que muda com o novo pacote econômico

Entenda o pacote de corte de gastos do governo anunciado por Fernando Haddad, com medidas que prometem economia de R$ 70 bilhões. Veja os detalhes das propostas, como a limitação do salário mínimo, o combate aos supersalários e o impacto do aumento da isenção do IR

Nord Research 28/11/2024 08:14 6 min
Corte de gastos do Governo: o que muda com o novo pacote econômico

O pacote de corte de gastos do governo federal, apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem como meta central reduzir o déficit fiscal e fortalecer o compromisso com a responsabilidade econômica. O objetivo é economizar entre R$ 30 bilhões e R$ 40 bilhões por ano nos próximos dois anos, totalizando R$ 70 bilhões até 2026. A promessa de "déficit zero", defendida desde o início do governo Lula, ganha reforço com essas medidas, mas a inclusão do aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda surpreendeu o mercado e levantou questionamentos sobre o equilíbrio entre arrecadação e despesas.

A seguir, entenda detalhadamente cada medida anunciada, os desafios do governo em implementá-las e os impactos esperados na economia e na vida dos brasileiros.

O que é o pacote de corte de gastos do governo?

O pacote anunciado em rede nacional pelo ministro da Fazenda inclui uma série de ajustes fiscais para reduzir o rombo nas contas públicas. A proposta veio em um momento de pressão crescente para alcançar a meta de déficit zero em 2024, enquanto o governo enfrenta desafios como aumento de gastos obrigatórios, arrecadação insuficiente e volatilidade econômica global.

O plano não apenas busca cortar despesas, mas também inclui medidas que reorganizam benefícios sociais e tributários, impondo limites ao crescimento de gastos com emendas parlamentares, salários no funcionalismo público e previdência.

Entretanto, o anúncio de uma nova isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil trouxe um contraste com o restante do pacote, criando preocupações sobre o impacto fiscal.

Principais medidas do pacote de corte de gastos

Limitação do crescimento do salário mínimo

Uma das propostas mais significativas do pacote é a criação de um teto para o aumento real do salário mínimo. Ele continuará a subir acima da inflação, mas o reajuste estará limitado a 2,5% ao ano além dos índices inflacionários, de acordo com o arcabouço fiscal.

Antes, o salário mínimo era corrigido com base na inflação do ano anterior e no crescimento do PIB de dois anos antes, sem limites adicionais. Agora, o governo busca controlar o ritmo desse aumento para evitar impactos maiores nos gastos públicos obrigatórios, como aposentadorias e benefícios sociais atrelados ao salário mínimo.

Impacto esperado: A medida pode gerar economia significativa para o governo, mas pode enfrentar resistência da população e de sindicatos, que enxergam perda de poder de compra para os trabalhadores e aposentados.

Combate aos supersalários no setor público

Outra frente do pacote é o combate aos supersalários no funcionalismo público. O governo quer garantir que todos os agentes públicos respeitem o teto constitucional de R$ 44.008,52 mensais.

Hoje, algumas categorias conseguem ultrapassar esse teto por meio de benefícios, adicionais e gratificações. Com a regulamentação proposta, o governo busca cortar excessos e criar maior transparência na remuneração do setor público.

Impacto esperado: Além da economia direta, a medida atende a uma demanda social por maior igualdade no tratamento dos servidores públicos.

Mudanças na previdência dos militares

A previdência dos militares também foi incluída no pacote. Entre as alterações propostas estão:

  • Instituição de uma idade mínima para a reserva (hoje inexistente).
  • Limitação da transferência de pensões para dependentes.

Essas mudanças visam tornar a previdência militar mais sustentável no longo prazo.

Impacto esperado: Com uma estrutura previdenciária mais alinhada às regras aplicadas ao restante da população, a medida pode gerar economia significativa, mas enfrentará forte oposição de associações militares.

Redução do abono salarial

O governo anunciou a redução do limite de renda para quem tem direito ao abono salarial. Hoje, o benefício é destinado a trabalhadores que recebem até dois salários mínimos (R$ 2.824). A nova proposta reduz gradualmente esse limite até que ele alcance 1,5 salário mínimo.

A mudança será feita de forma escalonada, corrigindo o valor pela inflação ano a ano, e busca focar o benefício em trabalhadores de renda mais baixa.

Impacto esperado: Embora a medida tenha impacto positivo nas contas públicas, há risco de descontentamento popular, já que restringe o acesso a um benefício muito popular entre trabalhadores de baixa renda.

Limitação das emendas parlamentares

O crescimento das emendas parlamentares será limitado a 2,5% acima da inflação. Além disso, 50% das emendas destinadas por comissões terão que ser obrigatoriamente aplicadas em saúde pública.

Impacto esperado: Essa medida busca controlar a expansão das emendas, que consomem boa parte do orçamento público, além de direcionar recursos para áreas prioritárias como a saúde.

Proibição de novos benefícios fiscais

Sempre que houver déficit primário nas contas públicas, novos benefícios fiscais — como isenções de impostos e reduções tributárias — não poderão ser criados.

Impacto esperado: A medida reforça a responsabilidade fiscal, mas dependerá da capacidade do governo em resistir a pressões políticas de setores empresariais.

Aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda: uma decisão controversa

A grande surpresa do pacote foi o anúncio da elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda para até R$ 5 mil, beneficiando cerca de 36 milhões de brasileiros. A medida, prometida durante a campanha de Lula, deve entrar em vigor apenas em 2026 e terá impacto fiscal estimado em R$ 35 bilhões por ano.

Para compensar essa perda, o governo propôs uma tributação mínima de 10% sobre rendimentos acima de R$ 50 mil por mês, incluindo dividendos, atualmente isentos de tributação.

Reação do mercado: A inclusão dessa medida gerou desconfiança sobre o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal. No dia do anúncio, o dólar fechou a R$ 5,91, o maior valor nominal da história, e o Ibovespa caiu 1,73%.

Reações do mercado e dos especialistas

Economistas e analistas do mercado financeiro reagiram de forma mista ao pacote.

Pontos positivos:

  • O pacote representa um passo na direção correta ao abordar problemas como os supersalários e a sustentabilidade previdenciária.
  • A limitação de emendas parlamentares e a proibição de novos benefícios fiscais reforçam a responsabilidade com as contas públicas.

Pontos negativos:

  • A isenção do IR foi vista como uma contradição no contexto de cortes de gastos, já que reduz a arrecadação em um momento delicado.
  • A meta de economizar R$ 70 bilhões foi considerada insuficiente para estabilizar a relação dívida/PIB no longo prazo.

Especialistas também alertam que as medidas dependem de aprovação no Congresso, o que pode atrasar ou modificar o impacto final do pacote.

O que esperar para os próximos meses?

A implementação do pacote fiscal será um teste de fogo para o governo. O sucesso dependerá de articulações políticas com o Congresso, especialmente em relação às medidas mais impopulares, como o ajuste no salário mínimo e a redução do abono salarial.

Além disso, será fundamental apresentar mecanismos claros para compensar a perda de arrecadação com o aumento da isenção do IR, mantendo o equilíbrio fiscal.

No curto prazo, o mercado continuará atento às ações do governo, e a volatilidade pode persistir. No longo prazo, o pacote representa um esforço importante para conter o aumento da dívida pública e garantir maior sustentabilidade econômica.

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