O segredo dos iniciantes para perder dinheiro na bolsa de valores
É bem provável que você tenha lido algum destes artigos: “o segredo dos dois maiores investidores da bolsa”, “onde investem os grandes investidores do mercado?”, “o que os tubarões da Bolsa sabem e você não?”.
No “Multiverso da Loucura” do Doutor Estranho, faz mais sentido contar os erros que te fazem perder dinheiro ao investir na bolsa de valores.
Toma o café, porque antes você vai acessar um recorte (bem rápido) da bolsa brasileira.
Investidores pessoa física passam de 5 milhões
O número de investidores pessoa física que operam renda variável na B3 cresceu de 4,27 milhões no 1T22 para 5,3 milhões no 1T23, uma alta de +23%.
O dado foi divulgado em março deste ano pelo site da B3, que analisou a evolução dos investidores no primeiro trimestre de 2023.
Na renda variável, o número de investidores aumentou nos últimos anos devido ao incentivo criado com a rápida queda nas taxas de juros, motivando os investidores a buscarem rentabilidades acima da renda fixa para seus investimentos.
Claro que as movimentações foram rápidas, porém suficientes para atrair novas empresas para a Bolsa (5 em 2019, 28 em 2020 e 46 em 2021), além do forte efeito de neobanks, como o Nubank e o “pedacinho” fornecido aos correntistas para clientes da instituição em 2022, que atraiu cerca de 7,5 milhões de CPFs para a bolsa brasileira. Ainda tivemos o efeito do Banco Inter, com seus BDRs (INBR32).
No consolidado dos efeitos de mais investidores pessoas físicas na B3 e ticket baixo, o saldo mediano saiu de R$ 2,7 mil no 1T22 para R$ 1,0 mil no 1T23.
60% da bolsa são recém-chegados
O número de pessoas que investem em renda variável quase dobrou em plena pandemia do coronavírus. Cerca de 60% dos investidores que estão na Bolsa atualmente entraram a partir de 2020.
Por outro lado, os investidores que chegaram nessa fase mais conturbada prejudicam as safras mais antigas de investidores que atravessaram momentos de crise, juros altos e maior volatilidade do mercado.
Sem dúvidas, o aumento de investidores é positivo para a bolsa, porém os recém-chegados atravessaram uma alta volatilidade em curto espaço de tempo, o que os incentiva a não aprofundar conhecimento no mercado de ações e imaginar que é algo “especulativo”.
Embora ainda não seja um consenso, percebe-se que as safras dos “veteranos” são mais resilientes quando o assunto envolve lidar com os altos e baixos das aplicações.
O estrangeiro ainda domina em participação
Embora o número de CPFs tenha aumentado, o volume de negociação ainda é considerado muito baixo, segundo a B3.
Com os dados atualizados, vemos que o maior fluxo ainda é atrelado aos investimentos estrangeiros, seguido por investidores Institucionais.
Um ponto interessante é a mudança de posicionamento dos investidores Institucionais, que estavam em sua maioria vendidos em Bolsa Brasil e estão se posicionando para neutro, iniciando a passos lentos a posição comprada em Bolsa, o que pode indicar um início de fluxo no futuro positivo para os que estão posicionados atualmente.
Contudo, sob a ótica da pessoa física, 17% do volume de negociação desde 2021 é um dado bastante relevante, muito acima da média dos últimos anos, o que tem contribuído para as empresas exporem mais seus objetivos, negócios e planos futuros aos pequenos investidores, mas ainda está muito aquém dos maiores investidores.
O volume médio diário do investidor pessoa física tem ganhado representatividade no mercado comparando com investidores grandes, diante do ticket médio da pessoa física atualmente em R$ 2,2 mil.
Como falamos anteriormente, um dos principais motivos para isso é o efeito “pedacinho do Nubank”, mas também uma grande participação do mercado fracionário e penny stocks (ação de uma empresa negociada na bolsa por menos de R$ 1), que atraem investidores recém-chegados.
Onde os iniciantes da bolsa investem?
O investidor recém-chegado, que atravessou pandemia, crise fiscal, inflação global e incerteza política no país rapidamente nos últimos dois anos, diante da volatilidade da bolsa brasileira — que não é necessariamente um risco —, mostrou-se mais inclinado a diversificar sua carteira de ativos.
O asset allocation, que consiste em organizar sua carteira em “fatias”, visando à diversificação correta, e não apenas por diversificar, permite que o investidor consiga ter uma parcela em ações, mas que também busque investimentos combinados com fundos imobiliários, buscando geração de renda, e ETF, que facilita os investimentos em grandes classes de ativos.
A combinação favorita dos investidores pessoas físicas tem sido ações e fundos imobiliários, com cerca de 16% de forma estável desde 2021.
O segredo dos iniciantes para perder dinheiro
Um dos maiores detratores de patrimônio da pessoa física é o fator psicológico.
Boa parte dos investidores que entraram no boom de IPOs e novas empresas, aproveitando as altas consecutivas do índice devido ao otimismo com a queda dos juros, imaginavam que seria um mercado que subiria para sempre, que seria apenas comprar qualquer ação que ela iria subir.
Ignorando a ciclicidade do mercado, muitos viram seu patrimônio despencar -50% e perceberam que a volatilidade do mercado não coincidia com o seu perfil, o que fez com que tomassem decisões precipitadas e vendessem no pior momento do mercado.
Assim que o mercado retoma suas altas, o investidor retoma as compras — vendendo barato e comprando caro.
Esse é um dos primeiros vieses que identificamos nos investidores iniciantes: o efeito manada.
O termo descreve a tendência das pessoas a seguir o comportamento e as opiniões da maioria, mesmo que isso signifique ignorar suas próprias crenças pessoais e ignorar seus estudos sobre as empresas, por mais consistentes e racionais que sejam.
A melhor forma de se livrar disso é entendendo sobre os negócios, sobre a ciclicidade dos resultados e do mercado e aprendendo com o histórico dos investidores, que buscam elevar sua fatia em renda variável quando o mercado está bastante estressado (onde estão as maiores oportunidades).
Oportunidades para aproveitar ainda em 2023
Ainda temos muitas oportunidades para o segundo semestre de 2023. O momento tem sido bastante favorável para ativos de risco diante das sinalizações positivas da economia, com o mercado já precificando a queda da SELIC, o que se traduz em rápida resposta para ativos mais sensíveis, como a bolsa de valores.
Ainda vemos bastante espaço para investimentos em ações, mas o investidor não possui janelas tão longas. Por isso é importante sempre ter uma posição e balizar conforme sua alocação total de carteira.
As sinalizações já apontam para uma SELIC em torno de 9,25%, que além de ser rapidamente precificada nas ações, prolonga a longevidade dos resultados das companhias pela redução das despesas financeiras.