A Natura (NTCO3) reportou resultados abaixo do consenso de mercado, com uma receita líquida de R$ 7,3 bilhões no 2T24, um crescimento de +5,4, um Ebitda de R$ 671 milhões, +57,2% de alta e um prejuízo de R$ 859 milhões ante prejuízo de R$ 732 milhões. Todos os resultados foram comparados com o mesmo período em relação ao ano anterior.

Destaques resultados 2T24 da Natura 

Os destaques do trimestre ficaram para a estabilidade de despesas no resultado consolidado da companhia.

Resultados Natura 2T24. Fonte: RI.

A receita líquida foi positivamente impactada pelo crescimento nas vendas da Argentina (Avon Latam) e The Body Shop.

As despesas com operação (vendas, pessoas) ficaram praticamente estáveis na comparação anual, o que permitiu um crescimento no Ebitda consolidado, com margem Ebitda de 9,1% ante 6,1%. Com ajustes de eventos não recorrentes, o Ebitda ajustado cresceu +14,2% e a margem Ebitda finalizou 10,9% ante 10,1%.

Apesar da redução da alavancagem da companhia ao longo do processo de venda dos seus ativos, o que proporcionou redução do resultado financeiro diante da redução dos juros das dívidas, a companhia teve um não recorrente de R$ 725 milhões no 2T24, um evento write off não caixa.

Um write-off não-caixa é como se a empresa reconhecesse que algo que ela tinha registrado como valioso (como uma dívida que alguém deveria pagar a ela ou um benefício futuro que esperava ter) não vai mais ser recuperado ou não tem mais valor.

Mesmo que a empresa registre essa perda no papel (ou seja, na contabilidade), ela não precisa tirar dinheiro do caixa para cobrir essa perda. É apenas uma correção nos registros contábeis, refletindo que algo não tem mais o valor esperado, mas sem impacto imediato no dinheiro disponível da empresa.

Então, o "não-caixa" significa que não envolve saída de dinheiro real, é apenas um ajuste contábil.

Esse write-off foi feito por causa de uma reestruturação da API, que dificultou a continuidade de certos benefícios fiscais que a empresa estava aproveitando desde 2021. 

Além disso, a empresa teve despesas significativas com imposto de renda, que totalizaram R$ 251 milhões. Essas despesas foram divididas entre as operações da Natura Cosméticos e da Avon, sendo que o mix de países onde a Avon opera, com alguns lucrativos e outros não, complicou ainda mais a situação fiscal.

O que esperar de NTCO3?

Apesar das melhoras pontuais nos resultados operacionais da companhia, desconsiderando os fortes efeitos não recorrentes, a atenção do mercado se voltou para a recuperação judicial da Avon Products, anunciada junto aos resultados da Natura.

Avon Products entra com pedido de Recuperação Judicial nos EUA

A Avon Products, uma das maiores empresas de cosméticos do mundo, enfrentou dificuldades financeiras significativas nos últimos anos. Para tentar reorganizar suas finanças e manter suas operações, a empresa entrou com um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. Esse processo visa proteger a Avon de credores enquanto ela tenta se reestruturar.

A decisão da Avon Products de entrar com o pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, sob o mecanismo do Chapter 11, foi estratégica. O Chapter 11 oferece à empresa uma maior flexibilidade na renegociação de dívidas e na reorganização de suas operações, comparado aos processos de recuperação judicial disponíveis no Brasil.

O que é o Chapter 11?

O Chapter 11 é um capítulo do Código de Falências dos Estados Unidos que permite às empresas continuarem operando enquanto reestruturam suas dívidas. Diferente do processo de falência tradicional, o Chapter 11 possibilita que a empresa mantenha o controle de seus ativos e operações, com a supervisão do tribunal. Essa característica é especialmente atrativa para grandes corporações que precisam de tempo e espaço para reorganizar suas finanças sem interromper completamente suas atividades.

Por que a Avon escolheu o Chapter 11 nos EUA em vez da Recuperação Judicial no Brasil?

Existem algumas razões principais para a escolha do Chapter 11 nos EUA:

  • Maior Flexibilidade Jurídica: O sistema jurídico dos EUA oferece mais opções para renegociar dívidas e realizar cortes operacionais necessários para a sobrevivência da empresa. O Chapter 11 é conhecido por permitir maior controle sobre o processo de reestruturação, ao contrário do sistema brasileiro, que pode ser mais rígido e demorado.
  • Credores Internacionais: Como a Avon opera em vários países e possui uma base diversificada de credores, o Chapter 11 é mais eficaz para lidar com dívidas internacionais. O processo nos EUA é reconhecido globalmente e pode facilitar a negociação com credores estrangeiros, que podem não estar tão familiarizados com o sistema jurídico brasileiro.
  • Proteção de Ativos: Nos Estados Unidos, o Chapter 11 oferece uma proteção mais ampla contra ações de credores, o que pode ser crucial para garantir a continuidade das operações da Avon durante o processo de recuperação.

Optar pelo Chapter 11 pode permitir que a Avon se reorganize de maneira mais eficiente e mantenha suas operações nos mercados internacionais. Para a Natura & Co, essa escolha pode representar uma forma de proteger o valor de sua aquisição e garantir que a Avon continue sendo uma peça importante no seu portfólio global. No entanto, a complexidade do processo também traz desafios, incluindo a necessidade de equilibrar as expectativas dos credores e acionistas.

O que esperar de Natura (NTCO3) e Avon?

A Natura & Co, que adquiriu a Avon em 2020, demonstrou apoio à sua subsidiária ao anunciar a injeção de US$ 43 milhões. Esse aporte financeiro tem como objetivo garantir a continuidade das operações da Avon enquanto a empresa passa pelo processo de recuperação judicial.

O futuro da Avon dependerá de sua capacidade de implementar uma reestruturação eficaz e de se adaptar rapidamente às novas demandas do mercado. A recuperação judicial pode oferecer a oportunidade necessária para a empresa reavaliar suas estratégias e fortalecer sua posição. A Natura & Co, por sua vez, está em um momento decisivo, onde suas decisões podem determinar não apenas o destino da Avon, mas também a solidez de seu portfólio global de marcas.

Por esses motivos, no momento não recomendamos compra para as ações de Natura.

Dividendos e JCP de Natura (NTCO3)

A companhia não anunciou o pagamento de proventos.

Qual o dividend yield de Natura (NTCO3)

O dividend yield de Natura (NTCO3) dos últimos 12 meses é de 4,33%.

Qual é a história da Natura (NTCO3)?

A Natura é uma empresa brasileira de cosméticos, higiene pessoal e produtos de beleza. Fundada em 1969 por Luiz Seabra, a Natura começou como uma pequena loja de cosméticos em São Paulo e, ao longo dos anos, cresceu para se tornar uma das maiores empresas do setor na América Latina.

Além disso, a Natura é parte do grupo Natura &Co, que já possuiu outras marcas internacionais como Avon, The Body Shop e Aesop.

Vale a pena comprar Natura (NTCO3)?

No  momento, não temos recomendação de compra para as ações da companhia.

Como faço para comprar ações da Natura (NTCO3)?

Para investir nas ações da Natura é necessário ter uma conta em uma corretora de valores. A empresa é negociada na B3 sob o ticker NTCO3.

Reiteramos que, no momento, não temos recomendação de compra para as ações da companhia.