Megazord das locadoras de carros
A Localiza e a Unidas estão em conversas avançadas para uma fusão, um movimento que criaria um Megazord das locadoras de carros.
Quando combinado a outros zords, o robô espetacular de Power Rangers se torna um gigante poderoso. Na vida real, é mais ou menos o que vai acontecer com a incorporação da Unidas pela Localiza.
Juntas, as empresas podem chegar a valer mais de 60 bilhões de reais na B3, mas aguardam o aval do Cade para se concretizar.
Transformações na mobilidade urbana
Passamos por diversas (r)evoluções nos últimos anos: ressignificamos a mobilidade, fundamos as locadoras de veículos e criamos a economia do compartilhamento.
1 + 1 = 3
A economia do compartilhamento nada mais é do que economizar por meio do compartilhamento de ativos, nesse caso, de veículos.
Com as novas tendências de trabalho, em junção com essa economia do compartilhamento, as pessoas deixaram de ter um carro próprio para utilizar o serviço de locação.
E quando pensamos em alugar um carro, pensamos sempre em Localiza, Unidas e Movida.
Três empresas que estão prestes a virar duas — com um terceiro player a surgir (quem será?).
A fusão
A proposta de fusão entre a maior locadora do Brasil, Localiza, com a segunda maior, Unidas, foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) — com remédios para deixar essa história um pouco mais justa para os seus competidores…
Mas antes de irmos mais a fundo nessa negociação, quem são essas empresas?
2 - Localiza (RENT3)
Localiza é a locadora líder de mercado no Brasil, e por definição quem manda no segmento de locação é quem tem mais tamanho (e escala).
Logo, quanto mais carros, maior a compra, maior o desconto, maior a escala e maior a vantagem competitiva frente às demais…
RENT atua nos segmentos de aluguel de carros (RAC - responsável pelo aluguel de carros em agências de rua e aeroportos), gestão e terceirização de frotas (GTF - contratos de longo prazo para empresas) e seminovos (giro da frota atual).
Com a falta de veículos nas montadoras, a estratégia da companhia está sendo de reter mais carros durante este período de dificuldade, fazendo uma maior gestão da frota antiga para a segmentação de clientes…
Localiza prefere ser mais conservadora, mas não quer dizer que está deixando de focar em seu crescimento.
Gigante nesse mercado e querendo aumentar ainda mais a sua consolidação, a companhia vai se fundir com a Unidas.
3 - Unidas (LCAM3)
A Unidas é a segunda maior locadora de veículos, atuando nos mesmos três segmentos, e está em vias de se tornar a maior locadora do setor com a fusão.
Com juros altos, o mercado vem batendo nas locadoras pelo receio de não conseguirem mais capital para comprar mais carros. Entretanto, isso não é o que vemos em seus resultados e na visibilidade de crescimento que a companhia possui.
Com a pandemia, faltaram semicondutores, levando a um atraso na entrega de carros. A cadeia automotiva foi totalmente impactada, mas isso não a impediu de crescer.
O motivo? Simples. A locadora se programou em relação ao recebimento de carros e repassa o aumento dos preços aos seus clientes.
Mesmo faltando carros no mercado, LCAM segue em forte crescimento, capitalizada e preparada para atravessar cenários adversos.
Por isso, Unidas é ótima com ou sem fusão.
Movida (MOVI3)
Movida é a terceira maior locadora do mercado. Pequena frente à fusão entre Localiza e Unidas, a companhia é uma das principais interessadas em que essa união não ocorra.
Atuando no RAC, GTF e Seminovos, MOVI não tem medo de crescer — compra carros de forma mais arrojada que as demais locadoras e repassa o aumento de preços aos seus clientes.
A sua frota, referente do 3T21, possui 168 mil carros – pouca diferença para a segunda colocada, mas com enorme diferença para a nova companhia pós-fusão.
Com a fusão, Movida poderá ser beneficiada por um lado, por se tornar a segunda maior locadora do mercado, e prejudicada por outro, por ter uma diferença enorme do número de veículos para a primeira colocada.
4 - União de Gigantes
Após muitos meses de espera, em dezembro de 2021, o CADE aprovou a fusão das duas maiores locadoras.
Seus concorrentes ficaram com medo da grande concentração que viria dessa fusão e se mostraram contra esse movimento, já que faz com que ambas as companhias possuam 455 mil carros.
Para lidar com essa concentração e exercendo o seu propósito de zelar pela livre concorrência, o Cade adotou alguns remédios para mitigar os riscos dessa junção entre gigantes da locação.
Os principais remédios estruturais a essa fusão foram:
- Venda de parte dos automóveis do RAC, estimados entre 45 a 55 mil, para um terceiro player ainda não definido, o qual deverá ser aprovado pelo Cade;
- Diminuição do número de lojas em algumas cidades, principalmente onde a Movida possui uma presença pequena;
- Venda da marca Unidas;
- Desinvestimento em veículos usados (seminovos).
Além disso, para evitar que os outros players fiquem prejudicados com futuras movimentações da companhia, foram determinados alguns remédios comportamentais:
- A NewCo (nova companhia pós-fusão) não poderá fazer nenhum tipo de aquisição no RAC por 3 anos a contar da data de decisão do Cade, além de notificar qualquer transação nos 2 anos posteriores;
- Será preciso notificar qualquer operação no GTF pelo prazo de cinco anos.
Com os desinvestimentos, Localiza estaria levando na fusão a Unidas, maior empresa de GTF, contando com uma parcela bem pequena do seu RAC – entre 24 por cento e 38 por cento da frota atual.
Ainda é cedo para falarmos sobre as sinergias, mas a junção entre as maiores do setor onde tamanho é documento já nos mostra um grande potencial.
Quanto maior o tamanho da companhia, mais eficiente será a negociação pela compra de veículos, e maior será sua influência na precificação do mercado.
Na parte de despesas administrativas, de vendas e gerais, será possível eliminar estruturas sobrepostas nas duas operações, economizando até 7 bilhões de reais para a NewCo, segundo pesquisa do Goldman Sachs.
A fusão traz escala, mas ao mesmo tempo deixa o mercado nas mãos das duas gigantes.
Para os acionistas de Unidas e Localiza, foi proposta uma troca de ações de 0,4468 ações da RENT3 para cada ação da LCAM3, além de um dividendo extraordinário no fechamento do negócio de 425 milhões de reais.
Se não houver fusão…
Ambas as companhias deixam claro que querem seguir com o processo de fusão, mas caso os remédios não sejam respeitados, o processo poderá ser barrado.
Para além da necessidade de cumprimento dos remédios pelas locadoras, não havendo um terceiro player no mercado disposto a comprar a parcela do RAC, a fusão poderá ser barrada pelo Cade.
De qualquer forma, quando olhamos para o múltiplo (EV/EBITDA) que ambas negociam, ficando mais baratas com a queda da sua cotação e o aumento dos seus resultados, em um mercado crescente, ficamos mais tranquilos quanto a essa possibilidade.
Com Localiza a 14x Ebitda e Unidas a 9x Ebitda, preferimos continuar com a locadora que cresce fortemente e negocia a múltiplos super baixos (veja aqui as 3 melhores ações para 2022).
Vamos seguir acompanhando os próximos capítulos desta novela, ansiosos por um resultado.
Gostou de saber mais sobre a possível união de negócios entre a Localiza e Unidas? Acompanhe de perto o desenrolar da história e conheça outras análises na série O Investidor de Valor.