Se você tem ações do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) na carteira, levou um susto ao abrir o home broker nesta quarta-feira, 23.

PCAR3 abriu em queda de mais de -20% e logo entrou em leilão (uma ação entra em leilão quando ocorre uma variação brusca de preços).

Fonte: Bloomberg

A volatilidade já era esperada, porque esta quarta marca o primeiro dia de negociação das ações do Pão de Açúcar após a cisão do Éxito.

Detentores de ações do Pão de Açúcar na base da companhia até ontem, 22, receberam um recibo de ação (BDR) do Éxito, que será negociado sob o código “EXCO32”. Os papéis passaram a ser negociados “ex-direito” hoje.

Estamos falando de 1,08 bilhão de ações do Éxito transformadas em BDRs e ADRs,  o equivalente a 83% da participação do GPA no Éxito.

Reestruturação do GPA

A reestruturação por parte do grupo controlador Casino é bem-vinda, dado que o grupo passa por grandes complicações financeiras e o que realmente trouxe sucesso ao grupo Pão de Açúcar foi a gestão Abilio Diniz.

A presença do Abilio Diniz foi muito marcante na história da companhia. Valentim dos Santos Diniz, pai de Abilio Diniz, foi o fundador do Pão de Açúcar em 1948, então marcou gerações.

Só para dar um contexto, o grupo Casino tem aliança estratégica com a companhia desde 1999 e, na época, tinha 24,5% do controle acionário. Muito tempo depois foi criada uma holding que o grupo Diniz e o grupo Casino tinham o controle, e aí, de 2012 em diante, o grupo assumiu o Casino completamente.

A companhia cresceu muito desde o começo dos anos 2000, fez boas parcerias, aquisições e historicamente foi importante também no IPO da Via Varejo, em 2013, em que o grupo Pão de Açúcar que detinha ações da varejista e vendeu um pedaço da sua participação.

Nessa época, o grupo Éxito já era uma empresa do Grupo Casino também.

Em 2016, o Grupo Pão de Açúcar reorganizou os ativos, ficou com as bandeiras Pão de Açúcar e Extra e colocou os negócios da bandeira Assaí na controlada, a Sendas.

A companhia fez muitas reorganizações societárias ao longo do caminho, mas quando olhamos toda a sua história de resultados, que temos acesso aos números desde 1994, de longe a gestão do Abilio foi muito mais próspera.

Dando números, a companhia saiu de um Ebitda de R$ 42 milhões em 1994 para R$ 3,7 bilhões em 2013, sendo o último ano do grupo Diniz.

Fonte: Bloomberg

Desde então, ficou mais clara a dificuldade do grupo com relação à gestão, os resultados ficaram bastante lateralizados. Além disso, a companhia sofreu bem em 2015 e 2016 com o cenário macro e a crise no Brasil.

Em 2016, o grupo até decidiu concentrar o GPA em alimentos, vender a Via Varejo, focar nas operações que eles sabiam que davam resultados, mas ainda assim um Ebitda maior que o histórico Diniz só veio em 2020 devido à pandemia e o aumento do consumo online. Nessa época, a companhia fez muita atuação promocional, isso alavancou bem os resultados.

Nossa opinião, portanto, é que a venda do GPA é bastante positiva para tentar recuperar tempos áureos que a empresa já vivenciou no passado.

O que esperar da PCAR3?

O setor de varejo alimentício deve continuar um pouco mais fraco. O ritmo de retomada, mesmo com os dados econômicos mais positivos, ainda não teve muito impacto. A tendência da inflação e competição também são pontos que temos que observar melhor onde os caminhos melhoram.

Mas a tendência e a expectativa para o mercado é de bastante competição e um ciclo de crédito ainda apertado para as empresas.

Das mais conhecidas, vemos GPA em reestruturação e o Assaí (ASAI3), que com melhores números e o ânimo do mercado para as ações ainda sofre com a competição.

Não temos boas perspectivas de uma melhora rápida para o setor. Dessa forma, optamos por ficar de fora das ações.