Vale a pena comprar ações da Petrobras com o recente anúncio do fim da paridade de preços de importação (PPI)?
A Petrobras (PETR3; PETR4) anunciou na terça-feira, 16, a sua nova política de preços para gasolina e diesel. A medida, na prática, coloca fim à adoção obrigatória do preço de paridade de importação (PPI), em vigor desde 2016, quando foi implementada pelo governo do ex-presidente Michel Temer.
O que é PPI (Preço de Paridade de Importação)?
O PPI, para quem não conhece, é uma referência calculada com base no preço de aquisição de combustíveis pela estatal, que é definido por variação cambial, cotação internacional do petróleo, além de custos relacionados à logística.
A política tem sido um dos principais pilares para a reestruturação financeira que a companhia vem atravessando nos últimos anos e que resultou em lucros e pagamentos de dividendos recordes.
Além de potencializar a rentabilidade na venda de combustíveis pela Petrobras, o PPI também permite um mercado mais competitivo.
A precificação, entretanto, vinha gerando diversas discussões e opiniões contrárias por parte da atual base do governo, tendo em vista que a maior volatilidade do preço do barril de petróleo no mercado internacional pode acarretar maiores aumentos no preço dos combustíveis para a ponta final (população).
Para trazer um maior equilíbrio entre os mercados nacional e internacional a fim de reduzir o preço dos combustíveis e também a inflação no país (Lula havia defendido o controle de preços como forma de controle inflacionário), a Petrobras passará a adotar outras referências que, em tese, são diferentes das anteriores.
Porém, a verdade é que, a princípio, a nova política de preços não possui grandes diferenças em relação ao PPI. Segundo especialistas do setor, a nova “precificação competitiva” leva em conta os mesmos parâmetros da paridade internacional.
Tanto não muda nada — ou muito pouco — em relação ao PPI, que o mercado rapidamente “sacou” a estratégia do PT e não penalizou as ações da Petrobras, que encerraram o pregão de terça-feira em alta de +2,50%. O papel chegou a subir 3,66% na máxima do dia.
Mesmo que mudanças significativas não devam ser sentidas no curto prazo, é preciso acompanhar os novos movimentos do governo, ao passo que grande parte da “gordura” da estatal já foi queimada nos últimos anos e quedas no preço dos combustíveis podem ser beneficiadas pelo cenário macro nacional e global.
Inclusive, vale ressaltar que a redução dos preços de gás de cozinha e combustíveis, anunciada ontem, não está ligada ao fim do PPI (como alguns anunciaram), mas sim atrelada à queda apresentada nas commodities ao longo do ano, além do dólar em menores patamares.
A conclusão é que a decisão de “abrasileirar” (termo utilizado por Lula) o preço dos combustíveis foi muito mais política do que, necessariamente, visando beneficiar a população ou até mesmo as operações da Petrobras.
Promessa feita, promessa cumprida
O modelo apresentado estaria em linha com o prometido por Lula (PT) durante sua campanha eleitoral.
Naquela ocasião, o petista prometeu acabar com o PPI e criar uma nova política de preços, que considerasse os custos nacionais de produção, na tentativa de tornar o combustível mais barato.
O anúncio, entretanto, foi feito em um momento propício para o governo, tendo em vista as dificuldades de implementar suas ideias no mandato atual, como o novo arcabouço fiscal nos moldes iniciais.
Sem uma base forte no Congresso e com sua popularidade em queda (segundo pesquisas recentes), Lula e seus aliados seguem buscando alternativas para cumprir com a agenda prometida nas eleições.
Entenda a nova política de preços da Petrobras
A nova política da Petrobras cria mecanismos para reduzir o impacto das oscilações internacionais do petróleo nas bombas dos postos.
Segundo a nota oficial da Petrobras, a nova "estratégia comercial" usa duas referências de mercado:
- o "custo alternativo do cliente” (custo do mesmo produto vendido pelos concorrentes da estatal), e
- o "valor marginal para a Petrobras" (custo de oportunidade da companhia).
“Os reajustes continuarão sendo feitos sem periodicidade definida, evitando o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio”, explica o comunicado da estatal.
Como a Petrobras fará esse cálculo de preço ainda é incerto, já que o documento não traz informações precisas e detalhadas sobre a mudança.
Aguardemos os próximos capítulos.
Novo plano Fiel torcedor
Mesmo na zona de rebaixamento, ocupando a 17ª posição pela 6ª rodada do Brasileirão 2023, os torcedores do Corinthians, conhecidos como Fiel, continuam acreditando em um milagre nesta temporada.
O mesmo sentimento vemos com a Petrobras ao abandonar a paridade de importação e anunciar a nova política na tentativa de ajudar o Brasil a combater a inflação.
Em um passado recente, a Petrobras foi usada pelo PT como instrumento de política monetária. Para que a inflação não aumentasse, o governo segurou os preços dos combustíveis, o que gerou enormes prejuízos à companhia, chegando a ter a maior dívida corporativa do mundo.
Fim da paridade Petrobras é bom ou ruim?
Acabar com a paridade de preços internacionais pode ser um problema. Nós produzimos cerca de 2,9 milhões de barris por dia, porém extrair é diferente de refinar. O país produz bastante petróleo bruto, mas nossa capacidade de refino é bem menor do que o que precisaríamos para o diesel e a gasolina.
Por isso, mesmo com as mudanças comerciais anunciadas pelo atual governo, a commodity [petróleo] continua sendo negociada em dólar.
Ao praticar preços abaixo do mercado e sem o repasse dos custo, a Petrobras poderá voltar a ter uma operação deficitária.
Dividendos da Petrobras
Em linhas gerais, um abandono da paridade com os preços internacionais do petróleo pode trazer interferências estatais e pode, sim, provocar uma redução nos lucros da companhia e, consequentemente, nos dividendos (lembrando que o dividendo nada mais é do que um pedacinho do lucro da empresa).
Isto é, com preços menores que a nova política da Petrobras poderia ditar, as receitas e as margens da empresa certamente são pressionadas. Nos resta, contudo, avaliar de perto a definição da nova política de dividendos, ainda não divulgada.
De qualquer forma, o resultado/dividendo da Petrobras depende muito da cotação do barril de petróleo (Brent), e quando comparamos com 2022, já vemos níveis bem menores. Sendo assim, é difícil imaginar que a estatal mantenha os mesmos patamares de pagamentos daqui para frente.
Vale a pena comprar as ações da Petrobras em 2023?
Os três pilares de sustentação da Petrobras nos últimos anos se baseiam em (i) melhorar a alocação do capital; (ii) vender o que não faz parte de seu core business e (iii) adotar o PPI que se iniciou em 2016 no governo Temer e que fez com que a empresa melhorasse muito em termos operacionais.
A Petrobras intervir na política de preços pode trazer um viés mais negativo para os resultados da companhia e suas ações no longo prazo. Sendo assim, nossa recomendação na Nord Research é de ficar de fora de PETR4.
Nossa preferência no setor segue sendo para as petroleiras juniors, que não possuem o mesmo risco de ingerência e entregam uma visibilidade de crescimento muito maior para seus acionistas.
Lembre-se sempre: as cotações seguem os resultados. Permanecemos comprados em Prio (PRIO3), 3R Petroleum (RRRP3) e Petrorecôncavo (RECV3).