Balanço das Lojas Americanas acentua passado sombrio e desenha futuro nebuloso
Após diversos adiamentos, a Americanas (AMER3), enfim, divulgou seus números reais relativos aos anos de 2021 e 2022, além de uma projeção extremamente otimista para seu endividamento e resultados para 2025.
Será que veremos a recuperação da companhia após um dos maiores escândalos contábeis da bolsa brasileira?
Relembre o caso
Há pouco mais de 11 meses, a Americanas, uma das varejistas mais tradicionais do país, divulgava um comunicado ao mercado que abalaria a bolsa brasileira para sempre.
Após a troca de CEO (saía Miguel Gutierrez e entrava Sergio Rial), que havia sido amplamente comemorada pelo mercado, a Americanas anunciava uma enorme inconsistência contábil de cerca de R$ 20 bilhões (a princípio).
Inconsistência que agora podemos chamar abertamente de fraude (como a própria empresa nomeou em sua reapresentação de resultados).
A fraude foi arquitetada, basicamente, por meio de dois mecanismos: (i) as operações de risco sacado (forma de estender o prazo de pagamento aos fornecedores) incorretamente contabilizadas e (ii) os contratos de verba de propaganda cooperada (ou somente VPC, que são recursos dados por fabricantes para as varejistas incentivarem a divulgação de seus produtos), que, no fim, eram apenas fictícios.
Com isso, a fraude nos resultados da Americanas atingiu o montante de R$ 25,2 bilhões ao fim de 2022. Com as operações ocultas na conta de fornecedores, a varejista conseguia registrar melhores resultados e maior geração de caixa.
Com a fraude devidamente calculada, a Americanas apresentou sua real dívida bruta total, que atingiu R$ 37,3 bilhões em 2022. Além disso, após os ajustes, seu patrimônio líquido foi negativo em R$ 26,7 bilhões no período.
Na Americanas, até o passado é incerto
Ainda revirando e revelando seu passado sombrio, a Americanas também atualizou seus resultados apresentados em 2021 e 2022.
Em 2021, ajustando seus números pelas fraudes apresentadas, a varejista entregou um Ebitda negativo de R$ 3,4 bilhões, enquanto foi ainda pior em 2022, de R$ 6,2 bilhões.
Os ajustes também impactaram diretamente seu lucro líquido, que, na verdade, tornou-se prejuízo de R$ 6,2 bilhões em 2021 e de R$ 12,9 bilhões em 2022.
Imagine o futuro…
Apesar dos impactos severos dos ajustes em seu balanço e resultados, a Americanas tentou trazer um certo alento para seus acionistas com a divulgação de um guidance (projeção) com os números que espera atingir em 2025.
Nos próximos dois anos, a companhia espera reverter um Ebitda negativo em R$ 6,2 bilhões para um Ebitda positivo em mais de R$ 2,2 bilhões.
Além disso, a Americanas buscará reduzir drasticamente sua dívida bruta para algo em torno de R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão — ou seja, uma redução de até 97%. Considerando esse nível de endividamento e um caixa de R$ 2,5 bilhões, a varejista espera apresentar uma alavancagem (dívida líquida/Ebitda) muito mais controlada, de apenas 0,75x.
Por fim, a empresa também imagina reverter seu patrimônio líquido negativo em R$ 26,7 bilhões para o positivo.
A varejista pode bater essas metas extremamente otimistas? Até pode, mas duvido muito.
Para me fazer mudar de ideia, terá que entregar, consistentemente, melhores resultados nos próximos trimestres e provar, assim, que tem condições de reverter sua situação atual.
Fique bem longe de AMER3
Ainda que os reajustes nos números da Americanas tenham sido extremamente negativos e preocupantes, as ações da varejista encerraram o pregão de ontem, 16 de novembro, em alta de +6,2% — por incrível que pareça.
Alguns podem especular que o movimento se deve ao fato de que, finalmente, a companhia apresentou seus resultados corretos (mesmo que ruins) após uma série de adiamentos, porém eles não fizeram mais do que sua obrigação perante seus acionistas (em especial os minoritários), que foram tão feridos com toda essa história.
Outros podem dizer que o mercado se animou com o guidance apresentado pela Americanas, que sugere uma forte retomada operacional e financeira nos próximos dois anos. No entanto, como já comentei acima, a varejista terá que provar, trimestre a trimestre, sua real capacidade de cumprir com essas metas e recuperar a confiança dos investidores.
Definitivamente, não será do dia para a noite que isso acontecerá.
Mesmo com a alta de ontem (+6,25%), os papéis de AMER3 ainda acumulam queda de -90,6% somente neste ano. Se puxarmos das máximas dos últimos anos, a queda é ainda maior, de -99,3% (isso mesmo, para quem tinha R$ 1 mil investidos na ação naquela época e segurou até aqui, passou a ter apenas R$ 7,00).
Ah, mas e se a ação subir +100%? Nesse mesmo exemplo, o investidor ainda teria apenas R$ 14 (muito longe dos R$ 1 mil). Para voltar para as suas máximas de 2020, AMER3 teria que subir mais de 14.000%.
Muitas vezes, o melhor a ser feito é deixar o apego emocional de lado e se desvencilhar o quanto antes de uma ação como essa. A Americanas é a prova viva de que uma ação que cai -90% pode cair mais -90% posteriormente.
Ainda que você não seja esse investidor carregando um enorme prejuízo na posição, recomendo que fique de fora de Americanas. Na verdade, fique de fora de qualquer empresa que não apresente claros indícios de que pode te trazer retorno a longo prazo — mesmo que a ação seja negociada por centavos. O barato pode sair caro.
Se, ainda assim, você deseja investir no varejo, escolha empresas sólidas, que possuem diferenciais em relação aos seus concorrentes e que podem entregar bons resultados no longo prazo. Lembre-se: as ações seguem resultados.
É só observar o que aconteceu com AMER3: mesmo antes das fraudes, seus resultados já estavam se deteriorando e suas ações estavam acompanhando (para baixo).
Busque empresas que vão entregar o contrário: resultados crescentes e ações que se valorizam ao longo dos anos. É isso que sempre buscamos aqui na Nord.
No Nord Small Caps, temos posição em duas varejistas que possuem as características listadas acima. Se você deseja conhecer, sem compromisso, basta acessar este link.