Nos últimos 12 meses, os fundos de crédito privado se destacaram como uma das opções de investimento mais rentáveis no mercado.

Esses fundos, especialmente os que investem em debêntures incentivadas e de menor risco (high grade), apresentaram retornos atrativos em comparação com outras classes de fundos. Porém, será que essa rentabilidade se manterá nos próximos meses?

Entenda os fatores que contribuíram para o bom desempenho recente dos fundos de crédito privado e os riscos que eles podem apresentar no futuro.

O que são fundos de crédito privado?

Fundos de crédito privado são fundos de investimento que alocam recursos em títulos de dívida emitidos por empresas, como debêntures, CRIs e CRAs.

Diferente dos títulos públicos, que têm garantias do governo, os títulos de crédito privado envolvem maior risco, já que dependem da capacidade de pagamento das empresas emissoras.

Rentabilidade dos fundos de crédito privado nos últimos 12 meses

Nos últimos 12 meses, os fundos de crédito privado, especialmente os que são focados em debêntures de baixo risco, obtiveram rentabilidades superiores a outras classes de fundos, como fundos de ações e multimercados.

Enquanto o CDI apresentou um retorno de 11%, os fundos de crédito privado chegaram a render 13,4%. Esse resultado atraiu muitos investidores, que passaram a considerar esse tipo de investimento devido ao desempenho recente.

O que levou à alta rentabilidade dos fundos de crédito privado?

O cenário que impulsionou essa rentabilidade foi marcado por alguns eventos corporativos, como os casos de Americanas e Light, que fizeram com que muitos investidores retirassem seus recursos dos fundos de crédito privado. Esse movimento de resgates forçou os gestores a venderem títulos no mercado secundário, o que aumentou os spreads de crédito e, consequentemente, a rentabilidade dos fundos.

Além disso, no início de 2024, uma nova resolução do Conselho Monetário Nacional restringiu a emissão de títulos isentos de impostos, como CRIs, CRAs, LCIs e LCAs.

Isso fez com que houvesse uma maior demanda por debêntures incentivadas no mercado secundário, levando a uma valorização desses títulos e contribuindo para o fechamento rápido dos spreads de crédito.

O que esperar dos fundos de crédito privado nos próximos meses?

Embora os fundos de crédito privado tenham apresentado uma rentabilidade muito atraente no passado recente, é importante lembrar que essa performance não é garantia de resultados futuros.

A maior parte da valorização veio do fechamento dos spreads de crédito, que já estão em níveis historicamente baixos, principalmente para os títulos mais seguros, como os de alta qualidade (high grade).

Para que esses fundos continuem a oferecer uma rentabilidade elevada, seria necessário um novo ciclo de fechamento de spreads, o que parece improvável no cenário atual, dada a baixa margem de compressão restante. Dessa forma, o potencial de valorização dos títulos de crédito privado mais seguros está limitado.

Riscos de investir em fundos de crédito privado

Investir em crédito privado envolve riscos que vão além da volatilidade dos mercados. Um dos principais é o risco de crédito das empresas emissoras. Ao contrário dos títulos públicos, que têm a garantia do Tesouro Nacional, as debêntures e outros títulos privados não contam com a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Créditos).

Isso significa que, em caso de inadimplência da empresa emissora, o investidor pode perder seu capital.

Outro ponto importante é que muitos gestores estão fechando seus fundos de crédito privado para novas captações. Isso acontece porque, com os spreads de crédito baixos e o aumento da demanda, os fundos não encontram títulos suficientes no mercado com taxas atrativas para justificar novas alocações.

Um exemplo recente é o fundo Absolute Hydra, que atingiu um patrimônio de R$ 3 bilhões e foi fechado para novas aplicações.

Vale a pena investir em fundos de crédito privado agora?

Diante de todos esses fatores, é necessário cautela ao considerar novos investimentos em fundos de crédito privado.

A rentabilidade passada não garante que os próximos 12 meses serão tão lucrativos quanto os anteriores. No cenário atual, pode ser mais interessante avaliar outros tipos de investimento, como títulos públicos indexados ao IPCA, que oferecem retornos competitivos sem o risco de crédito envolvido nas debêntures.

Se, mesmo assim, você optar por investir em fundos de crédito privado, certifique-se de entender bem os riscos e não baseie sua decisão apenas na rentabilidade recente.

Conclusão

Os fundos de crédito privado podem ser uma boa opção de investimento em certos cenários, mas, no momento, com os spreads de crédito em níveis baixos, os riscos podem superar as possíveis recompensas.

É importante considerar outros fatores, como o risco de crédito e a falta de garantias, antes de decidir alocar parte de seu portfólio nesse tipo de fundo. Avalie bem suas opções e consulte seu assessor financeiro para tomar a melhor decisão.

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