Nada como a boa e velha inflação
De volta a 1991
O grande barulho da semana, nos Estados Unidos, esteve relacionado à taxa de inflação, que foi divulgada na segunda-feira.
No mês de junho, o indicador subiu – pasmem – nada menos do que +0,9 por cento, marcando o maior aumento mensal desde junho de 2008. Uma inflação digna do Brasil, diga-se de passagem.
A inflação ao consumidor, no acumulado nos últimos doze meses, chega a +5,4 por cento – também a maior leitura desde agosto/2008.
Mas se você conversar com algum economista, ele(a) vai dizer que na verdade o que faz mais sentido é olhar para o núcleo da inflação, que nada mais é do que o mesmo indicador, mas desconsiderando os efeitos de alguns itens voláteis, como energia e alguns alimentos.
Mesmo assim, a danada da inflação fez história. O aumento de preços em doze meses do núcleo da inflação marcou +4,5 por cento, a maior leitura desde novembro de 1991!
Mas calma, precisamos mesmo é olhar nas entrelinhas para entender o que está acontecendo em terras gringas e levando a inflação a patamares tão exuberantes.
Os principais contribuintes para a alta da inflação nos Estados Unidos nos últimos meses têm sido o mercado de carros usados (em verde no gráfico abaixo), o custo com aluguel e preço dos imóveis no geral.
A maior surpresa para o mercado tem sido o aumento no preço dos carros usados. Apenas no mês passado, em relação ao mês anterior, a alta foi de +10 por cento, sendo que nos períodos anteriores a variação tinha sido bem expressiva também.
Esse outro gráfico é um pouco assustador. Ele mostra a alta no preço de veículos usados desde 1995. Notem como nos últimos meses ficou bem caro comprar um carro nos Estados Unidos!
Mas por que isso está acontecendo? Bom, lá atrás, no início da crise, muitas locadoras de carros se desfizeram de parte de seus estoques rapidamente – a um preço não muito convidativo – para fazer frente à crise e à baixa ocupação da frota. Agora, essas mesmas locadoras estão de volta ao mercado de carros novos, que também passa por uma peculiaridade, que é a falta de chips eletrônicos, o que levou várias montadoras a suspenderem a fabricação de automóveis nos últimos meses, ou seja, a oferta de carros está bem baixa nos Estados Unidos.
Diante da reabertura econômica, retomada do emprego e também por conta da migração dos centros urbanos para as regiões de subúrbio – o home office fez com que muitas pessoas procurassem casas maiores, em busca de uma qualidade de vida e trabalho melhores – os carros, agora, mais do que nunca, são necessários, o que leva a esse superaquecimento do mercado de usados.
A situação não é muito diferente no mercado de casas. O gráfico abaixo, que fez parte de um relatório do Nord Fundos recentemente, mostra como está o preço das casas nos Estados Unidos em relação à inflação acumulada no mesmo período.
Notem o quanto os imóveis subiram de preço nos últimos meses, contribuindo para a alta da inflação de uma maneira geral.
E ainda temos a reabertura econômica por vir…
A tabela abaixo ressalta em verde os segmentos que mais contribuíram para o aumento de preços nos últimos meses, comparando a variação ano contra ano dos segmentos.
Tivemos uma aceleração nos preços de um segmento da economia que até então estava “esquecido”: o turismo.
A alta das diárias de hotéis (lodging away from home) e passagens aéreas (airline fares) também aceleraram nos últimos meses, visto que apenas agora, com a vacinação indo muito bem no país, as pessoas estão voltando a circular e viajar a lazer e a trabalho, então possivelmente há mais por vir aqui.
Além disso, temos um consumo reprimido para itens de varejo, cirurgias que foram canceladas e muitas outras coisas que serão retomadas plenamente apenas nos próximos meses.
A impressão que fica é de que a inflação pode até ser transitória, como o Banco Central dos Estados Unidos afirma, mas ela ainda pode estar longe de retornar aos patamares históricos de 2,0 por cento ao ano.
E as implicações disso para seus investimentos? Bom, esse será o tema na nossa próxima newsletter.
Até semana que vem!