Siga em frente e não olhe para trás
Metade das perguntas que eu recebo por e-mail todos os dias começa assim:
“Marx, comprei o Fundo Imobiliário XPTO11 há dois anos e estou perdendo 20 por cento desde então. Realizo o prejuízo ou espero recuperar?
Quando vejo esse tipo de pergunta, logo penso na época da infância, quando eu e minha irmã ainda estávamos aprendendo a andar de bicicleta.
Apesar de eu ser paulista, boa parte dos meus familiares é do sul do país. Assim, quando eu era pequeno, era muito comum visitarmos esse lado da família ao menos uma vez por ano, geralmente na época das férias escolares.
Como a família é grande e dispersa, sempre montávamos um roteiro de viagem para definir qual seria o melhor trajeto a ser perseguido ao visitar todo mundo. Era um verdadeiro pinga-pinga!
Mas eu gostava mesmo quando íamos para a fazenda do tio César. Assim como muitas crianças da cidade, ficava impressionado com a simplicidade da vida no campo. Entre as boas memórias que tenho de lá, guardo a lembrança de ter aprendido a andar de bicicleta sem rodinha.
Para mim, não teve muito mistério. Após alguns tombos aqui e outros lá, peguei confiança e fui embora.
Para a minha irmã, por outro lado, foi um verdadeiro parto! Como ela tinha muita insegurança em andar sozinha, sempre pedalava olhando para trás para verificar se a mão do meu pai continuava apoiada sobre a bicicleta.
Assim, bastava meu pai soltar a mão que ela caía! Era literalmente “tiro e queda”!
Passado um certo tempo, e um pouco de choro, ela também pegou o jeito da coisa. Mas isso só foi possível após ela entender que, para andar de bicicleta, é preciso se preocupar em olhar para frente, e não para trás.
“Vai que recupera...”
Isso tudo para mostrar que existem situações nas quais ficar olhando para trás pode induzi-lo em erro, ainda mais quando se trata dos investimentos!
É muito comum, por exemplo, compararmos o preço que pagamos por determinado ativo com o seu preço atual para então concluir o quanto estamos ganhando ou perdendo com o investimento. Não há nada de errado nisso.
A questão é que, diferentemente do que muitos acreditam, a informação de quanto pagamos por determinado ativo já não é (ou não deveria ser) importante na hora de decidirmos o que fazer com ele daqui para frente.
Afinal, o preço de compra é passado e, como tal, ele ficou para trás. O que importa é o preço de hoje e as perspectivas para o ativo daqui em diante!
Ter isso claro é muito importante para o investidor, pois somente assim evitamos algumas armadilhas que criamos para nós mesmos, como a de segurar um investimento ruim por anos a fio apenas para não encarar a dura realidade de realizar um prejuízo.
Quer um exemplo?
O caso Macaé
Imagine quem investiu no XTED11, fundo imobiliário detentor de um único edifício comercial localizado na cidade de Macaé/RJ, nos longínquos anos de 2014.
À época, o Fundo pagava bons rendimentos, motivo pelo qual muitos investidores acabaram comprando suas cotas a preços acima de 17 reais.
Até que, um belo dia, os espaços ocupados em seu edifício foram devolvidos e, com o mercado imobiliário da região em crise a partir de então, o imóvel ficou vago por muitos anos.
Com a deterioração dos seus fundamentos, quem optou por segurar o investimento para não realizar o prejuízo viu uma desvalorização de quase 70 por cento do seu investimento ao longo dos cinco anos subsequentes.
É verdade que, no início de 2020, o Fundo até chegou a recuperar o patamar anterior por um breve momento, na expectativa de quase alugar os seus escritórios para outro inquilino, mas logo voltou para baixo de 6 reais...
Ainda assim, imagine quantas outras oportunidades o investidor, crente que um dia recuperaria o seu investimento no ativo, perdeu nesse meio tempo?
O IFIX, por exemplo, valorizou 137 por cento no período, enquanto o CDI rendeu mais de 77 por cento, e a inflação (aaah, a inflação…) acumulou uma alta próxima a 35 por cento nesse período!
Resumo da ópera: quem optou por manter os investimentos na expectativa de que “um dia se recuperaria” deixou muito dinheiro na mesa ao longo dos anos. Sem falar nas noites em claro.
Pergunte-se sempre quais são as perspectivas futuras!
Portanto, lembre-se sempre de que investir é como andar de bicicleta, só dará certo se você se preocupar em olhar para frente!
Quando você for se perguntar se um ativo é bom ou não para se manter na carteira, esqueça o preço passado, não olhe para trás. Ao contrário, questione se os seus fundamentos continuam prevalecendo e se as perspectivas continuam boas.
Caso permaneçam, então a queda pode até mesmo ser uma oportunidade para novos investimentos. Do contrário, é hora de realizar a venda e partir para uma próxima! No mundo dos investimentos, olhar para trás é importante apenas para tirarmos lições valiosas sobre os erros cometidos no passado.
Abraços e até a próxima!