O ano de 2023 se encerra hoje e não poderíamos deixar de comentar sobre o que aconteceu de mais relevante em nosso mercado e quais foram as ações que melhor e pior performaram no período. 

Sim, eu sei que muitos não aguentam mais acompanhar retrospectivas na TV e outros só estão esperando chegar o horário do sorteio da Mega para saber onde investirão seus milhões em 2024. 

Prometo que tentarei ser o mais breve possível em meus comentários. 

Os últimos 12 meses

Após 3 anos extremamente desafiadores, os investidores de bolsa no Brasil finalmente voltaram a sorrir em 2023. O Ibov encerrou o ano em alta de +22%, enquanto o SMLL subiu +17% no período.

II Fonte: Bloomberg

O ano até começou com inúmeras incertezas relacionadas às medidas que poderiam ser adotadas pelo atual governo em termos de gastos e arrecadação e, principalmente, quais seriam os impactos dessas medidas na inflação e nos juros do país. 

Porém, com o Banco Central controlando as pressões inflacionárias por meio de sua política monetária e com a aprovação do novo arcabouço fiscal (não era mil maravilhas, mas evitaria um desastre econômico), as perspectivas se tornaram mais positivas.

O combo composto por controle de inflação e menores riscos fiscais fez com que o BC começasse a analisar o início de um possível ciclo de cortes na Selic – que, de fato, viria a acontecer no mês de agosto.

Contudo, mesmo que a taxa de juros seja a mãe da bolsa de valores, o mercado foca suas atenções nos juros futuros, e não necessariamente nas decisões que são tomadas a cada 45 dias pelo Banco Central. 

Com maior visibilidade de cortes na Selic adiante, os investidores passaram a precificar a queda dos juros já no mês de março, acionando o principal gatilho para a bolsa de valores, que reagiu imediatamente de forma positiva.

II Fonte: Bloomberg

Os juros futuros até voltaram a subir entre julho e setembro, porém, com tons mais suaves dos bancos centrais brasileiro e americano, logo voltaram a cair e assim permaneceram até o fim do ano, garantindo mais um rali para a bolsa.

Nos EUA, impulsionada pelo boom da inteligência artificial e um melhor cenário também para os juros americanos, a bolsa de lá também apresentou um comportamento positivo, com o S&P 500 subindo +24%, contrariando os argumentos de estar “cara demais”.

II Fonte: Bloomberg

Como de costume, a nossa bolsa também foi impulsionada pela americana, que contribuiu para que o Ibov encerrasse 2023 em sua máxima histórica, em 134 mil pontos. 

No ano, tivemos 3 ações do índice saltando mais de +100%, enquanto 2 sofreram quedas além dos -80%. Confira, a seguir, quais foram os principais destaques positivos e negativos de 2023.

Top 5 maiores altas

II Fonte: Bloomberg

1. Yduqs (YDUQ3) +123%

Puxando a lista de maiores altas de 2023, está o grupo educacional Yduqs, que deu uma aula (literalmente) no período e viu suas ações subirem +123%. O movimento é ainda mais emblemático tendo em vista que, até o mês de março, os papéis da empresa estavam acumulando baixa de cerca de -30%.

Porém, a Yduqs conseguiu dar a volta por cima após divulgar um excelente resultado no 1T23, com seu lucro líquido subindo quase +100%, além da elevação na recomendação de seus papéis por alguns bancos durante o ano, fazendo com que subissem +73% e +41% em maio e junho, respectivamente. No momento, não temos posição em nenhuma empresa do setor, mas seguiremos atentos a possíveis oportunidades.

2. CSN Mineração (CMIN3) +119%

A medalha de prata do Ibovespa em 2023 vai para a CSN Mineração, que também apresentou evolução em seus resultados ao longo dos últimos trimestres e continuou investindo em aumento de produção. Além disso, suas ações surfaram o rali do preço do minério de ferro, que teve alta de quase +40% entre agosto e dezembro.

3. Ultrapar (UGPA3) +115%

Em terceiro lugar, está a Ultrapar, que passa por processo de turnaround desde 2021, principalmente para recuperar a eficiência em sua rede de distribuição de combustíveis Ipiranga. A companhia já vem conseguindo colher bons frutos em sua estratégia, com melhorias operacionais também em suas outras duas marcas: Ultragaz e Ultracargo. 

Com operações mais rentáveis e alavancagem financeira mais confortável, a Ultrapar vem conseguindo entregar bons resultados, como no 3T23, em que seu lucro se multiplicou por quase 12x. Hoje, negociando a 8x Ebitda, seguimos com nossa preferência por Vibra (VBBR3), que possui maior visibilidade de crescimento e de pagamento de dividendos. 

4. Petrobras (PETR4) +95%

Uma das queridinhas dos investidores brasileiros, a Petrobras não ficou de fora da lista de maiores altas do ano. A petroleira estatal conseguiu driblar as dúvidas relacionadas à nova gestão e as oscilações do preço do barril do petróleo para quase dobrar seu valor de mercado, devido, principalmente, à manutenção de sua elevada distribuição de dividendos e aos seus baixos múltiplos no início do ano (cerca de 2x Ebitda). 

Apesar dos dois fatores mencionados acima, acreditamos que os resultados da Petrobras ainda são extremamente dependentes de sua commodity e do dólar. Para 2024, preferimos outras empresas do setor, como Prio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3).

5. Cyrela (CYRE3) +93%

Por fim, mas não menos importante, a Cyrela fechou o Top 5 de maiores altas do Ibovespa no ano. A maior construtora do Brasil foi beneficiada diretamente pelos juros em baixa, que vinham pressionando fortemente seus resultados e ações desde 2021. 

Os resultados entregues durante o ano também credenciaram a companhia como a favorita de seu setor por diversos bancos, contribuindo para o movimento positivo de mais de +90% no acumulado de 2023. Nossa preferência entre as construtoras brasileiras, porém, vai para uma de suas “filhas”: a Lavvi (LAVV3), voltada para o segmento de alta renda, que negocia a apenas 7x lucros para 2024 e que também paga ótimos dividendos. 

Top 5 maiores baixas

II Fonte: Bloomberg

1. Americanas (AMER3) -90%

Sim, eu sei, a Americanas já não compõe mais o Ibovespa desde o início do ano, mas não poderíamos deixá-la de fora da lista, tendo em vista tudo o que aconteceu em 2023 – um período para ser esquecido por seus acionistas, credores e funcionários. 

As ações fecharam o ano em queda de -90% (-77% em apenas 1 dia) após a descoberta, logo em janeiro, de uma fraude contábil de mais de R$ 25 bilhões. Além disso, a varejista revisou seus números de 2021 e 2022, revertendo os lucros apresentados nos períodos para prejuízos de R$ 6 bilhões e R$ 13 bilhões, respectivamente.

A companhia aprovou recentemente sua recuperação judicial com a aprovação de 90% de seus credores e uma grande injeção de capital por parte dos acionistas de referência. Os planos de reverter a situação, porém, são extremamente ousados, já que seu objetivo é de ser caixa líquido (mais caixa do que dívida) e ter um Ebitda de mais de R$ 1,5 bilhão (hoje é negativo) até 2025. 

A empresa terá que trabalhar duramente para provar sua capacidade operacional e financeira e retomar a confiança do mercado. No momento, ficamos bem longe de AMER3.

2. Casas Bahia (BHIA3) -81%

Outra varejista a compor a lista de maiores quedas de 2023 é a Casas Bahia (antiga Via), que seguiu acumulando prejuízos em seus resultados trimestrais e, para completar, anunciou um follow-on para sustentar seu plano de transformação nos próximos anos. Mas além do fator diluição de seus acionistas, captou bem menos do que esperava inicialmente. Por ora, BHIA3 é mais uma que olharemos apenas de fora. 

3. Minerva (BEEF3) -39%

A medalha de bronze vai para a única empresa fora do varejo na lista: a Minerva. A queda de quase -40% em seus papéis em 2023 reflete um cenário externo mais desafiador, com a demanda chinesa ainda pressionada (representa 30% da receita do frigorífico).

Além disso, a companhia anunciou a aquisição das plantas da Marfrig na América do Sul, que trará um aumento momentâneo em sua alavancagem, preocupando os investidores quanto à sua distribuição de dividendos daqui para a frente. A compra, porém, aumentará sua capacidade produtiva e seus resultados e, aproveitando um ciclo positivo do gado no Brasil (menores custos), seguimos confiantes em uma recuperação de BEEF3.

4. Petz (PETZ3) -37%

Voltando para o varejo, a Petz ficou em quarto lugar da lista de maiores quedas do ano, tendo sido impactada, principalmente, pelo cenário de juros e inflação pressionando a renda disponível da população e, consequentemente, seu consumo. 

Entretanto, a companhia deverá continuar investindo na expansão do número de suas lojas e em franquias de sua marca Zee.Dog para seguir ganhando market share no mercado pet brasileiro (85% ainda estão na mão de pequenos e médios pet shops). Ainda, existem rumores de uma possível fusão com a Cobasi, que pode ajudar a destravar mais valor na tese. Assim, PETZ3 é mais uma em que seguimos comprados. 

5. Alpargatas (ALPA4) -33%

Assim como Petz, a Alpargatas foi mais uma a ver seus resultados serem impactados pelo cenário macroeconômico atual. Com algumas decepções e prejuízos registrados em suas divulgações trimestrais, as ações da companhia apenas acompanharam a trajetória natural de seus resultados. ALPA4 fechou a lista de maiores baixas do ano, tendo perdido ⅓ de seu valor de mercado no período.

Os próximos 12 meses

Após a bolsa atingir sua máxima histórica em pontos, muitos investidores questionam se agora ela está cara ou se ainda existem boas oportunidades.

A verdade é que, definitivamente, ainda estamos falando de uma bolsa barata. 

O Ibov fechou o ano negociando a cerca de 6x Ebitda e a 9x lucros – ou seja, ainda distante de sua média histórica (EV/Ebitda de 9x e P/L de 15x).

Além disso, quando dolarizamos o Ibov, é possível ver que o índice continua bem longe de seu topo histórico, que foi alcançado no início de 2008. Para retomar os mesmos patamares, o Ibov ainda teria que subir +62%.

II Fonte: Bloomberg

Então, sim, mesmo com a bolsa “nas máximas”, ainda vemos grandes oportunidades – principalmente para as Small Caps, que estão só no começo de um movimento de recuperação e seguem negociando muito próximas aos seus menores múltiplos históricos.

Outro ponto importante a ser comentado é que, além de um cenário de continuidade do ciclo de queda dos juros, a bolsa brasileira pode ser impulsionada pelo fluxo gringo (que já está entrando) e pela volta, finalmente, de fundos locais para os ativos de risco.

II Fonte: Bloomberg

2024 tem tudo para ser mais um bom ano para nós, investidores brasileiros.

É claro, porém, que estamos falando de Brasil, o que quer dizer que sempre dependemos da colaboração de fatores externos no curto prazo, como decisões a serem tomadas pelo atual governo e quais serão suas implicações diretas.

Entretanto, aqui na Nord, seguiremos com a mesma estratégia de sempre: investir em empresas que dependem o menos possível de cenário e ciclos, focando nossas atenções única e exclusivamente em seus resultados.

Lembre-se: no longo prazo, as ações seguem os resultados das empresas. 

Não invista sozinho em 2024. 

Desejo que o ano que está começando seja ainda melhor que 2023 para sua vida e para seus investimentos!

Conte sempre conosco!