Descubra por que chips são o novo petróleo

Veja a importância crucial dos semicondutores na economia e na tecnologia moderna e como isso aumentou a rivalidade entre China e Estados Unidos

Henrique Vasconcellos 29/05/2024 11:31 8 min
Descubra por que chips são o novo petróleo

A China criou um fundo de 344 bilhões de yuans (cerca de US$ 47,5 bilhões) para impulsionar o setor de semicondutores. O objetivo é desenvolver uma cadeia de abastecimento local para fechar a lacuna tecnológica em relação aos Estados Unidos. 

Por que chips são o novo petróleo

A disrupção é, geralmente, uma mudança importante que interrompe o curso normal de processos já estabelecidos. As mudanças vêm acompanhadas de incertezas, repúdio, animação e euforia — essas são as facetas da inovação.

Mas os momentos em que de fato ocorrem mudanças no paradigma da sociedade são raros: as caravelas no século XV, as ferrovias no século XIX, os automóveis no início do século XX, a Internet no final dos anos 90 e o começo dos anos 2000, entre tantas outras ao longo de 200 mil anos de humanidade.

O que temos visto nos últimos dois anos é o que muitos pensam ser uma nova revolução industrial. Novas tecnologias que permitem a escalabilidade e o uso por parte de indivíduos, como você e eu, de máquinas que parecem pensar por si próprias já são uma realidade. A inteligência artificial já está no nosso plano. 

Nós, seres humanos, já somos ciborgues (meio humano e meio máquina) há muito tempo. Apesar de a tecnologia ainda não estar propriamente acoplada aos nossos corpos, hoje, nas palmas de nossas mãos, temos ferramentas tecnológicas que já fazem parte de nós.

Não há mais como dissociar a sua, a minha e a nossa existência de aparelhos tecnológicos. Atualmente, nossas vidas estão em nossos smartphones

Quem não usa o Waze ou o Google Maps para definir qual a melhor rota para chegar a um destino? Ou quem não busca na vasta biblioteca de conhecimento (a internet) uma receita para fazer em família na ceia de Natal? 

Parece uma coincidência, mas somos bombardeados com propagandas personalizadas para os nossos gostos e preferências pessoais todos os dias. Sugestões de marcas de roupas no Instagram e vídeos sobre o seu time de futebol favorito no YouTube. Tudo feito e apresentado para você sob medida. 

O catálogo da Netflix com sugestões perfeitas para você “maratonar” no final de semana. E até mesmo promoções de passagens aéreas e hospedagem para a viagem que seu esposo (a) e você estavam programando para as férias das crianças, durante a tradicional pizza de domingo. 

Ora bolas, pois são apenas algoritmos programados nos sistemas de sites e aplicativos que usamos todos os dias. De fato, todas essas coincidências não são coincidências, mas sim coleções de dados sobre nós que organizam conteúdos feitos para capturar a nossa atenção. 

Os algoritmos evoluíram e agora são capazes de, além de organizar dados, criar uma seleção de conteúdos para nós, indivíduos. Foram desenvolvidos, via Machine Learning, os LLM (large language models). 

Os LLMs são, basicamente, modelos de computador treinados para saber qual é a “próxima palavra”. Isso significa que o que eles fazem é acessar bases de dados gigantescas, processar essas informações e, assim, preencher lacunas com palavras que fariam sentido diante do que foi proposto.

Veja na prática:

 Exemplo de uso do ChatGPT. Fonte: ChatGPT, OpenAI

Para tornar as LLMs acessíveis a todos, é necessário investir em infraestrutura. Tais estruturas são denominadas de Data Centers

Semicondutores comandam o mundo

Como os modelos de linguagem requerem um volume de dados gigantesco, são necessários centros de computação enormes com a capacidade de armazenar e processar uma quantidade quase obscena de dados.

No centro desses Data Centers, a tecnologia que realmente possibilita o processamento e o gerenciamento desses dados são os semicondutores. 

Caso você não saiba o que são semicondutores ou queira entender um pouco mais sobre o assunto, recomendo que acesse este artigo que publicamos no final de 2023 (acesse AQUI).acesse este artigo 

Guerra dos chips: Estados Unidos x China

Hoje, essa indústria funciona com pouquíssimas empresas envolvidas no processo de fabricação, enquanto várias empresas trabalham no desenvolvimento. Os Estados Unidos praticamente monopolizam o poder tecnológico por trás dessa indústria. 

Nos EUA, a maior parte das empresas envolvidas no processo de criação de chips focam na parte do desenvolvimento.

Empresas como a Nvidia, AMD, Qualcomm, Broadcom, Google e Apple apenas fazem o desenvolvimento do design e da arquitetura de seus chips. No entanto, todo o processo de fabricação não é feito por eles.

Mas o fato de os Estados Unidos possuírem essas empresas em território nacional, assegura o monopólio sobre a tecnologia mais avançada de computação que temos atualmente no mundo. 

Como vimos acima, a China não quer ficar para trás. Recentemente, o país liderado por Xi Jinping anunciou um plano de criar um fundo de US$ 47,5 bilhões para investir em infraestrutura nessa cadeia de semicondutores. 

Apesar de parecer um valor alto, para nós meros mortais, dentro dessa indústria é pouco significativo. 

 Jensen Huang, CEO da Nvidia, apresentando o chip Blackwell. Fonte: Exame/ Reprodução

Para contextualizar que os US$ 47,5 bilhões são pouco representativos, por meio do Chip Act, os EUA concedeu US$ 52 bilhões em subsídios para empresas ligadas a semicondutores. 

O novo chip da Nvidia, o Blackwell, teve um orçamento de US$ 10 bilhões para pesquisas durante seu desenvolvimento. Uma máquina de litografia do mais novo modelo da holandesa ASML custou cerca de US$ 350 milhões. E para se construir uma fábrica, capaz de criar os chips de ponta, custa por volta de US$ 30 bilhões. 

A China pode, até mesmo, tentar compensar o prejuízo de estar muito atrás dos Estados Unidos atualmente nessa indústria, mas somente com alguns milagres será possível reduzir a lacuna tecnológica. 

Atualmente, a China nos parece uma ameaça distante à predominância norte-americana na indústria. 

A melhor forma de capturar o “boom” de Inteligência Artificial 

Eu sempre gosto de enfatizar que, geralmente, as maiores ganhadoras em uma corrida tecnológica são as empresas que provavelmente continuam na garagem da casa dos pais durante o "boom" inicial.

A Meta e o Google são bons exemplos. Ambas podem ser consideradas algumas das maiores vencedoras da era digital. 

Contudo, nenhuma delas estava na bolsa americana durante a crise da internet nos anos 2000. Da mesma forma, as futuras maiores ganhadoras da bolsa em inteligência artificial podem nem existir como opções no mercado atualmente. 

Mas, independentemente das aplicações, softwares ou ferramentas que se tornem as grandes vencedoras desse universo, a infraestrutura por trás delas é imprescindível. Isso tem tornado a Nvidia (NVDC34) uma grande vencedora nos últimos anos.

Os chips da Nvidia são, atualmente, os melhores e mais consumidos para que o Data Centers funcionem. 

No Nord Global, escolhemos outro cavalo para navegar por essa indústria de semicondutores: a TSMC (TSMC34). 

Ao contrário da Nvidia, da AMD, da Qualcomm, da Apple, a TSMC não desenvolve chips. Apenas fabricam chips criados pelos seus clientes (como os mencionados anteriormente). 

 Market Share das fabricantes de chips no mundo. Fonte: Counterpoint

Existem, nesse mercado, empresas que desenvolvem chips (Nvidia, AMD, etc), empresas que desenvolvem e fabricam (como a Intel) e empresas que apenas fabricam (caso da TSMC).

Entre as empresas que apenas fabricam os chips de terceiros, a TSMC possui 61% do mercado. Mas, olhando o mercado de chips na totalidade, a empresa possui mais de 50% de participação, sendo que, dos chips de mais alta qualidade, eles possuem mais de 90%. 

Essa participação de 90% no mercado dos chips de mais alta tecnologia, dá à TSMC uma posição praticamente monopolista. 

Como comentamos acima, é muito caro construir novas fábricas desses chips de ponta para tentar competir com eles. 

Apesar de ser caro, a TSMC está construindo “apenas” sete novas fábricas, sendo três nos EUA, duas em Taiwan, uma no Japão e uma na Alemanha. 

Essas novas fábricas aumentarão a capacidade de fabricação da TSMC e garantirão à empresa um alívio geopolítico — se distanciando um pouco da China (afinal hoje, a empresa segue operando em Taiwan). 

 Notícia sobre a TSMC fazer os novos chips do Google. Fonte: Mundo Conectado

Outro ponto que nos faz gostar muito da tese em TSMC é que, provavelmente, ela se beneficiará, independentemente de quem seja o melhor desenvolvedor de chips. 

Seja a Nvidia, como é o caso hoje, ou seja, uma competidora nova. Provavelmente essa empresa vencedora, irá contratar a TSMC para a fabricação de seus chips. 

Os nossos assinantes no Nord Global já tiveram um retorno de +64% apenas com essa recomendação. 

Desde o início da série, em julho de 2020, a carteira Nord Global já rendeu +104% em dólar. Muito mais do que os +62% do S&P no mesmo período. 

 Desempenho da carteira Nord Global em comparação com o S&P. Fonte: Nord Research

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