Nesta segunda-feira, 19, os índices futuros de Nova York tentam recuperar parte das perdas recentes e operam em alta nas negociações matinais.

Na semana passada, as preocupações com uma recessão nos EUA no próximo ano aumentaram quando o Federal Reserve (Fed) elevou sua previsão de aumentos futuros acima das expectativas anteriores. A autarquia espera aumentar as taxas para 5,1%.

Na agenda econômica, o Banco Central divulgará o relatório Focus no Brasil. Nos Estados Unidos, será divulgado o Índice de Confiança do Mercado Imobiliário.

Principais assuntos de hoje

  • Os planos da Movida no ano que vem;
  • Veja o impacto da taxação dos dividendos.

Movida pretende focar em ganhos de eficiência e rentabilidade no curto prazo

A Movida (MOVI3) realizou na sexta-feira, 16, seu encontro anual com analistas e investidores. Entre os principais destaques a companhia ressaltou o crescimento acelerado da frota, que cresceu a um CAGR de 67% entre os anos de 2013 e 2022, passando de 2 mil para 213 mil carros em 9 anos.

A companhia destaca que durante a pandemia do coronavírus (Covid-19) a operação cresceu em um ritmo ainda mais acelerado. Após 2020, a Movida quase dobrou sua frota, saindo de 118 mil para 213 mil carros.

Em um cenário de juros mais baixos, demanda aquecida da unidade de seminovos, com a escassez de chips e semicondutores travando o mercado de carros zero, e novos hábitos das pessoas, como o receio de usar o transporte público, a empresa percebeu o momento favorável.

Dados apresentados no Investor Day da Movida 2022. Fonte: RI Movida/Reprodução

Depois de ganhar escala, a Movida vai preferir uma trajetória de “crescimento discricionário” para o ano de 2023 em razão do cenário macroeconômico desfavorável, com juros ainda altos e inflação persistente.

Edmar Prado Lopes Neto, CFO da empresa, destacou que, mesmo diante do cenário atual complexo, a empresa mantém suas projeções apresentadas para 2025. Entre elas está a de alcançar uma frota de 260 mil carros daqui a três anos. “De agora para frente precisamos crescer cerca de 15 mil carros por ano (contra 50 mil praticados antes)”, disse.

Ademais, a empresa espera investir menos no ano que vem, uma vez que tem conseguido comprar carros mais baratos (populares de entrada) e vender mais caros (SUVs e carros mais equipados).

Ticket Médio em 2022


A diretoria executiva ressaltou um salto de 21% no ticket médio mensal contratado no seu segmento de gestão e terceirização de frotas (GTF), de R$ 1.900 no terceiro trimestre para R$ 2.300 no quarto trimestre.

No segmento de aluguel de carros, principal negócio da empresa, o ticket médio no quarto trimestre deve encerrar acima de R$ 150 contra R$ 139 em comparação ao terceiro trimestre deste ano.

“Mesmo com redução expressiva do Capex líquido (valor investido da companhia), a Movida espera seguir evoluindo seu ticket médio de locação, aumentando assim suas margens”, avalia o analista de ações da Nord Research Rafael Ragazi.

Fonte: RI Movida/Reprodução

Aluguel de carros


Outro destaque da reunião foi o aluguel de carros (RAC) em 2023. Segundo os executivos, a companhia não tem expectativa de crescimento alto nesse segmento — a renovação de frota será conduzida de forma diferente da registrada da pandemia até aqui.

Na pandemia, os juros baixos faziam com que a diferença entre alugar um carro mais simples ou um SUV fosse pequena. Com o fim das restrições sociais e o aumento dos juros no Brasil, a empresa percebe um aumento de demanda por veículos menores, mais simples.

“Dados de mercado divulgados pela Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla) apontam para um salto de 23% na demanda para o ano que vem, mas o foco da Movida estará na mudança do preço, acompanhando o repasse dos juros, e na transformação do mix da frota (comprar carros mais básicos)”, afirma Ragazi.

Fonte: RI Movida/Reprodução

Dados parciais

A Movida também apresentou alguns dados parciais, indicando um aumento de pelo menos 80% na receita e de 70% no Ebitda para o quarto trimestre (vs 4T21), totalizando R$ 10 bilhões e R$ 4 bilhões no acumulado de 2022, respectivamente.

Em relação ao lucro, o analista acrescenta que o indicador “está sendo penalizado pelo aumento da depreciação de frota, em função da normalização do mercado de seminovos, e pelos juros mais altos, que pressionam as despesas financeiras”, diz.

Fonte: RI Movida/Reprodução

Divisão de seminovos

Na divisão de seminovos, a Movida vai concentrar a maior parte dos investimentos na compra de veículos novos mais simples (motor 1.0) enquanto vai vender SUVs.

Os resultados dessa inversão começaram a aparecer em novembro, com aumento no preço médio de venda para R$ 77,6 mil. Porém, o aumento no ticket não significa necessariamente aumento de margem.

“Agora estamos vendo os preços de veículos seminovos voltarem a cair. Então o resultado nominal de seminovos cresce, mas não necessariamente a margem da divisão, que estava em um patamar bem acima do normal”, explica o analista.

Fonte: RI Movida/Reprodução

MOVI3: perspectivas futuras


A Movida negocia a um P/L de apenas 3x e DY de 8,8%. A nosso ver, mesmo considerando uma queda no lucro para 2023 projetada pelos analistas de mercado, não chegaria a um P/L de 4x.

Porém, o cenário para os resultados da companhia no próximo ano é mais negativo. Provavelmente veremos um Ebitda subindo, mas um lucro sendo pressionado por depreciação e resultados financeiros.

Por outro lado, temos uma dinâmica de caixa muito favorável, que contribuiu até para uma eventual redução ou, pelo menos, diminuição da pressão sobre o custo de financiamento.

Em resumo, concordamos com os movimentos recentes da companhia, parecem acertados, mas no curto prazo as ações da companhia devem seguir pressionadas por um fluxo mais vendedor. Nem sempre o mercado consegue olhar para o micro (realidade da empresa) e focar nos resultados de longo prazo.

Mantemos nossa recomendação de compra para as ações da Movida (MOVI3), tendo em vista que o mercado depositou uma dose de pessimismo muito maior do que o justificável e seguimos acreditando em uma assimetria positiva entre sua visibilidade de crescimento no longo prazo e seus múltiplos atuais (4x Ebitda).

Risco de taxar dividendos volta a preocupar investidores


O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que, a mando de Lula, dará prioridade máxima à reforma tributária logo no início do governo.

Mais recentemente, Haddad voltou a reiterar uma missão dada pelo presidente eleito: a de “colocar pobre no orçamento e rico no Imposto de Renda”, disse ele em evento do Natal dos Catadores, na região central de São Paulo, na quinta-feira, 15.

A motivação para recolocar a tributação de dividendos na pauta de discussões está relacionada com o furo no teto de gastos em quase R$ 200 bilhões no ano que vem.

Ninguém sabe exatamente de onde Brasília vai tirar esse dinheiro.

Imposto sobre dividendos


Analistas do mercado estimam que a discussão deverá voltar e que um ponto de partida poderia ser o Projeto de Lei 2.337/21 (PL 2.337/21), elaborado pelo Executivo.

O PL, aprovado em 2021 na Câmara dos Deputados, possibilita a taxação dos dividendos e o fim dos juros sobre capital próprio (JCP). Porém, nada foi definido.

Impactos de uma medida como essa


Para medir o impacto da tributação de dividendos, o BTG Pactual fez um estudo com 140 empresas listadas na B3, usando dois cenários diferentes.

O primeiro: 15% de imposto sobre dividendos, fim dos Juros sobre Capital Próprio (JCP) e nenhuma redução no IR das empresas. O segundo usa os mesmos critérios, mas com uma redução de 5 pontos percentuais no IR.

De acordo com cálculo do BTG, os bancos e empresas de telecomunicações, que pagam muitos juros, sofreriam mais.

No pior dos cenários simulados, ambos os setores sofreriam uma queda de 17% em seus lucros em 2024, escreveram os analistas. No melhor cenário, com a redução de 5 pontos percentuais no IR, a queda no lucro dessas empresas seria de 10%.

Por outro lado, as empresas que não costumam fazer uso do benefício fiscal dos JCP — varejo em geral, provedores de internet (ISPs) e empresas de alimentos — sairão ganhando se os JCP acabarem e houver um corte na alíquota de IR. Considerando o segundo cenário, o BTG estima que essas empresas aumentariam de 6% a 7% seus lucros em 2024.

3 pontos importantes sobre a tributação

De acordo com o analista de ações da Nord Research Guilherme Tiglia, existem três pontos importantes em torno dessa discussão:

1 -  Compensação de prejuízos fiscais

A tributação do dividendo provavelmente vai acontecer com uma compensação no Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), sendo menos provável uma bitributação. Então, se os JCP acabarem e houver corte na alíquota, é ganho de lucro para empresas que não fazem o uso do benefício dos JCP (alguns setores tipicamente não fazem uso desse provento);

2 - O jogo só acaba depois do apito final

O que temos até então são declarações públicas favoráveis à proposta de tributação de dividendos, mas nada mais do que isso;

3 - Empresas vão continuar distribuindo

A remuneração com dividendos é definida no estatuto de cada empresa, então independentemente do cenário (de tributação ou não), as empresas têm a obrigação de continuar distribuindo. A questão é a atratividade…

O analista alerta que, com a tributação de dividendos, muito provavelmente “veremos as empresas priorizarem a recompra de ações em vez de dividendos, ainda mais considerando o patamar de preço observado hoje. Seria um caminho para continuar gerando valor aos acionistas”, disse Tiglia.


Meme do dia

Fonte: Investidor da Depressão via Twitter/ Reprodução