O fim da isenção de imposto de importação para encomendas de até US$ 50 (R$ 250) pegou os consumidores de surpresa. A medida impacta sites como Shein, Shopee e AliExpress.

Por outro lado, a mudança é positiva para empresas nacionais que se sentiam prejudicadas na competição com e-commerces estrangeiros que passaram a atuar no Brasil.

As varejistas brasileiras acusavam as asiáticas de não pagar tributos, até então, a principal vantagem competitiva.

Por que o governo vai taxar Shein, Shopee e AliExpress?

A medida será tomada para combater a sonegação de impostos de plataformas como Shein, Shopee e AliExpress.

A estimativa de representantes do setor é que a evasão fiscal por conta desse cenário gire em torno de R$ 14 bilhões anuais.

Além do fim da isenção, a medida provisória preparada pelo governo propõe ferramentas para viabilizar a efetiva fiscalização, ou seja, obrigatoriedade de declarações completas a antecipadas de importação, com identificação completa do exportador e do importador (as transportadoras também terão que prestar informações detalhadas sobre os produtos) e com multa no caso de subfaturamento ou dados incompletos/incorretos.

O jogo virou para o varejo brasileiro

Nos últimos anos, e-commerces asiáticos abocanharam uma parte significativa do mercado brasileiro com versões similares de produtos ou até mais baratos e, com isso, os consumidores passaram a comprar menos em varejistas brasileiras.

Mas agora o jogo virou e as empresas estrangeiras podem sofrer perdas relevantes.

A notícia é positiva, principalmente para Magazine Luiza (MGLU3) e Lojas Renner (LREN3), em relação à competição com a Shein e outras estrangeiras.

Segundo relatório publicado pelo Itaú BBA, as importações de produtos têm desacelerado fortemente. Em janeiro e fevereiro deste ano, as altas ainda foram de 14% e 11%, mas muito menores do que as altas de 91% e 103% no mesmo período de 2022.

No ano passado, as importações desses produtos subiram 131% e em 2021 mais de 60%.

De acordo com o analista do BBA, isso pode significar que os reguladores já estejam adotando uma fiscalização mais rigorosa da atividade cross border no Brasil.

Consumidores da Shein, por exemplo, estão relatando na internet que começaram a ser cobrados com uma taxa adicional de importação quando seus produtos chegam.

Pontos positivos para Lojas Renner

Recentemente, Daniel dos Santos, CFO da Renner, falou sobre o assunto e disse que o grande problema era que os tributos não estavam sendo recolhidos adequadamente, por isso os preços praticados pela Shein eram 40~60% menores. Com os tributos adequadamente cobrados, as diferenças cairiam para 15~30%.

Provavelmente, a Instrução Normativa que obriga as transportadoras a compartilhar as informações sobre as mercadorias que chegam em remessas internacionais, publicada em dezembro, está permitindo a devida cobrança dos tributos pela receita.

Pontos positivos para Magazine Luiza

O Magazine Luiza é outra empresa do setor que pode reconquistar espaço após a taxação. Em entrevista recente, a dona da varejista, Luiza Helena Trajano, afirmou que não há como competir com as asiáticas sem que elas sejam devidamente taxadas e que o consumidor precisaria ser conscientizado de que “pagar barato” tira empregos no Brasil.

De fato, a concorrência, muitas vezes, desleal desses players vem sendo uma das grandes pedras no sapato do Magalu nos últimos anos — além, obviamente, dos cenários de inflação e juros altamente desafiadores para o varejo brasileiro.

Com o possível enfraquecimento das varejistas chinesas, a tendência é que o Magazine Luiza recupere pelo menos parte do mercado que havia sido tomado por elas.

Outros grandes concorrentes internacionais, como Mercado Livre (MELI34) e Amazon (AMZO34), também serão beneficiados e é por isso que o Magalu precisa continuar sua busca de um ecossistema cada vez mais completo e resiliente.

Mudanças do ICMS

As varejistas brasileiras também estão na mira do governo. Caso ocorra as subvenções do ICMS, o setor é um dos mais afetados.

Para mitigar o impacto, pode ser que essas empresas repassem esse possível aumento da alíquota aos consumidores por meio de aumentos de preços.

De acordo com a estimativa do Ministério da Fazenda, a medida pode gerar entre R$ 85 bilhões e R$ 90 bilhões — impacto bilionário para as empresas do varejo.

Oportunidade de investimento

Apesar da ameaça com uma possível mudança da cobrança do ICMS e do ambiente inflacionário, é possível ganhar com essas ações não apenas no curto prazo mas também no longo prazo.

Nossa preferência dentro do setor é para as ações de Lojas Renner (LREN3).
A companhia investiu cerca de R$ 1 bilhão e inaugurou 40 novas lojas em 2022. Para 2023, o objetivo é repetir os números (o foco da expansão está nas novas praças que trazem novas receitas também no digital).

Cerca de 10% dos volumes das marcas de moda já estão no novo CD e até o começo do 3T23 a Renner espera ter migrado toda a sua operação de lojas físicas.

O ganho de eficiência no digital e a expansão dos marketplaces também são impulsionadores de margem.

Por fim, o ganho de market share da Renner no ano passado (cresceu 21%, 7 p.p. a mais que o mercado) deixa claro que o ambiente competitivo acaba sendo mais favorável do que prejudicial à empresa.

Reiteramos nossa recomendação de compra para LREN3. Os múltiplos da empresa estão 50% abaixo de suas médias históricas e definitivamente não refletem o potencial da companhia, aproveitem a oportunidade!