Grandes investidores se tornaram reconhecidos por um motivo: baterem o mercado ao longo dos anos.

Não é fácil atingir um retorno acima da média, principalmente com incertezas políticas que afetam o ambiente macroeconômico, como estamos vivendo atualmente.

Mas quando analisamos o que investidores como Buffett, Munger e Terry Smith fizeram de diferente, percebemos um ponto em comum: a busca por moats.

Foto de Castelo com fosso.
Foto de Castelo com fosso. Fonte: Getty Images

Moats nada mais são do que os fossos em um castelo. Eles foram feitos no passado para ajudar os nobres a se protegerem de possíveis invasões.

Sendo assim, quanto maior o fosso, mais difícil seria invadir o castelo.

Porém, como isso não é um conto de fadas, vimos, ao longo dos séculos, que essa vantagem não impediu os nobres de sofrerem invasões e perderem seu domínio sobre aquela região.

Mas então, o que seriam esses Moats no mercado financeiro?

Economic Moats

Os fossos econômicos são vantagens competitivas que uma empresa possui em relação às demais, protegendo-a dos competidores.

Citação de Warren Buffett: “Uma boa empresa é como um castelo forte com um fosso profundo em volta. Quero tubarões no fosso. Quero que seja intocável.”
“Uma boa empresa é como um castelo forte com um fosso profundo em volta. Quero tubarões no fosso. Quero que seja intocável.” Warren Buffett

Esse é um dos pontos essenciais para fazer com que empresas excelentes não percam mercado por uma mudança de cenário, por novos competidores, novas tecnologias ou até mesmo pela falta de uma gestão eficiente. Como também dizia Buffett: “Nos investimentos, você quer comprar uma empresa que tenha um negócio tão bom que até um idiota pode gerir, porque mais cedo ou mais tarde um idiota irá geri-lo.”

Ter boas empresas com fortes vantagens competitivas é o que faz com que investidores como Warren Buffett consigam bater o mercado. Por isso é tão importante saber identificá-las.

Livros como “Fantastic Moats and Where to Find Them”, do grupo Freeman Publications, assim como “Why Moats Matter” de Heather Brilliant, ajudam nessa identificação de forma simples, valendo a leitura.

De qualquer forma, pretendo que vocês terminem este artigo sabendo identificar as principais vantagens competitivas. São elas:

Todos querem ter “A” ideia de milhões.

Quando artistas e empresas atingem esse status com a criação de um livro, filme ou remédios, por exemplo, conseguindo provar que a sua invenção é única, é concedido aos criadores patentes e proteções de Copyright.

Isso os protege de terem as suas criações copiadas por terceiros, criando uma grande vantagem frente aos seus concorrentes, desde que a ideia ou inovação seja valiosa para os seus clientes.

Essa proteção legal restringe a fabricação/criação para quem detém o direito, criando assim um grande mercado para ele, podendo focar na inovação e estudos sem precisar se preocupar com a concorrência nesse produto.

Além disso, dá poder de precificação para a empresa criadora, chamado também de pricing power (explicarei em seguida).

Por mais que pareça que isso diminui a competição, vemos como um incentivo a outros criadores a continuarem investindo em artes, tecnologias e ciência, para obterem os próprios direitos legais no futuro – beneficiando a sociedade.

Empresas que possuem esse moat: Pfizer (farmacêutica), Hypera (farmacêutica) e The Walt Disney Company (criação de personagens, filmes e músicas).

Personagens Disney. Fonte: Britannica

Altos custos de troca (switching costs)

Vivemos em um mundo altamente competitivo, em que várias empresas oferecem os mesmos produtos e brigam entre si pelos mesmos clientes.

Porém, algumas companhias possuem um alto custo para um cliente sair de seus serviços/produtos e ir para um outro fornecedor (switching cost).

Esses custos podem ser: (1) financeiros (altos gastos com o processo de troca), (2) com o tempo de aprendizado para utilizar o serviço/produto contratado, (3) com uma instabilidade no negócio durante a troca (caso o serviço seja essencial para o cliente).

Com possíveis perdas para trocar de produtos/serviços, os clientes muitas vezes preferem permanecer com essas companhias, que entregam produtos de qualidade a preços competitivos.

Empresas que possuem esse moat: Amazon (marketplace), Sinqia (software).

Embalagens entrega Amazon.
Embalagens entrega Amazon. Fonte: Emprendedores.es

Efeitos de rede (network effects)

A digitalização do mundo criou mais uma vantagem competitiva: efeitos de rede.

Esse efeito costuma ocorrer principalmente em modelos de negócio de plataforma, isto é, em negócios cujo valor gerado está principalmente na interação entre dois lados, como entre hóspedes e locatários no Airbnb, compradores e vendedores em um Marketplace ou investidores e instituições financeiras em uma plataforma de investimento.

Em todos esses exemplos, o valor da plataforma aumenta a partir da entrada de um novo usuário em um dos lados. No marketplace, vimos um benefício com vendedores atraindo mais compradores, que atraem mais vendedores, e assim por diante.

O grande desafio de quem possui essa vantagem competitiva é manter os efeitos de rede dentro da espiral positiva, pois ao mesmo tempo que os efeitos de rede fazem uma empresa mais poderosa, eles também podem destruí-la.

Um belo exemplo disso foi o que ocorreu com a rede social Orkut. Conforme os usuários deixavam a plataforma, ela perdia o seu valor para os usuários que ainda a utilizavam, causando um efeito devastador.

Empresas que possuem esse moat: Uber (transporte), Meta (Facebook, Instagram), Airbnb (Economia do Compartilhamento), BTG Pactual (banco de investimento).

Efeito de Rede.
Efeito de Rede. Fonte: B2B Marketing‌ ‌

Poder da Marca

O poder que uma marca possui é algo difícil de definir. É mais do que um produto ou o seu logo, é um ativo intangível que cria um laço com os seus clientes.

Para alguns pode ser a reputação de uma marca, para outros, a sensação de memórias antigas ou valores em comum entre as marcas e os consumidores, entretanto, o que não é discutível é a confiança que a marca passa aos seus clientes.

Geralmente são empresas fortes no mercado, cujos consumidores preferem os seus produtos/serviços mesmo se tiverem que pagar um pouco mais do que pagariam por outro produto semelhante (pricing power) por terem confiança na marca.

Isso gera vantagens às empresas, que possuem mais facilidade em suas vendas e no marketing, entre outros setores. Além disso, possui maiores vantagens no lançamento de novos produtos, conseguindo trazer maiores retornos à marca.

Empresas que possuem esse moat: Coca-Cola (alimentício) e Apple (tecnologia).

Produtos Apple.
Produtos Apple. Fonte: Apple

Regulação

Determinados setores da economia dependem de regulação estatal, com o objetivo de determinar quais empresas vão construir rodovias, explorar poços de petróleo ou fornecer energia elétrica para uma cidade, por exemplo.

Ao regular um setor, o governo proporciona vantagens, ou monopólio regulatório, para determinadas empresas, geralmente ligadas ao setor de utilities (utilidades).

Enquanto essas empresas parecem ter apenas vantagens, por outro lado, o governo pode determinar os preços que serão praticados, pressionando as margens das companhias.

Empresas que possuem esse moat: Petrobras (petróleo), Sanepar (saneamento), Taesa (energia elétrica).

Energia Elétrica.
Energia Elétrica. Fonte: INSP

Poder de Precificação (Pricing Power)

Para muitos, uma vantagem competitiva. Para mim, pode ser a consequência de possuir essas vantagens.

Como vimos nas vantagens de Proteção Legal e em Poder de Marca, é o poder de uma companhia de determinar o preço de um produto ou serviço, podendo subí-lo sem afetar a demanda.

Em momentos de instabilidade, é o poder de uma companhia de manter o seu preço e aumentar a lucratividade enquanto o mercado está sofrendo.

Geralmente, encontramos essa vantagem em setores com altas barreiras de entrada, em produtos de luxo, em indústrias com oferta limitada ou setores que ainda não possuem grandes competições, como no caso da Vamos (VAMO3).

Empresas que possuem esse moat: LVMH (produtos de luxo).

Marcas do grupo LVMH.
Marcas do grupo LVMH. Fonte: Pinterest

Criando Valor

Nota-se que essas vantagens podem estar em pontos diferentes de maturação para uma companhia.

Pode ser uma vantagem recém-criada, ainda em fase de consolidação, uma vantagem mais forte, em estado mais avançado, ou em fase de queda, deixando de ser uma vantagem, enquanto a companhia não acompanha as mudanças do mercado.

Por isso, além de saber identificar as vantagens e desvantagens que as companhias possuem, é preciso saber o que estão fazendo para mantê-las ou contorná-las, buscando principalmente as empresas que estejam em sua fase de criação ou consolidação de moats.

Citação de Warren Buffett: "Se você tem o poder de aumentar os preços sem perder negócios para um concorrente, você tem um negócio muito bom."

É isso que fazemos no Investidor de Valor, seguindo o método de análise do melhor investidor da história, Buffett.

O investimento e o estudo são constantes no mundo das ações, por isso estamos aqui para ajudá-los.

Juntem-se a nós.