Nord Insider

Nesta segunda-feira, 22, os mercados em Nova York operam em baixa, com o retorno dos temores de aumentos agressivos das taxas de juros em Wall Street. Os investidores estão de olho no simpósio econômico anual do Fed em Jackson Hole, que começa nesta quinta-feira, 25, nos Estados Unidos.

Na agenda econômica, destaque para o relatório Focus semanal, com as projeções do mercado para a economia brasileira, e para a balança comercial semanal. Nos Estados Unidos, o mercado acompanha o Índice de Atividade Nacional referente a julho do Federal Reserve de Chicago.

Principais assuntos de hoje

  • Stone continua em maus lençóis;
  • Impacto da alta dos juros para as empresas.

Stone (STOC31): resultados abaixo das expectativas do mercado

Os resultados reportados pela Stone (STOC31) no segundo trimestre de 2022 (2T22) geraram um misto de sentimentos entre os acionistas. Se por um lado a receita da empresa mais do que dobrou, por outro, o seu prejuízo atingiu -489 milhões de reais no trimestre.

Já considerando os (muitos) ajustes, a nova entrante do setor de pagamentos entregou um resultado ajustado positivo em +76 milhões de reais este ano, revertendo os -159 milhões de reais registrados no segundo trimestre do ano passado.

Apesar disso, o analista da Nord Research, Victor Bueno, vê que as várias dúvidas relacionadas ao futuro do mercado de maquininhas de cartão e a falta de visibilidade de crescimento da companhia no longo prazo continuam impactando agressivamente as ações da Stone.


Enquanto sua concorrente Cielo (CIEL3) acumula +150 por cento de alta na bolsa brasileira, as ações da Stone acumulam -51 por cento de queda desde o início do ano.

Balanço não é suficiente para dar suporte às ações


É verdade que estamos falando a respeito de uma empresa que saiu de uma participação de 2,5 por cento no mercado de adquirência, em 2016, para os mais de 13 por cento atuais, ganhando market share de grandes nomes como Cielo e Rede.

No segundo trimestre deste ano, por exemplo, a Stone registrou um volume total de pagamentos (TPV) de 91 bilhões de reais, representando um crescimento de +50 por cento comparado ao mesmo período de 2021.

Ainda assim, grande parte dos números apresentados veio abaixo das expectativas do mercado —  justificando, mais uma vez, as quedas expressivas de seus papéis, aponta o nosso analista.

As ações da Stone (STNE) desabaram -23,75 por cento na bolsa de Nova York após a divulgação do resultado do segundo trimestre.

Stone perde dinheiro com crédito


Diferentemente da Cielo, o processo de turnaround da Stone ainda não está trazendo reflexos tão positivos ao seu lucro.

A Stone vem tentando diversificar as suas fontes de receita, tendo pagado cerca de 7 bilhões de reais, recentemente, para adquirir a Linx, líder em softwares para o varejo, que hoje já representa 15 por cento do faturamento total da Stone.

Além disso, a companhia também vem criando novas soluções dentro do seu principal negócio, como o aplicativo TapTon, que funciona como uma "maquininha" no celular.

No entanto, no ano passado, após buscar construir um ecossistema mais completo de produtos e serviços, a Stone interrompeu uma operação de um de seus principais segmentos: a concessão de crédito.

Com a escalada da inadimplência e problemas para executar garantias de empréstimo durante a migração para um novo sistema, a Stone suspendeu a oferta de crédito, o que, a nosso ver, levantou ainda mais dúvidas sobre a companhia no futuro.

Ambiente é desafiador para melhoria de margens


Para o nosso analista, a interrupção e o aumento de provisões trouxeram impactos diretos para o balanço da Stone, que deixou de apresentar lucro bilionário até a metade de 2021 e passou a registrar prejuízo nos últimos trimestres.

Com isso, a confiança por parte do mercado vem se mostrando cada vez menor e as ações da companhia estão acompanhando a piora de seus resultados, acumulando queda de mais de -81 por cento desde as máximas do ano passado.

Gráfico apresenta Ações da Stone x Lucro nos últimos anos.
Ações da Stone x Lucro nos últimos anos. Fonte: Bloomberg

Com a escalada da taxa básica de juros, as novatas do setor de pagamentos estão enfrentando dificuldades para conseguir manter o custo dos serviços baixos para garantir um diferencial competitivo frente às concorrentes.

Na direção oposta, as ações da Cielo acumulam uma valorização de mais de +104 por cento no mesmo período.

Contudo, mesmo que a Cielo apresente uma maior visibilidade de recuperação em relação à Stone, é importante destacar que o cenário permanece desafiador para ambas as empresas do setor e ainda é cedo para decretar que a Cielo voltará a registrar lucros multibilionários em um curto-médio prazo.

Já para a Stone, nosso analista pontua que somente as quedas de suas ações não representam necessariamente uma oportunidade clara e não justificam uma compra no momento.

Enquanto a empresa não trouxer sinais mais claros de que pode voltar a apresentar bons resultados (lucro), preferimos permanecer de fora de suas ações e recomendamos que você faça o mesmo.

Gráfico apresenta STNE x CIEL3 últimos 12 meses.

Alta dos juros corrói lucro das empresas no 2º tri


Apesar de ter registrado expansão de receita, o lucro das companhias abertas no segundo trimestre caiu ou ficou estável.


Um levantamento elaborado pelo jornal Valor Econômico, com base em dados de 386 empresas não financeiras de capital aberto, mostra que as receitas subiram +18,2 por cento na comparação com o segundo trimestre de 2021, a 780,2 bilhões de reais, enquanto o lucro líquido caiu -64,4 por cento em igual período, a 29,1 bilhões de reais.

“Afinal, por que as empresas mostram crescimento de receita e EBITDA e queda de lucros?”

Impacto da alta dos juros para as empresas


Na leitura do analista da Nord Research, Fabiano Vaz, se por um lado o crescimento das receitas e do EBITDA é reflexo da atividade econômica maior do que o esperado, por outro, o lucro ficou estável, e em muitos casos apresentou forte queda por conta dos juros em patamares elevados.


O analista explica que a alta da taxa de juros elevou os custos das dívidas das empresas e consequentemente as despesas financeiras também subiram. Desde 2021, o Banco Central vem subindo os juros para controlar a inflação e isso tem refletido em maiores despesas financeiras e menores lucros para as empresas.

No gráfico a seguir, podemos observar a linha do lucro (verde) descolando da linha do EBITDA (laranja), evidenciando o impacto das despesas com juros.

Gráfico mostra  a linha do lucro (verde) descolando da linha do EBITDA (laranja), evidenciando o impacto das despesas com juros.
Fonte: Bloomberg

Segundo o nosso analista, o EBITDA (lucro antes de impostos, depreciação e amortização)  pode ser um indicador interessante para avaliar a capacidade das empresas em gerar caixa, pois ele expurga o resultado financeiro no seu cálculo.

É claro que o indicador não pode ser usado isoladamente. No entanto, em muitos momentos, pode ajudar na análise da companhia.

Lucros caindo com juros mais altos são um problema?

A resposta é depende. Para empresas que crescem receita, EBITDA e que mostram capacidade de gerar caixa, vemos que uma queda no lucro não necessariamente é um sinal de problema.

A Ambipar (AMBP3), por exemplo, é uma empresa com uma alavancagem alta e que reportou queda no lucro devido às maiores despesas financeiras.

Por outro lado, o crescimento da receita e a forte geração de caixa da Ambipar nos deixam tranquilos. Ou seja, a geração de caixa da Ambipar é suficiente para continuar sua operação, pagar seus compromissos e continuar com seu ritmo de aquisições.

Já para a Oi (OIBR3), que também tem uma alavancagem financeira elevada, a alta de juros impacta o custo da sua dívida e impulsiona as despesas financeiras. Nesse sentido, para uma empresa como a Oi, que ainda não possui capacidade de crescer receita e gerar caixa, os efeitos negativos da alta de juros são bem mais significativos.

Portanto, entendemos que apenas a queda do lucro não necessariamente indica problemas. É preciso olhar para os resultados, indicadores e múltiplos para chegarmos a uma conclusão de investimento.



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