No meu caso, apesar de ter nascido e crescido em São Paulo, torço para o Santos FC.

Nesse feriado, estava lembrando com a família como era difícil ser uma criança santista em São Paulo no início dos anos 2000.

Na escola, éramos uns dois ou três por sala, enquanto os demais alunos torciam para os times da capital, que estavam em boa fase naquele momento.

Já o Santos passava por um longo período de vacas magras, com um jejum de quase 18 anos sem títulos importantes.

Os colegas não deixavam barato. “Santos é o time do meu vô” era a frase que eu mais escutava, mas o que não faltavam eram provocações.

Ser santista naquela época e sob aquelas circunstâncias exigia muita personalidade do pequeno torcedor.

Os meus pares normalmente se omitiam e fugiam das provocações, mas eu não me abatia!

De fato, meus colegas tinham razão: o Santos era o time do meu avô, assim como o do meu pai e tios. Em casa, ser santista era coisa de família. “E com família não se brinca”, pensava eu.

Mas apesar de todo o meu vigor para defender a nossa “honra”, era muito desafiador argumentar em prol do time naquela época. Ele até que era raçudo, mas carecia de maior intimidade com a pelota…

Eu sabia, lá no fundo, das suas limitações, mas negava até o fim! No meu entendimento, meu papel como torcedor era o de provar para todos que meu time era o melhor.

Sendo assim, passava horas reunindo informações e números para construir os argumentos mais esdrúxulos e enfadonhos que um torcedor mirim poderia criar para defender o seu ponto de vista.

E, claro, quando o time perdia, a culpa era da arbitragem!

Enfim… foi ali que eu aprendi o que é ser um famigerado torcedor “clubista” – aquele que toma partido e defende o seu ponto de vista “custe o que custar”.

Hoje, além das lembranças, carrego importantes lições tiradas daqueles dias que me servem até mesmo quando o assunto é investimento.

Deixe a torcida de lado

Passados muitos anos desde a minha imersão no mundo do futebol, atualmente vejo o esporte de maneira muito mais pragmática.

Aprendi, com o passar do tempo, a analisar as situações de maneira mais crítica e sem muita paixão.

E penso que este é também um grande desafio para o investidor. Afinal, somente analisando criticamente os fatos evitamos que o nosso lado torcedor se sobreponha ao investidor, o que poderia comprometer a nossa tomada de decisão.

Mas em tempos de Selic a 2 por cento ao ano, não é incomum ver, em alguns fóruns de FIIs, investidores fazendo torcida para que o seu Fundo “pague bem” em determinado mês.

Quando o provento vem além das expectativas, o clima é de euforia, como aquele gol da vitória aos 45 do segundo tempo. E não demora para aparecer alguém dizendo que o FII ABCD11 é melhor do que o EFGH11.

Por outro lado, quando vem aquém do esperado, fica aquele climão de vice-campeonato.

Enfim, é aquela montanha-russa de emoções que só a torcida pode nos proporcionar.

Porém,como investidor, seria muito mais interessante você entender como aquele Fundo gera a sua renda mensal do que simplesmente torcer para “dar tudo certo” ao final do mês.

Somente assim você evitará ser pego de surpresa por uma mudança abrupta nos resultados do Fundo, afinal, estamos falando de um ativo de renda variável.

E, diferentemente do futebol – em que você, como torcedor, não é capaz de mudar o resultado da partida–, quando o assunto são seus investimentos, você é!

Se no passado a indústria de Fundos Imobiliários carecia de transparência para com os investidores, a história vem mudando já há algum tempo...

Atualmente, por exemplo, as administradoras/gestoras dos FIIs disponibilizam mensalmente os seus resultados gerenciais explicando, em maior ou menor nível de detalhe, as operações do Fundo naquele mês.

Além disso, muitas vêm realizando até mesmo apresentações online dos resultados mensais, de forma a se aproximarem dos investidores, o que é ótimo.

Sendo assim, em uma indústria que caminha cada vez mais em direção às boas práticas de governança, já não há motivos para o investidor apenas torcer para o seu Fundo, pois muita informação está disponível e aberta ao público.

É possível estudar o Fundo para entender como ele gera valor aos cotistas antes de investir, bem como monitorá-lo após o investimento. Em se tratando de renda variável, esse tipo de acompanhamento é essencial.

Clubismo? Melhor não!

Também não é incomum ver investidores carregarem alguns Fundos em carteira durante anos a fio para tentar recuperar prejuízos passados, ou na espera da volta de seu passado glorioso.

Diferentemente do que ocorre com o futebol, em que costumamos escolher um time para levá-lo para o resto da vida, o mesmo não deveria ocorrer com os seus investimentos…

Não se apegue demais a determinado ativo.

Caso a sua tese de investimento se conclua ou vá na direção contrária da esperada, não há nada de errado em colocar o dinheiro no bolso e partir para uma próxima oportunidade mais vantajosa. O que importa é o que esperamos daqui para a frente, pois o passado ficou para trás.

Portanto, não vista a camisa do seu investimento custe o que custar.

Sempre procure se questionar se aquela é, de fato, a melhor opção no momento e se o racional por trás da tese permanece sólido de acordo com os novos acontecimentos.

Monte a sua seleção

Por fim, mas não menos importante, não monte uma carteira de FIIs com exposição a apenas um ou outro Fundo.

Assim como um time, uma carteira de FIIs bem equilibrada precisa ter atacantes, zagueiros, goleiro e por aí vai. Lembre-se: você é o técnico.

Concentrar o seu dinheiro em pouquíssimos FIIs de um mesmo segmento, o famoso “All in”, não costuma ser uma boa estratégia.

Imagine se, no início de 2020, você estivesse excessivamente concentrado em FIIs de Shoppings, pois esperava que este seria o ano da recuperação da nossa economia e que ela seria capitaneada pelo consumo.

Não preciso dizer o que aconteceria ainda nos primeiros meses do ano com a sua carteira de FIIs, não é mesmo?

Por isso, em se tratando de Fundos Imobiliários, é importante, sim, diversificar bem os seus investimentos nos mais variados segmentos. Não se faz um bom time apenas com atacantes, por melhores que eles sejam.

Conclusão

Sigo na torcida pelo Santos. Diferentemente do Corinthians do Renato Breia, o time está firme e forte na Libertadores e a seis pontos da liderança no Brasileirão.

Mas com um presidente recém-impedido, salários atrasados, punições da FIFA e um passivo a descoberto no último balanço publicado, não compraria SANT11 na Bolsa, pois sei que o mar não está para peixe…

Torcer exige um pouco de fé, investir, não! Portanto, todo cuidado é pouco com os seus investimentos.

Um abraço e até a próxima,