Mais de dois anos se passaram desde o último IPO da bolsa brasileira, a B3. Nesse período, diversos fatores, principalmente macroeconômicos, contribuíram para que a “seca” se estendesse.

Agora, a pergunta que não quer calar é: será que 2024 pode ser o ano da volta dos IPOs no país?

Antes de responder, vale a pena lembrar, rapidamente, o que é um IPO e os motivos que levam uma companhia a entrar na bolsa de valores.

O que é um IPO?

O termo IPO vem do inglês como uma sigla para a expressão Initial Public Offering, que, em tradução livre, significa Oferta Pública Inicial.

Trata-se de um processo de abertura de capital de uma empresa para a venda de ações pela primeira vez. Por ser algo inédito, isso significa que a companhia, até então, atuava com capital fechado, sem a possibilidade de negociação de seus papéis em bolsa.

Para o IPO acontecer, a organização precisa efetuar a venda de parte de seu negócio, mudando sua composição societária. Isso é necessário para ser possível aceitar que investidores entrem no empreendimento.

Geralmente, a decisão das empresas de realizar IPO é motivada pela pretensão de captar mais recursos para financiar projetos que possibilitem a evolução do negócio.

Assim, os sócios da companhia abdicam de uma parte do seu capital social para aumentar a arrecadação e possibilitar a execução de novas propostas — “troca” que pode ser extremamente vantajosa financeiramente.

Mesmo sendo detentora de uma porcentagem menor da empresa, caso os recursos captados sejam utilizados de maneira bem-sucedida, a organização tende a se valorizar, assim como suas ações. 

Desempenho dos últimos IPOs

O último IPO registrado na bolsa brasileira aconteceu em setembro de 2021 pela empresa Vittia (VITT3). No total, foram 42 novos entrantes registrados no mesmo ano. 

2021, inclusive, foi marcado pelo recorde em captação em IPOs no nosso mercado, com cerca de R$ 65 bilhões injetados nos caixas das 42 companhias.

Contudo, o desempenho das ações da maioria dessas empresas não é nada satisfatório para seus acionistas, principalmente por pressões externas, mas também pela falta de bons resultados apresentados por elas.

Das 42, apenas 7 delas viram suas ações se valorizarem desde a estreia na bolsa de valores — ou seja, menos de 20% dos IPOs de 2021 foram positivos até aqui. 

Entre as altas, o grande destaque vai para a Orizon (ORVR3), com alta de +65,6%. Já entre as baixas, vemos quedas que vão desde -3,3% da Boa Safra (SOJA3) até -94,7% da EspaçoLaser (ESPA3) — o famoso “IPO cabeludo”. 

EmpresaTickerData do IPOVariação (%)
EspaçoLaserESPA329/01/21-94,7%
DotzDOTZ328/05/21-93,7
TCTRAD327/07/21-93,5
MoblyMBLY304/02/21-92,5
InfracommerceIFCM303/05/21-88,4
WestwingWEST310/02/21-88,2
ClearsaleCLSA329/07/21-87,6
Kora SaúdeKRSA312/08/21-84,2
Multilaser MLSA321/07/21-84,1
LivetechLVTC323/07/21-83,7
BrisanetBRIT328/07/21-76,4
G2D InvestmentsG2DI3314/05/21-76,1
GetNinjasNINJ314/05/21-73,6
HBR RealtyHBRE322/01/21-67,0
Cruzeiro do SulCSED310/02/21-64,0
BlauBLAU316/04/21-63,9
AgrogalaxyAGXY323/07/21-62,4
CBACBAV314/07/21-57,3
UnifiqueFIQE326/07/21-55,9
AlliedALLD309/04/21-53,1
Mater DeiMATD315/04/21-51,5
ViveoVVEO306/08/21-46,0
OceanpactOCPT311/02/21-43,9
RaízenRAIZ404/08/21-43,1
BemobiBMOB309/02/21-42,1
DesktopDESK320/07/21-42,0
OncoclínicasONCO309/08/21-34,1
ArmacARML327/07/21-30,2
BR PartnersBRBI1118/06/21-25,8
Smart FitSMFT313/07/21-22,3
EletromidiaELMD312/02/21-13,3
CSN MineraçãoCMIN317/02/21-13,1
Jalles MachadoJALL305/02/21-9,0
3tentosTTEN308/07/21-6,7
Boa SafraSOJA328/04/21-3,3
VittiaVITT301/09/214,2
Intelbras INTB303/02/214,4
VamosVAMO328/01/2127,9
Caixa SeguridadeCXSE328/04/2129,9
PetroReconcavoRECV304/05/2129,9
GPSGGPS323/04/2146,9
OrizonORVR312/02/2165,6

O desempenho da maioria dos IPOs reforça a importância de analisar cuidadosamente as empresas antes de investir, principalmente aquelas que estão entrando na bolsa, que normalmente possuem menos registros de resultados e informações relevantes para embasar a confiança de futuros acionistas.

Além disso, muitas delas se aproveitaram de um momento favorável (juros nas mínimas e bolsa nas máximas) para estrear suas ações com preços (bem) elevados — que, posteriormente, acabaram convergindo para valores mais próximos de suas realidades. 

Antes de entrar em um IPO, saiba o máximo possível sobre a companhia e se o preço inicial das ações está de acordo com seus fundamentos e perspectivas futuras. Esse é apenas um conselho para não entrar em furadas nas ofertas que estão por vir.

2024 será o ano da volta dos IPOs?

Após um longo período de “vacas magras” na bolsa brasileira, ao que tudo indica, estamos cada vez mais perto da volta dos IPOs no país.

Como mencionado acima, a temporada de 2021 foi impulsionada por um cenário pertinente para novas ofertas. Após esse período, porém, o jogo virou, com os juros em alta e a bolsa em baixa contribuindo para a maior “seca” de IPOs dos últimos 25 anos

Desempenho do IBOV versus taxa Selic nos últimos cinco anos.
 Fonte: Bloomberg

Agora, em 2024, com a bolsa voltando para seus maiores patamares (em pontos) e com projeção de Selic a 9% ao final do ano, voltamos a ter um momento favorável

A tendência é que vejamos, já no 2° trimestre, a abertura da janela de IPOs de 2024 — sustentado, também, pela manutenção de investimentos estrangeiros no país. O grande volume de novos entrantes, porém, deverá ser visto no 2° semestre do ano.

Alguns bancos, inclusive, começaram a projetar o volume de captação dessa janela, com números que vão de R$ 70 bilhões até R$ 120 bilhões somente para o ano atual. Ou seja, além da volta de IPOs, 2024 também seria marcado pelo recorde de captação de recursos.

Manchete do Valor diz 'Com volta de IPOs, ofertas de ações têm potencial de R$ 70 bilhões'.
 Fonte: Valor Econômico

O BTG, por exemplo, possui uma lista com mais de 300 IPOs para serem feitos e 30 que têm o perfil para reabrir mercado. No entanto, o banco enxerga ambiente para “apenas” 20 estreias ao longo do ano.

Em meio às projeções, muitas companhias já começam a ser especuladas como potenciais estreantes em nosso mercado — em especial, empresas já consolidadas em seus segmentos, como a Votorantim Cimentos, a farmacêutica Cimed e as incorporadoras Vitacon e Pacaembu. 

O setor de incorporação, inclusive, deverá ser um dos destaques entre os IPOs, já que muitas companhias buscarão surfar o ciclo de queda dos juros (fundamental para a retomada do consumo) e as melhorias do programa Minha Casa Minha Vida

Independentemente do setor, a verdade é que o cenário hoje é muito mais favorável e o caminho está sendo construído para a volta dos IPOs nos próximos meses.

Vale a pena entrar em um IPO?

Mas será que faz sentido entrar em algum(ns) desses IPOs na janela que se aproxima?

Bom, como dito anteriormente, tudo depende de fundamento e preço. Caso existam empresas com bons resultados, visibilidade futura e que estejam sendo precificadas adequadamente, poderemos analisar possíveis oportunidades. 

O que importa é que, seja qual for a companhia que esteja abrindo capital, estaremos atentos e trazendo todos os detalhes por aqui. 

Mesmo que muitos IPOs apresentem desempenho positivo nos primeiros dias, nunca participaremos de ofertas para nos beneficiarmos dessa tendência. Nosso foco está sempre no longo prazo. Cotações seguem resultados no longo prazo. 

Além disso, mesmo pensando a longo prazo, as novas estreantes também precisarão ser melhores do que as oportunidades que já temos hoje. Vale lembrar que a bolsa ainda está barata, negociando a múltiplos distantes de suas médias históricas.

Poderemos ver, sim, novas Vamos (VAMO3) nas carteiras da Nord Investimentos. Elas só precisam ser melhores ou, no mínimo, semelhantes às empresas que estamos posicionados no momento. 

Sendo assim, além de toda a cautela usual, os novos IPOs terão que compensar muito para que recomendemos a entrada. 

No momento, seguiremos aguardando a tão esperada janela de 2024.

Assim que surgirem novidades, voltaremos por aqui