Camil é “compra” após entrar em biscoitos?

Mercados operam em leve alta em semana marcada por espera antes de falas de Powell

Nord Research 24/08/2022 12:50 7 min
Camil é “compra” após entrar em biscoitos?

Nord Insider

Nesta quarta-feira, 24, os mercados em Nova York operam em leve alta, com os investidores globais voltados para o discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (banco central americano) na sexta-feira, 26, no simpósio de Jackson Hole.

Na agenda econômica, destaque para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15, considerado a prévia da inflação oficial do Brasil, referente a agosto. Nos Estados Unidos, sai a variação de pedidos de bens duráveis de julho, a atualização semanal dos estoques de petróleo do país e acontece o leilão primário de Treasuries de cinco anos.

Principais assuntos de hoje

  • Camil compra Mabel e entra no mercado de biscoitos;
  • Mercado Livre e Nubank criam criptomoedas próprias: vale a pena investir?

Camil (CAML3) é “compra” após entrar em biscoitos com Mabel?

Arroz, feijão e biscoitos. A Camil (CAML3) anunciou a compra da Mabel e do licenciamento da marca Toddy para a categoria de cookies (ambas da PepsiCo), marcando a entrada da companhia no mercado de biscoitos e gerando mais uma concorrente para a M. Dias Branco (MDIA3) nesse nicho.  

O mercado local reagiu positivamente à notícia e as ações da fabricante de alimentos chegaram a valorizar mais de +6 por cento após o comunicado na terça-feira, 23.

Na visão do analista da Nord Research, Victor Bueno, o movimento tende a ser bastante positivo para a Camil diversificar ainda mais o seu portfólio de produtos espalhados nas gôndolas de todo o país.

Atualmente, além do tradicional “arroz com feijão” da Camil, a empresa também possui marcas líderes em açúcar (União), pescados (Coqueiro), massas (Santa Amália), entre outros 20 nomes bastante conhecidos no Brasil e em outros países, como Chile e Uruguai.

Segundo o comunicado disponível na CVM, "a aquisição reforça a estratégia de expansão geográfica para crescimento da Camil em regiões complementares às operações atuais".

Estratégia de diversificação

Fundada por dois imigrantes italianos, a Mabel é líder em vendas de rosquinhas no país e conta com outras marcas relevantes de biscoitos, como Doce Vida e Mirabel. Enquanto isso, a marca Toddy possui o segundo maior faturamento nacional em cookies.

De acordo com os termos da negociação, a aquisição da Mabel custará a Camil cerca de 200 milhões de reais a serem pagos à PepsiCo — que, em 2011, havia desembolsado 4x mais pela empresa que, até então, faturava pouco menos de 500 milhões de reais (~1,6x receita).

O nosso analista destaca que, agora, o plano da Camil é de dobrar esse faturamento, podendo adicionar mais de 1 bilhão de reais em sua receita no médio prazo.

Novas frentes incorporadas

A aquisição ainda contempla as duas plantas industriais da Marabel (uma em Goiás e outra em Sergipe), que se somam às 33 que a Camil possui atualmente em suas operações. As duas fábricas operam atualmente com 50 por cento de sua capacidade — o que faz com que as vendas possam dobrar sem grandes investimentos, avalia o nosso analista.

Com o grande alcance geográfico de suas operações e a escala obtida ao longo dos últimos anos, vemos que a Camil tem capacidade de fazer bom proveito dessa e de outras aquisições realizadas recentemente.

Vale ressaltar que a companhia possui um plano de crescimento inorgânico bastante aquecido e ainda possui espaço em seu balanço para mantê-lo por mais tempo.

Além da Mabel, a Camil já havia realizado outras seis aquisições no ano passado.

Mesmo que os movimentos aumentem a diversificação operacional da companhia, achamos prudente acompanhar como as adquiridas serão integradas e os futuros ganhos de sinergia, que poderão ser capturados no futuro, para ver se os resultados da empresa permanecerão sustentáveis e ascendentes.

Camil (CAML3) ou M. Dias Branco (MDIA3)?


Uma de suas principais concorrentes na frente de biscoitos é a M. Dias Branco (MDIA3).

Questionado se a nova entrante possui um potencial de valorização maior, o nosso analista pontua que, ao integrar o portfólio de marcas adquiridas, a Camil está tornando o seu portfólio cada vez mais robusto e ganhando resiliência para enfrentar os vários ciclos do mercado.

No entanto, diante do período de inflação elevada, o cenário atual é desafiador tanto para a Camil quanto para a M. Dias Branco, tendo em vista que seus resultados variam muito de acordo com a oscilação de preço de commodities atreladas aos seus produtos e das condições de consumo da população em meio à alta da inflação e dos juros.

Sendo assim, ainda que a Camil negocie a 8x lucros atualmente (contra 23x lucros da M. Dias Branco) e que os movimentos recentes sejam positivos, o momento ainda é de cautela.

Na nossa avaliação, é preciso aguardar por uma maior visibilidade de crescimento por parte da Camil no longo prazo.

Gráfico apresenta cotação de Camil (CAML3) x lucro da empresa.
Cotação de Camil (CAML3) x lucro da empresa. Fonte: Bloomberg.

Mercado Livre e Nubank criam criptomoedas próprias. Qual é o plano?


O lançamento de criptomoedas próprias deu início a uma nova fase da disputa de fintechs e bancos pelo protagonismo no universo cripto.

Grandes empresas como a plataforma de comércio eletrônico Mercado Livre (MELI34) e o banco digital Nubank (NUBR33) estão embarcando nessa tendência global e te explicamos o porquê disso.

Entenda aqui

Mais do que oferecer plataformas de negociação para as criptomoedas existentes, a tendência agora é lançar a sua própria.

Dois dias depois de circular uma notícia de que o Nubank estaria desenvolvendo sua própria criptomoeda, o Mercado Livre anunciou, na última quinta-feira, 18, o lançamento da Mercado Coin, baseada no protocolo ERC-20, da Ethereum.


Criptomoeda do Nubank

Depois de abrir a plataforma para compra e venda de bitcoins e ethereum no Nubank Cripto, a fintech se prepara para lançar a própria moeda digital para correntistas.

Não há muitos detalhes sobre a criptomoeda própria do Nubank, a instituição ainda não divulgou, apenas tem-se em pauta o lançamento dela para 2023.

Criptomoeda do Mercado Livre


Já a Mercado Coin, na plataforma do Mercado Pago, é um token de utilidade, cuja primeira função será o recebimento de cashback (compras com dinheiro de volta) para os clientes, com a função de reutilizá-lo em compras no Mercado Livre.


A moeda virtual já está disponível para 500 mil clientes brasileiros e até o fim de agosto será expandida para todos os 80 milhões de clientes do grupo de e-commerce no Brasil.

Vale lembrar que, antes do anúncio da Mercado Coin, já era permitido pela plataforma do Mercado Pago a compra de bitcoin (BTC), ethereum (ETH) e Pax Dollar (USDP), a stablecoin da Paxos — empresa que faz a intermediação entre o universo das criptomoedas e o Mercado Pago desde dezembro do ano passado.

Em maio deste ano, o Nubank também firmou uma parceria com a fintech de blockchain Paxos para oferecer serviços de criptomoedas.

Mercado Coin vale a pena?


O especialista em criptoativos da Nord Research, Luiz Pedro, não vê a Mercado Coin como uma utilidade tão revolucionária, mas imagina que este deva ser apenas o primeiro passo para a utilização do criptoativo próprio.

“A liquidez, sem dúvidas, é um problema para criptomoedas próprias. Mas o principal para mim [no caso do Mercado Livre] é a utilidade. Se um criptoativo não tem uma utilidade muito atrativa e uma necessidade de compra recorrente dele para reutilização, ele não tem como se apreciar, sendo ele escasso ou não. E, na maior parte dos novos tokens, a escassez passa longe de ser uma característica intrínseca”, avalia o nosso analista.

O nosso analista pontua que no momento a Mercado Coin não vale como um investimento.

Se adquirir o token diretamente no Mercado Pago, recomendamos que seja utilizado na plataforma do Mercado Livre ou vendido via exchanges parceiras (a princípio, a Rípio), mas não compre como investimento.

A moeda começou cotada a 0,10 centavos de dólar, mas o valor pode variar conforme a demanda.

Conclusão

A criação de criptomoedas no varejo é vista como uma tendência. No exterior, Walmart e Amazon estudam ter suas moedas digitais.

Na leitura do nosso especialista, o principal interesse por trás da criptomoeda própria é ter mais uma fonte de lucro, trazendo uma maior retenção (fidelidade) do cliente no ambiente da empresa. A vantagem disso, para o cliente, é que, caso tenha uma exchange parceira ou própria, dá pra trocar esse benefício por dinheiro real, ao contrário dos antigos “planos de benefícios” das empresas como um todo — lembra dos "selinhos'' do Pão de Açúcar? Não dava para vender.

De forma geral, ainda vemos o cashback e a usabilidade puramente comercial em ambiente próprio apenas como um primeiro passo de muitos que essas empresas podem dar com a utilização de criptos próprias no futuro.

Olhando para o longo prazo, com a evolução do metaverso ou com uma maior interação entre empresas e diversas blockchains, talvez, as usabilidades cresçam vertiginosamente. Mas, é claro, isso demanda tempo e evolução do mercado.

Por ora, vemos como boas iniciativas, mas que não valem como investimento. Apenas valem como usabilidade para clientes fiéis dessas marcas.


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