A marcação a mercado é um conceito importante para quem investe em títulos de renda fixa. Neste artigo, vamos explicar o que é a marcação a mercado e como ela afeta os títulos de renda fixa, como os prefixados, mas também outros tipos de títulos, como o IPCA +.

Sumário

O que é marcação a mercado?

A marcação a mercado é o efeito em determinados ativos financeiros que consiste em atualizar o valor dos ativos com base no preço de mercado atual. Essa atualização é diária e reflete o preço em que estão sendo negociados os ativos no mercado.

Neste processo de atualização, são consideradas as condições do mercado como a taxa de juros, a curva de juros futura, oferta e demanda pelos títulos e liquidez do ativo.

Qual o principal objetivo na marcação a mercado?

O principal objetivo da marcação a mercado é que o preço do título reflita diariamente o valor atualizado que está sendo negociado no mercado. Com ela, é possível que o investidor tenha clareza do quanto receberia caso realizasse uma venda do seu título antes do vencimento. 

Como funciona a marcação a mercado?

A marcação a mercado para um título prefixado funciona da seguinte forma: imagine que um investidor compra um título de renda fixa que possui um valor final de R$ 1.000,00 (valor de face) e que esse título tem uma taxa de juros prefixada de 10% ao ano e um prazo de dez anos.

Para saber o preço do título neste momento é necessário trazer o valor de R$ 1.000,00 ao valor presente utilizando a taxa de juros de 10% e o prazo de 10 anos. Neste exemplo, o título prefixado custaria R$ 385,54.

No entanto, essa taxa de juros não será estática por 10 anos porque há movimentações constantes no mercado, como alterações de expectativas, recessão, taxa Selic, entre outros.

Marcação a mercado na prática

Dessa forma, se a taxa de juros do mercado aumentar para 15% ao ano no ano seguinte, o preço desse título no mercado cairá para R$ 284,26. A reprecificação ocorre, pois a taxa de juros prefixada de 10% ao ano se tornará menos atrativa em comparação a outros títulos disponíveis no mercado.

Nesse caso, o valor do título na carteira do investidor também será atualizado para refletir essa queda de preço. A partir de então, ele começará a render 15%, porque a taxa foi precificada novamente.

Por outro lado, se ao invés de subir para 15%, a taxa de juros do mercado cair para 8% no ano seguinte, o valor do seu título subirá para R$ 500,25, pois ele passará a ser mais atrativo em comparação com outros títulos disponíveis no mercado. Dessa forma, caso o investidor realize uma venda antecipada, ele embolsaria ganhos com a marcação a mercado.

É válido ressaltar, que a marcação a mercado só terá efeitos reais caso seja executada a venda antecipada. Se o investidor levar o título a vencimento, seu rendimento será o mesmo contratado na compra (no exemplo: 10% a.a.), independentemente se os valores subirem ou caírem ao longo dos anos investidos. 

No entanto, quem souber usar a marcação a mercado pode fazer o resgate com antecedência e lucrar com as oscilações.

Quais investimentos de renda fixa sofrem marcação a mercado?

  • Títulos Públicos Federais: Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA +  
  • Títulos de Crédito Privado: CRI, CRA e Debêntures

Marcação a mercado Renda Fixa

A marcação a mercado afeta diretamente o valor dos títulos de renda fixa citados acima quando estes possuem remuneração prefixada ou atrelada à inflação. Esses dois tipos de remuneração estão mais suscetíveis aos movimentos de marcação por remunerar conforme a curva de juros do mercado, a qual é diretamente afetada pelas condições e expectativas de mercado. 

Quanto mais longo o prazo de vencimento (e maior a duration do título), maiores serão as incertezas das expectativas do mercado e, portanto, mais voláteis serão os preços destes ativos na marcação a mercado.

Marcação a mercado Tesouro Direto

No Tesouro Direto, os títulos prefixados e indexados à inflação (Tesouro IPCA +) são os títulos que passam pela marcação a mercado. 

De forma prática, caso as taxas negociadas do Tesouro Prefixado ou Tesouro IPCA + passem a ser maiores do que a taxa adquirida pelo investidor, este aumento se traduzirá em um menor preço do título e, portanto, em uma marcação negativa para o investidor que já está com papel em mãos. Caso o investidor deseje resgatar o valor investido, ele terá em mão menos dinheiro do que investido e estará realizando o prejuízo de marcação.  

Por outro lado, caso as taxas negociadas no site do Tesouro passem a ser menores do que a taxa adquirida pelo investidor, esta redução se traduz em um aumento do preço que o título será negociado e, portanto, reflete uma marcação positiva para o papel. Ou seja, neste caso, o investidor poderá solicitar resgate do seu título e o Tesouro irá recomprá-lo por um preço maior do que o preço pago, traduzindo-se em um ganho de rentabilidade.  

Marcação a mercado Crédito Privado

A dinâmica da marcação segue a mesma nos títulos de crédito privado (CRIs, CRAs e Debêntures) prefixados e atrelados à inflação. Se o ativo estiver sendo negociado a taxas maiores do que aquela adquirida pelo investidor, o preço do título (PU) será menor e, portanto, o investidor estará diante de uma marcação negativa. 

Da mesma forma, caso a taxa seja menor, o PU será maior e o investidor poderá vender o título por um valor maior do que pagou e embolsará ganhos com a marcação.

A principal diferença entre a marcação com títulos do Tesouro e com títulos de crédito privado é a liquidez. No Tesouro Direto a liquidez é diária, ou seja, o investidor pode solicitar resgate a qualquer dia e terá o dinheiro na conta em até 1 dia útil

No caso dos créditos privados, para realizar uma venda antecipada o investidor terá de oferecer seu título no mercado secundário e dependerá de encontrar um comprador interessado em seu título na taxa oferecida. Neste momento, a corretora também pode cobrar um spread pela transação, reduzindo a rentabilidade final do investidor. 

Portanto, para utilizar os créditos privados como mecanismo de marcação a mercado é necessário estar atento às taxas que estão sendo oferecidas no momento da compra, que devem ser superiores aos rendimentos oferecidos pelo Tesouro Direto, para além da isenção de imposto e conforme o risco de cada empresa devedora.  

Qual a melhor aplicação do Tesouro Direto para fazer marcação a mercado?

A melhor aplicação dependerá da visão de cenário macroeconômico e do perfil de risco do investidor. 

O título prefixado não possui proteção contra a inflação e é mais sensível a oscilações no mercado advindas de risco fiscal. Enquanto o Tesouro IPCA + permite a marcação a mercado e protege o investimento da inflação. 

Para escolher um ou outro, o investidor deve observar a inflação implícita (inflação média esperada pelo mercado de hoje ao vencimento do título, observada pela diferença entre a taxa de juros nominal e taxa de juros real). Este valor pode ser consultado na Curva de Juros disponível no site da Anbima.

Em cenários de queda de juros com perspectivas de inflação controlada, abaixo da inflação implícita, os prefixados seriam boas aplicações. Enquanto em cenário de queda de juros com incertezas quanto à trajetória de inflação e riscos de elevação acima da inflação implícita, o Tesouro IPCA + seria mais adequado.

Marcação a mercado Tesouro IPCA

Assim como os títulos prefixados, os títulos IPCA + também sofrem impacto da marcação a mercado. A diferença é que as contas são feitas com juro real, e não juro nominal.

A marcação a mercado dos títulos IPCA+ também é realizada com base na variação da taxa de juros de mercado, sendo a taxa utilizada pelos investidores para descontar os fluxos de caixa futuros dos títulos.

Quando a taxa de juros de mercado sobe, o preço dos títulos IPCA + tende a cair, e quando a taxa de juros de mercado cai, o preço dos títulos IPCA + tende a subir.

Exemplo prático

Suponha que um investidor tenha comprado um título IPCA + com vencimento em 2030, com taxa de juros de 4% ao ano mais a variação do IPCA. Se a taxa de juros do mercado subir para 5% ao ano, o preço do título IPCA + cairá.

Por outro lado, se a taxa de juros de mercado cair para 3% ao ano, o valor do título IPCA + subirá e o investidor poderá colher ganhos com a marcação a mercado.

Como ganhar com a marcação a mercado?

Investidores utilizam a marcação a mercado para obter lucro ao investir em títulos de renda fixa. Eles compram títulos prefixados ou indexados à inflação quando a taxa de juros está alta e acreditam que as taxas de juros do mercado vão cair.

Isso porque se as taxas caírem, eles ganham um lucro maior que o esperado. Então, quando há perspectiva das taxas de juros começarem a subir, eles vendem os títulos com taxa de juros ainda em baixa.

Dessa forma, eles conseguem obter um lucro significativo com a diferença entre o valor de compra e o valor de venda do título.

Compra de títulos prefixados quando a taxa de juros está alta

Quando a taxa de juros está alta, mas com perspectivas de queda, os títulos prefixados são mais atrativos para os investidores porque oferecem uma rentabilidade maior.

Nesse cenário, os investidores profissionais compram esses títulos porque sabem que, quando a taxa de juros cair, o valor desses títulos vai aumentar.

Venda de títulos prefixados quando a taxa de juros está baixa

Por outro lado, quando a taxa de juros cai e tem tendência de alta, esses títulos perdem atratividade, pois passarão a oferecer uma rentabilidade menor.

Nesse cenário, os investidores profissionais vendem esses títulos porque sabem que, quando a taxa de juros subir, o valor desses títulos vai diminuir.

Então ele poderá reinvestir o dinheiro em outro título de renda fixa com uma taxa de juros mais alta, aproveitando a oportunidade para aumentar ainda mais seus lucros.

Por que verificar se os bancos e corretoras estão marcando os títulos a mercado?

É importante que os investidores verifiquem se os bancos e corretoras estão marcando os títulos a mercado, pois isso pode afetar significativamente o valor dos títulos de renda fixa.

Para fazer essa verificação, o investidor pode consultar o extrato da sua conta de investimentos. Nesse extrato, deve constar o valor de mercado dos títulos de renda fixa, sendo o valor atualizado segundo a marcação a mercado.

Caso o valor de mercado não esteja sendo informado, é importante entrar em contato com a instituição financeira para esclarecer a situação. Isso porque o investidor corre o risco de tomar decisões de investimento com base em informações incorretas.

Lembrando que, atualmente, os bancos e corretoras são obrigados a marcar os títulos de clientes de pessoa física a mercado, segundo nova normativa do Conselho Monetário Nacional (CMN) e pelo Banco Central do Brasil.

Por que títulos prefixados não são adequados para reserva de emergência?

Os títulos prefixados são uma opção popular para investidores que desejam obter uma renda fixa garantida. No entanto, eles não são adequados para serem usados como reserva de emergência. Isso ocorre porque, em caso de necessidade de resgate antecipado, o investidor pode perder dinheiro.

Quando um investidor compra um título prefixado, ele concorda em receber uma taxa de juros fixa durante um determinado período. Porém, como explicamos acima, essa taxa é volátil e muda ao longo do tempo.

Sendo assim, se o investidor precisar resgatar o título antes do vencimento, ele pode receber um valor menor do que o valor investido, dependendo das condições de mercado no momento do resgate.

Por isso, os títulos prefixados devem ser usados se o investidor deseja esperar o vencimento, para ter o lucro acordado. Ou se ele for usar a marcação de mercado a seu favor e maximizar os lucros, sabendo vender na hora certa.

Conclusão

Neste artigo, discutimos a importância de entender a marcação a mercado ao investir em títulos de renda fixa. Vimos que a marcação a mercado é o processo de avaliar o valor de um título com base no preço atual de mercado e que isso pode afetar significativamente o valor dos títulos de renda fixa em uma venda antecipada.

Também aprendemos como investidores profissionais usam a marcação a mercado a seu favor, comprando títulos prefixados ou indexados à inflação quando a taxa de juros está alta, mas com tendência de queda e vendendo quando a taxa de juros está baixa, com tendência de alta.

Por fim, encorajamos os leitores a buscar mais informações sobre o assunto, a fim de tomar decisões de investimento mais informadas e conscientes. É importante lembrar que investir em títulos de renda fixa pode ser uma estratégia de investimento sólida, mas é crucial entender como a marcação a mercado afeta esses títulos para tomar decisões de investimento bem-sucedidas.