A tão esperada "Super Quarta" de setembro está marcada por decisões distintas das autoridades monetárias dos Estados Unidos e do Brasil. Enquanto o Federal Reserve (Fed), por meio do Fomc (Federal Open Market Committee), deve iniciar um ciclo de cortes de juros nos EUA, o Copom (Comitê de Política Monetária do Brasil) se prepara para um movimento inverso, com a provável elevação da taxa Selic. Mas quais são as razões para essas decisões divergentes?

Contexto econômico nos EUA e a decisão do Fed

Nos Estados Unidos, o mercado já antecipa o início de um ciclo de afrouxamento monetário. A confiança no processo de desinflação, apesar de estar mais lenta do que o esperado, é um dos fatores centrais para essa expectativa. O Fed enfrenta um cenário em que a desaceleração econômica precisa ser controlada sem comprometer a geração de empregos, que é um dos mandatos centrais da instituição.

A esperança é que o pior momento de pressão inflacionária já tenha passado, impulsionado principalmente por um mercado de trabalho que, embora ainda forte, apresenta sinais de desaceleração. No entanto, as previsões sobre o tamanho dos cortes de juros variam. Enquanto alguns economistas apontam para um início gradual com cortes de 0,25 pontos percentuais, outros acreditam que o Fed pode ser mais agressivo, optando por uma redução de 0,50 p.p.

A perspectiva do Copom no Brasil

No Brasil, o cenário é bem diferente. A inflação doméstica, principalmente nos serviços básicos, segue teimosamente acima da meta do Banco Central, mesmo com um recente alívio nos preços ao consumidor, como o registrado em agosto. Além disso, o mercado de trabalho continua apertado, com baixos níveis de desemprego e aumento de renda, o que adiciona pressão sobre os preços.

Esses fatores levaram à expectativa de que o Copom eleve a Selic em 0,25 p.p., com possíveis aumentos adicionais até o início de 2025. O cenário político e fiscal também influencia essa decisão. A falta de uma política fiscal mais restritiva por parte do governo contribui para as preocupações com a inflação futura, o que torna o ajuste necessário para manter a credibilidade da autoridade monetária brasileira.

O impacto das decisões monetárias nos mercados

As decisões do Fomc e do Copom terão efeitos diretos nos mercados. Nos Estados Unidos, um corte de 0,25% nas taxas pode frustrar investidores que esperavam uma ação mais agressiva do Fed, o que pode resultar em realizações de lucros nas bolsas de valores. No Brasil, a expectativa de alta da Selic já está precificada, mas o aumento da taxa básica de juros pode manter a cautela entre os investidores.

Enquanto os mercados globais aguardam a confirmação dessas decisões, a mensagem é clara: a política monetária de ambos os países segue um caminho oposto, impulsionada por contextos econômicos específicos e com a cautela necessária para evitar riscos maiores à economia.

Por que o Brasil não segue a queda dos juros dos EUA?

Um ponto importante que especialistas destacam é que a economia brasileira enfrenta um cenário de incertezas internas, com maiores gastos do governo e um ambiente fiscal comprometido. Isso pressiona a inflação e o câmbio, o que justifica a necessidade de uma política monetária mais restritiva, diferente da flexibilização esperada nos EUA.

Embora o dólar tenha apresentado sinais de enfraquecimento no cenário global, a pressão sobre o real continua forte no Brasil. O Banco Central, portanto, precisa agir de forma mais agressiva para evitar uma perda de controle sobre as expectativas inflacionárias e reforçar sua credibilidade no mercado.

Conclusão

A Super Quarta traz um contraste claro entre as decisões de política monetária nos Estados Unidos e no Brasil. O Fed caminha para o início de um ciclo de cortes de juros, com o objetivo de manter o equilíbrio entre o controle da inflação e o crescimento econômico, enquanto o Copom deve seguir na direção oposta, elevando a Selic para conter a pressão inflacionária e reforçar a credibilidade da instituição.

Ao observar essas decisões, investidores e analistas ficarão atentos aos próximos passos das autoridades monetárias, uma vez que os cenários econômicos de ambos os países continuam a evoluir de maneira incerta.